Bruno Abreu[2]
A maioria das pessoas anseiam
uma vida de paz e amor. Por verem o mundo tão violento e cheio de problemas,
apegam-se à esperança de encontrarem um futuro diferente. A descrença na
possibilidade de uma vida em paz repleta de amor e felicidade na Terra é tão
intensa que dão um enorme valor às ilusões religiosas de um paraíso futuro,
após a morte. Esta ideia é uma fonte energética à ociosidade no ser humano,
pois alimenta o conceito de que não temos nada a fazer senão esperar o tempo
passar.
Jesus ensina-nos que a primeira
tarefa a fazer na vida terrena é a busca do Reino de Deus. Esse Reino não é um
local físico, mas está “dentro” de nós. O reino de Deus não estará a nossa
espera quando morrermos, não chegará a nós, mas temos que sermos nós a
procurá-lo.
Temos de colocar as seguintes
questões. O que é o Reino de Deus? Por que vivemos fora do Reino de Deus, que
está em nós, e nem nos apercebemos disso? Por que não percebemos que o Reino de
Deus está em nós?
O Reino de Deus tem de ser cheio
de paz, amor e harmonia, senão não tem sentido.
Às duas últimas, podemos
responder que, segundo o Mestre Jesus, vivemos em uma enorme ilusão e que um
dia conheceremos a Verdade e esta nos libertará.
Esta ilusão está na humanidade,
pois temos todos forma de pensar e agir idênticas, vemos as coisas de forma
semelhante. Se a ilusão está na humanidade, logicamente está em nós, embora não
a consigamos perceber.
Isso coloca-nos num ponto de
situação que nos diz o seguinte.
Estamos em ilusão, não a
percebemos, pois se a percebêssemos não estaríamos nela, mas tem de existir uma
forma de a percecionarmos[3],
pois, o Mestre disse-nos que um dia saberíamos a verdade.
Para percebermos sobre algo
temos de dedicar a nossa atenção a esse algo.
Neste caso, queremos perceber
sobre a ilusão em que vivemos e encontrar o Reino de Deus, como tal, temos de
colocar a nossa atenção sobre nós próprios.
Este é o mais profundo nível de
autoconhecimento a que devemos chegar, conhecer a humanidade completa através
de nós. Nós estamos habituados a olhar para o autoconhecimento como a tarefa de
nos conhecermos a nós, no sentido de nosso feitio, nossa forma de estar, mas o
autoconhecimento a que devemos chegar ultrapassa essa forma e chega à
profundidade de conhecermos o que somos, como funcionamos, para que possamos
perceber a ilusão que está instalada na humanidade.
Estamos habituados a olhar para
o autoconhecimento para perceber o que mais gostamos, ou se somos uma pessoa
orgulhosa, se somos agressivos e o que nos faz ser agressivos, mas existe muito
mais para perceber, se queremos mudar e nos aproximar do Reino de Deus.
A um nível mais superficial é
importante sabermos se somos orgulhosos, mas a um nível mais profundo podemos
saber o que é o orgulho e cortarmos esse movimento mental de nós próprios. A um
nível superficial, podemos ver que somos agressivos, mas a um nível mais
profundo saber o que é a agressividade, como se movimenta, porque nos manipula
e cortarmos esse movimento da mente por plena consciência deste.
O autoconhecimento ultrapassa
saber o que gostamos, leva-nos a compreender o que é gostar de algo, ultrapassa
saber quem amamos, mas mostra-nos o que é o amor, é sabermos o que nos
movimenta, o que nos constitui, quem somos realmente, não na teoria, mas na
consciência da realidade. Por isto Jesus nos diz que a primeira tarefa é a
Busca do Reino de Deus e que está em nós.
A crença do que somos na Terra
tem-nos cegado, travado e aprisionado dentro da ilusão que nos tem escravizado
e levado a autodestruição.
Só um estudo minucioso sobre nós
próprios, através de uma observação constante nos poderá levar a perceber este
funcionamento ilusório. Não existe forma de ser explicado, senão já o teria
sido, pelos sábios que passaram pela Terra. O conhecimento da verdade cabe a
cada um, através do caminho do autoconhecimento.
A consciência da verdade que
Jesus tinha em relação a nossa, é tão grande que na altura que era massacrado
pede a nosso Pai que nos perdoe pois não sabíamos o que fazíamos.
A busca do Reino de Deus é
através do autoconhecimento, para que possamos descobrir quem somos, o que
somos, para tal temos de perceber o que nos movimenta e porque nos movimenta.
A atenção a nós próprios é o
único caminho para o Autoconhecimento, que Jesus nos indica através do Vigiar.
Esta vigia sobre nós não é de vez em quando, mas uma vigia, que tem de ser
constante.
O maior obstáculo a este
trabalho intenso, é a ideia de que nos conhecemos, mesmo em uma época como a
nossa, em que as doenças psíquicas, como a depressão são uma epidemia, trazendo
um conhecimento prático de que não temos controle sobre as mentes a que chamamos
de nossas, achamos que nos conhecemos.
Para iniciarmos esta tarefa do
autoconhecimento temos de abdicar da ideia de que nos conhecemos, o que se pode
tornar tão assustador.
Quando abdicamos desta ideia que
nos tem prendido e o susto passa, acontece a humildade necessária ao início
desta tarefa para que a possamos executar com a atenção necessária a uma
consciência desperta para o autoconhecimento ou conhecimento sobre humanidade.
Para esta tarefa a nossa estrela
norteadora deve ser viver em harmonia e amor com todos, onde estamos incluídos,
tal como o grande mandamento de Jesus. Se não está a acontecer, não devemos dar
desculpas a nós próprios, mas continuar o nosso percurso de autoconhecimento
para percebermos o que nos ilude para não vivermos segundo o mandamento deixado
pelo Mestre.
Se culpabilizamos a vida, a
situação ou os outros, estamos no caminho errado, pois o Mestre em situação tão
horrível, como pregado em uma cruz e vandalizado, amava-nos e pedia perdão por
nós, estando em harmonia e amor.
Para abandonarmos a ilusão que
nos trava, temos de ir percebendo a verdade que nos passa despercebida.
Veja: https://www.contempoarte.com.br/arteterapia.php
[1] O CONSOLADOR - Ano 18 - N° 875 - 9 de Junho de
2024 - https://www.oconsolador.com.br/ano18/875/ca1.html
[2] Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.
[3] 1. perceber ou conhecer através dos sentidos; 2. ter a
percepção ou a noção de; 3. Figurado entender; interpretar
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