Miramez
Com que fim nos faz a Providência correr perigos que
nenhuma consequência deve ter?
“O fato de ser a tua vida posta em perigo constitui um
aviso que tu mesmo desejaste, a fim de te desviares do mal e te tornares
melhor. Se escapas desse perigo, quando ainda sob a impressão do risco que
correste, de te melhorares, conforme seja mais ou menos forte sobre ti a
influência dos Espíritos bons. Sobrevindo o mau Espírito (digo mau,
subentendendo o mal que ainda existe nele), entras a pensar que do mesmo modo
escaparás a outros perigos e deixas que de novo tuas paixões se desencadeiem.
Por meio dos perigos que correis, Deus vos lembra a vossa fraqueza e a
fragilidade da vossa existência. Se examinardes a causa e a natureza do perigo,
verificareis que, quase sempre, suas consequências teriam sido a punição de uma
falta cometida ou da negligência no cumprimento de um dever. Deus, por essa
forma, exorta o Espírito a cair em si e a se emendar.”
Questão 855 / O Livro dos Espíritos
A humanidade se encontra em
perigo constantemente, para que possa aprender a se defender por si mesma.
Somente lutando, o soldado torna-se eficiente em novos campos de batalha. O
próprio corpo humano, na sua primorosa constituição, nos mostra a variedade de
lutas dentro de si, para o seu aperfeiçoamento e sua harmonia. Fora dele é a
mesma coisa: a alma está sempre em perigo de todas as ordens e para que possa
livrar-se de todos eles, Deus criou as leis que podem lhe servir de defesa em
todas essas lutas.
Se o ódio investe contra os
corações, a sabedoria espiritual nos inspira para amar aqueles que nos odeiam e
caluniam. Se somos feridos em todas as nossas andanças, o nosso dever é perdoar
como nos ensinou Jesus, esquecendo todas as faltas, porque desta maneira o
ofensor passa a ser nosso amigo. Nesta linha de ação, devemos continuar, pois
essa é a defesa do cristão. A mediunidade inspirada no Cristo de Deus oferece
muitos meios que podem assegurar a proteção contra todas as investidas das
trevas. Não penses, porém, que basta te encontrares com o Evangelho nas mãos;
necessário se faz que ele esteja no coração, onde é refletido nos atos de todos
os dias, minutos e segundos.
O Espírito deve se encontrar
permanentemente vigilante em todos os seus caminhos, mesmo nos pensamentos que
surgem em suas mentes. A razão o induz para escolher e alimentar os que forem
da ordem que o Evangelho nos inspira. A escolha é nossa. Se existe o Cristo
dentro de nós, deixemos que Ele se levante em nossos corações, mas isso somente
é feito pela nossa maturidade, pela nossa vontade. Desta forma, teremos toda a
segurança, em nos despertando para a vida, conhecendo as leis espirituais. João
nos relata desta forma, no capítulo oito, versículo vinte e oito:
Disse-lhes, Jesus:
Quando levantardes o filho do homem, então sabereis
quem eu sou, e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou.
O filho do homem, como diz o
apóstolo reproduzindo a conversa de Jesus, se levanta sempre dentro e fora de
nós, a nos instruir e educar, mas Ele se levanta por muitos meios, e devemos
estar preparados para conhecer o despertar na alma. Com que fim, qual é a
finalidade de Jesus se expressar nos nossos caminhos internos e externos? É
para reconhecermos os nossos deveres ante as nossas promessas, e o Mestre nos
faz reconhecer a verdade, conhecendo e amando a Deus em todas as coisas. Aí
estão todas as leis e todas as falas dos grandes profetas.
Os perigos que a vida te mostra
e que a própria vida te ajuda a te livrares deles, faz a alma meditar nos seus
deveres e em todas essas fases o Espírito passa a melhorar, estando em comunhão
com os seus deveres, que vibram com mais intensidade na ação do perigo de morte
à vista. Se perguntares por que esses meios de aperfeiçoamento das criaturas,
digo-te que não sei; só Deus sabe porque achou melhor esse tipo de educação das
almas.
Não temos o direito e não
podemos julgar as obras do Criador. Apega-te à oração nos momentos da dúvida,
que a mente clareará e te sentirás feliz, dentro da felicidade dos que já a
alcançaram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário