quinta-feira, 26 de setembro de 2024

FINALIDADE DOS PERIGOS[1]

 


Miramez

 

Com que fim nos faz a Providência correr perigos que nenhuma consequência deve ter?

“O fato de ser a tua vida posta em perigo constitui um aviso que tu mesmo desejaste, a fim de te desviares do mal e te tornares melhor. Se escapas desse perigo, quando ainda sob a impressão do risco que correste, de te melhorares, conforme seja mais ou menos forte sobre ti a influência dos Espíritos bons. Sobrevindo o mau Espírito (digo mau, subentendendo o mal que ainda existe nele), entras a pensar que do mesmo modo escaparás a outros perigos e deixas que de novo tuas paixões se desencadeiem. Por meio dos perigos que correis, Deus vos lembra a vossa fraqueza e a fragilidade da vossa existência. Se examinardes a causa e a natureza do perigo, verificareis que, quase sempre, suas consequências teriam sido a punição de uma falta cometida ou da negligência no cumprimento de um dever. Deus, por essa forma, exorta o Espírito a cair em si e a se emendar.”

Questão 855 / O Livro dos Espíritos

 

A humanidade se encontra em perigo constantemente, para que possa aprender a se defender por si mesma. Somente lutando, o soldado torna-se eficiente em novos campos de batalha. O próprio corpo humano, na sua primorosa constituição, nos mostra a variedade de lutas dentro de si, para o seu aperfeiçoamento e sua harmonia. Fora dele é a mesma coisa: a alma está sempre em perigo de todas as ordens e para que possa livrar-se de todos eles, Deus criou as leis que podem lhe servir de defesa em todas essas lutas.

Se o ódio investe contra os corações, a sabedoria espiritual nos inspira para amar aqueles que nos odeiam e caluniam. Se somos feridos em todas as nossas andanças, o nosso dever é perdoar como nos ensinou Jesus, esquecendo todas as faltas, porque desta maneira o ofensor passa a ser nosso amigo. Nesta linha de ação, devemos continuar, pois essa é a defesa do cristão. A mediunidade inspirada no Cristo de Deus oferece muitos meios que podem assegurar a proteção contra todas as investidas das trevas. Não penses, porém, que basta te encontrares com o Evangelho nas mãos; necessário se faz que ele esteja no coração, onde é refletido nos atos de todos os dias, minutos e segundos.

O Espírito deve se encontrar permanentemente vigilante em todos os seus caminhos, mesmo nos pensamentos que surgem em suas mentes. A razão o induz para escolher e alimentar os que forem da ordem que o Evangelho nos inspira. A escolha é nossa. Se existe o Cristo dentro de nós, deixemos que Ele se levante em nossos corações, mas isso somente é feito pela nossa maturidade, pela nossa vontade. Desta forma, teremos toda a segurança, em nos despertando para a vida, conhecendo as leis espirituais. João nos relata desta forma, no capítulo oito, versículo vinte e oito:

Disse-lhes, Jesus:

Quando levantardes o filho do homem, então sabereis quem eu sou, e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou.

O filho do homem, como diz o apóstolo reproduzindo a conversa de Jesus, se levanta sempre dentro e fora de nós, a nos instruir e educar, mas Ele se levanta por muitos meios, e devemos estar preparados para conhecer o despertar na alma. Com que fim, qual é a finalidade de Jesus se expressar nos nossos caminhos internos e externos? É para reconhecermos os nossos deveres ante as nossas promessas, e o Mestre nos faz reconhecer a verdade, conhecendo e amando a Deus em todas as coisas. Aí estão todas as leis e todas as falas dos grandes profetas.

Os perigos que a vida te mostra e que a própria vida te ajuda a te livrares deles, faz a alma meditar nos seus deveres e em todas essas fases o Espírito passa a melhorar, estando em comunhão com os seus deveres, que vibram com mais intensidade na ação do perigo de morte à vista. Se perguntares por que esses meios de aperfeiçoamento das criaturas, digo-te que não sei; só Deus sabe porque achou melhor esse tipo de educação das almas.

Não temos o direito e não podemos julgar as obras do Criador. Apega-te à oração nos momentos da dúvida, que a mente clareará e te sentirás feliz, dentro da felicidade dos que já a alcançaram.



[1] FILOSOFIA ESPÍRITA – Volume 17 – João Nunes Maia

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