terça-feira, 22 de outubro de 2024

MANIFESTAÇÕES NO HOSPITAL DE SAINTES[1]

 

Allan Kardec

 

O jornal Indépendant de la Charente-Inférieure narrava, no mês de março passado, o seguinte fato que teria ocorrido no hospital civil de Saintes:

Contam-se histórias maravilhosas e nesses oito dias não se fala senão dos estranhos ruídos que, todas as noites, ora imitam o trote de um cavalo, ora a marcha de um cachorro ou de um gato. Garrafas colocadas sobre a lareira são lançadas para o outro lado do quarto. Um pacote de trapos velhos foi encontrado, certa manhã, torcido em mil nós, impossíveis de desatar. Um papel, sobre o qual haviam escrito: Que queres? Que pedes?” Foi deixado uma noite sobre a lareira; na manhã do dia seguinte estava escrita a resposta, mas em caracteres desconhecidos e indecifráveis. Fósforos colocados sobre uma mesa, à noite, desapareceram como por encanto; enfim, todos os objetos mudaram de lugar e se espalharam por todos os cantos. Tais sortilégios somente ocorrem na obscuridade da noite. Desde que se faça a luz, tudo volta ao silêncio; apagando-a, os ruídos logo recomeçam. É um Espírito amigo das trevas. Várias pessoas, eclesiásticos, antigos militares deitaram-se nesse quarto enfeitiçado e foi-lhes impossível descobrir alguma coisa ou dar-se conta do que ouviam.

Um empregado do hospital, suspeito de ser o autor dessas travessuras, acaba de ser despedido. Assegura-se, porém, que ele não é o culpado; ao contrário, muitas vezes foi a própria vítima.

Parece que esse caso começou há mais de um mês. Passou-se muito tempo sem que nada fosse dito, cada um desconfiando dos próprios sentidos e temendo ser levado ao ridículo. Somente há alguns dias é que se começou a falar disso.

 

Observação – Ainda não tivemos tempo de nos assegurar da autenticidade dos fatos descritos acima; só os apresentamos com muita reserva; observaremos apenas que, caso tenham sido inventados, nem por isso são menos possíveis e nada apresentam de mais extraordinário que muitos outros do mesmo gênero, e que estão perfeitamente constatados.



[1] REVISTA ESPÍRITA – maio/1858 – Allan Kardec

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