Allan Kardec
Dissertação Moral
ditada por São Luís à Senhorita Hermance Dufaux[2]
(5 de maio de 1858)
I
Um homem saiu muito cedo e foi à
praça para contratar trabalhadores. Ora, ali viu dois homens do povo que
estavam sentados e de braços cruzados. Foi a um deles e o abordou, dizendo:
“Que fazes aqui?” Ao que ele respondeu:
“Não tenho trabalho”; o que
procurava trabalhadores disse, então: “Pega a enxada e vai ao meu campo, na
vertente da colina onde sopra o vento sul; cortarás as urzes e revolverás o
solo até que venha a noite; a tarefa é rude, mas terás um bom salário”. E o homem do povo colocou a enxada no ombro e
agradeceu ao outro de coração.
Ouvindo isso, o outro
trabalhador levantou de seu lugar e aproximou-se, dizendo: “Senhor, deixai
também que eu vá trabalhar em vosso campo”; e tendo dito a ambos que o
seguissem, marchou à frente para mostrar-lhes o caminho. Depois, quando
chegaram à encosta da colina, dividiu o trabalho em dois e se foi.
Logo que partiu, o último dos
trabalhadores contratados pôs fogo no mato da gleba que lhe coube na partilha e
lavrou a terra com a enxada. O suor minava em sua fronte, sob o calor ardente
do sol. Murmurando a princípio, o outro o imitou, mas logo abandonou a tarefa;
fincando a enxada no chão, sentou-se ao lado, olhando o trabalho que seu
companheiro fazia.
Ora, no início da noite o dono
do campo veio examinar o trabalho que havia sido realizado; chamando o
trabalhador diligente, cumprimentou-o, dizendo: “Trabalhaste bem; eis o teu
salário”; e o despediu, após dar-lhe uma moeda de prata. O outro também se
aproximou, reclamando o valor de seu salário; mas o dono lhe disse: “Mau
trabalhador, meu pão não saciará tua fome, porque deixaste inculta a parte do
campo que te foi confiada; não é justo que aquele que nada fez seja
recompensado como o que trabalhou bem”. E o despediu, sem dar-lhe nada.
II
Eu vos digo que a força não foi
dada ao homem, nem a inteligência ao seu espírito para consumir os dias na
ociosidade, mas para ser útil aos semelhantes. Ora, aquele cujas mãos estiverem
desocupadas e o espírito ocioso será punido e deverá recomeçar sua tarefa.
Em verdade vos digo que sua vida
será posta de lado como uma coisa que a ninguém aproveita, quando seu tempo se
cumprir; compreendei isso como uma comparação. Qual dentre vós, se tiverdes em
vosso pomar uma árvore que não dê bons frutos, não dirá a seu servo: “Cortai
essa árvore e lançai-a no fogo, porque seus ramos são estéreis?” Ora, assim
como tal árvore será cortada por causa de sua esterilidade, a vida do
preguiçoso será posta no refugo, por ter sido estéril em boas obras.
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