sexta-feira, 21 de junho de 2024

RECIPROCIDADE REPARATÓRIA[1]

 


Eder Andrade

 

A justiça de Deus, na visão do Espiritismo, procura oferecer aos homens a oportunidade de reparação das faltas cometidas em outras encarnações, embora, infelizmente, nem todo mundo acredite nisso.

Como nem sempre é possível reparar uma falta cometida com as mesmas pessoas envolvidas no conflito passado, pois evoluímos em ritmos diferentes e alguns avançam mais rápido do que outros, a solução seria, segundo o Espírito André Luiz, reencarnarmos junto de companheiros espirituais que precisam passar por provas semelhantes às nossas.

No livro “Uma Vida de Amor e Caridade[2]” psicografado por Chico Xavier em parceria com Izabel Bueno, ditado por diversos espíritos, vamos encontrar a linda mensagem do Espírito Maria Dolores, que fala da nossa relação "Ante o Próximo" e procura nos exortar para entendermos a importância de saber conviver com o semelhante.

A nossa evolução pessoal ocorre em parceria com o outro e não sem ele. O melhor exemplo é o exercício da caridade e da prática do amor ao semelhante. Impossível fazer a caridade e o exercício da prática do amor, sem o outro. Existe uma reciprocidade provacional velada, onde ninguém se aproxima de uma outra pessoa desnecessariamente. No planejamento reencarnatório, espíritos que apresentam compromissos evolutivos semelhantes reencarnam juntos para atraírem e serem atraídos às situações que favoreçam o processo de aprendizagem reparador, estimulando a evolução pessoal de cada um. Ninguém ao longo da estrada da vida, se aproxima ou se afasta em vão.

Somos professores e alunos ao mesmo tempo uns dos outros, de forma a reparar antigas faltas cometidas em existências pretéritas com espíritos que necessitem viver experiências semelhantes às nossas. Aprendemos com o próximo e com esse mesmo próximo ensinamos e evoluímos.

No livro “Estante da Vida”[3], psicografado por Chico Xavier e ditado pelo Espírito de Humberto de Campos, vamos encontrar a passagem onde Nicodemos conversa com Jesus sobre a dificuldade de relacionamento com os semelhantes e o Cristo lhe esclarece: “não asseverei (nunca declarei) que os nossos adversários gratuitos estivessem fazendo o que deviam fazer... Esclareci, tão-só, que eles não sabiam o que estavam fazendo e, por isso mesmo, se revelavam dignos da maior compaixão! ...”

Quanto maior o nível de compreensão da realidade, maior a nossa responsabilidade diante da vida. Assim precisamos ter entendimento para lidar com as diferenças que se apresentam no nosso caminho.

Na conversa com Nicodemos, Jesus não deu razão às atitudes dos adversários, procurou mostrar que devido a uma diferença acentuada de ponto de vista, eles não sabiam o que estavam fazendo. Dessa forma se fazia necessário a compreensão e compaixão. Não muito diferente de certos acontecimentos que observamos nas grandes cidades modernas do mundo em que vivemos em pleno século XXI.

Deus na sua infinita bondade e misericórdia, oferece aos homens dois caminhos para evoluir, o caminho do amor ou da dor. Em outras palavras, podemos evoluir de forma amorosa na convivência com as diferenças dos semelhantes ou numa relação conturbada com espíritos que apresentem desajustes e cobranças, que precisamos vivenciar. Apenas poucos casos específicos levam o espírito a solicitar uma encarnação provacional mais dura, exigindo perseverança e maturidade do espírito. Com raríssimas exceções, uma imposição da espiritualidade, geralmente a escolha é individual e pessoal.

Existem estudos aprofundados da Universidade de Harvard, que fica nas proximidades da cidade de Boston, onde chegaram à conclusão de que a felicidade é consequência da convivência de uns com os outros, ninguém evolui sozinho, com exceção de grandes missionários, mas ainda assim eles precisam conviver pelo menos com os seus familiares e colegas de trabalho.

Deus promove a reencarnação de espíritos em núcleos que tenham uma grande semelhança de evolução do senso moral e de necessidade na correção de falhas. Assim somos realocados em famílias que apresentem os mesmos traços de evolução moral, necessários ao nosso crescimento e reajuste, mesmo que esse processo seja acompanhado de sofrimento, desde que resulte em crescimento moral para o espírito.

Existe uma música popular que diz: “É impossível ser feliz sozinho[4]”.

Teoricamente sabemos que todos estamos nesse orbe com o objetivo de promover nossa evolução espiritual individual e quiçá coletiva. Em O Livro dos Espíritos[5] 4, encontramos a resposta para uma pergunta que sempre nos fazemos: Com que objetivo Deus favorece a encarnação dos espíritos? “...com o fim de fazê-los chegar à perfeição”.

Procurando entender melhor o processo de evolução pessoal de todos nós, observamos que os grandes missionários da humanidade, tiveram uma vida de doação ao semelhante, como Francisco de Assis, Chico Xavier, Irmã Dulce, Madre Teresa de Calcutá e tantos outros exemplos, que colocaram a necessidade do próximo, como sempre uma prioridade em suas vidas.



[1] O CONSOLADOR - Ano 18 - N° 876 - 16 de Junho de 2024 - https://www.oconsolador.com.br/ano18/876/ca2.html

[2] Xavier, Francisco Cândido e Bueno, Izabel; “Uma Vida de amor e Caridade”; (Espíritos Diversos); Ed. Fonte Viva.

[3] ___, ___; “Estante da Vida”; Cap. 40 – Por que Senhor?; FEB.

[4] Refrão da música “Wave”, de Antônio Carlos Jobim.

[5] Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos, Cap. II - Objetivo da Encarnação - p. 132; FEB.

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