Miramez
− Como pode o Espírito, que, em sua origem, é simples,
ignorante e carecido de experiência, escolher uma existência com conhecimento
de causa e ser responsável por essa escolha?
Deus lhe supre a inexperiência, traçando-lhe o caminho
que deve seguir, como fazeis com a criancinha. Deixa-o, porém, pouco a pouco, à
medida que o seu livre-arbítrio se desenvolve, senhor de proceder à escolha e
só então é que muitas vezes lhe acontece extraviar-se, tomando o mau caminho,
por desatender os conselhos dos bons Espíritos. A isso é que se pode chamar a
queda do homem.
− Quando o Espírito goza do livre-arbítrio, a escolha da
existência corporal dependerá sempre exclusivamente de sua vontade, ou essa
existência lhe pode ser imposta, como expiação, pela vontade de Deus?
Deus sabe esperar, não apressa a expiação. Todavia,
pode impor certa existência a um Espírito, quando este, pela sua inferioridade
ou má-vontade, não se mostra apto a compreender o que lhe seria mais útil, e
quando vê que tal existência servirá para a purificação e o progresso do
Espírito, ao mesmo tempo que lhe sirva de expiação.
Questão 262 / O Livro dos Espíritos
O Espírito na sua origem é
simples e ignorante, contudo, ele tem a devida assistência na sua jornada
inicial. Ele é guiado por benfeitores espirituais que o conduzem pelos fios do
instinto, com toda a segurança. Ele, nesse estado d'alma, ainda não sabe cuidar
da sua própria evolução. O seu despertamento vem pelas vias naturais, na
gradação que o progresso pode dar, onde não participa seu esforço próprio, por
não ter conhecimento da sua tarefa na Terra, a não ser pela intuição das leis
que dormem no fundo da sua consciência, forças essas que despertam com o
perpassar do tempo.
Ao raiar dos primeiros sinais de
individualidade, o Espírito passa a escolher o que mais lhe convém, sem
raciocinar no que poderá acontecer. As facilidades levam-no ao orgulho e ao
egoísmo, e a violência cresce pelo poder da razão. Assim, o instinto que antes
servir-lhe-ia de guia, se atrofia na sua origem.
É bom que não acreditemos que
foi culpa da própria alma, ao escolher os caminhos que se tornarão em carma, em
faltas que atraem reações compatíveis com o que foi feito. São processos
criados por Deus, para educar todos os Seus filhos. Eis porque todos passamos
por esses meios, e deles tiramos muito proveito no desenrolar do tempo, sob a
elasticidade do espaço.
Muitos espiritualistas e
espíritas custam a entender o que é livre-arbítrio. Basta pensar que Deus é
onisciente e que, quando fez o Espírito, sabia desses caminhos que ele, na sua
origem, deveria percorrer. Ele deixa a alma tomar esses roteiros por saber que
são os melhores para o seu engrandecimento espiritual.
Como discutir com o Senhor? Ele
não pede opinião aos homens, nem mesmo aos anjos para fazer as Suas leis. Ainda
existem muitos segredos nas origens da alma, que no amanhã todos iremos saber.
O conhecimento é gradativo. A criança se alimenta de leite materno, e o adulto
de alimentos mais grosseiros; assim são os Espíritos, assim é a lei.
Todo livre-arbítrio é inspirado
nas leis universais. Daí, se pode deduzir que somente Deus comanda tudo, desde
a matéria primitiva na candura da sua origem, até à Sua corte celestial. A
liberdade que cresce com o crescimento espiritual somente não sofre interferência
quando tudo se encontra na harmonia, que corresponde às nossas necessidades. O
Espírito foi feito simples e ignorante, mas, por dentro, carrega consigo, como
tesouro divino, a vontade de Deus.
Podemos dizer que tudo que
ocorre com o Espírito são processos de despertamento espiritual, de modo a
levá-lo a conhecer a verdade. O Senhor Supremo nunca Se esquece de Seus filhos
em todas as circunstâncias, e ainda nos ensina a nos ocuparmos de nós mesmos. O
bem que fazemos a nós e aos outros verte de leis naturais e se afina com a
consciência, de modo a nela permanecer para a eternidade. O mal nos incomoda;
por isso deve sair de dentro de nós, cedendo lugar ao amor e à caridade. O óleo
não se mistura com água.
Jesus Cristo, devemos dizer
sempre com alegria, foi a misericórdia de Deus para a humanidade, que veio nos
ensinar a acelerar nosso crescimento e nos tornar livres, mais depressa, das
paixões inferiores e, com isso, saber tomar as decisões acertadas em todos os
caminhos que nos compete trilhar.
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