quinta-feira, 6 de junho de 2024

MUDANÇAS[1]

 


Miramez

 

Qual o motivo da mudança que se opera no seu caráter a uma certa idade, e particularmente ao sair da adolescência? É o Espírito que se modifica?

− É o Espírito que retoma a sua natureza e se mostra tal qual era.

Não conheceis o mistério que as crianças ocultam em sua inocência; não sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão; e no entanto as amais e acariciais como se fossem uma parte de vós mesmos, de tal maneira que o amor de uma mãe por seus filhos é reputado como o maior amor que um ser possa ter por outros seres. De onde vêm essa doce afeição, essa terna complacência que até mesmo os estranhos experimentam por uma criança? Vós sabeis? Não; e é isso que vou explicar.

As crianças são os seres que Deus envia a novas existências, e para que não possam acusá-lo de demasiada severidade, dá-lhes todas as aparências de inocência. Mesmo numa criança de natureza má, suas faltas são cobertas pela não-consciência dos atos. Esta inocência não é uma superioridade real, em relação ao que elas eram antes; não, é apenas a imagem do que elas deveriam ser, e se não o são, é sobre elas somente que recai a culpa.

Mas não é somente por elas que Deus lhes dá esse aspecto, é também e sobretudo por seus pais, cujo amor é necessário à fragilidade infantil. E esse amor seria extraordinariamente enfraquecido pela presença de um caráter impertinente e acerbo, enquanto, supondo os filhos bons e ternos, dão-lhes toda a afeição e os envolvem nos mais delicados cuidados. Mas, quando as crianças não mais necessitam dessa proteção, dessa assistência que lhes foi dispensada durante quinze a vinte anos, seu caráter real e individual reaparece em toda a sua nudez: permanecem boas, se eram fundamentalmente boas, mas se irizam sempre de matizes que estavam ocultos na primeira infância.

Vedes que os caminhos de Deus são sempre os melhores, e que, quando se tem o coração puro, é fácil conceber-se a explicação a respeito.

Com efeito, ponderai que o Espírito da criança que nasce entre vós pode vir de um mundo em que tenha adquirido hábitos inteiramente diferentes; como quereríeis que permanecesse no vosso meio esse novo ser, que traz paixões tão diversas das que possuís, inclinações e gostos inteiramente opostos aos vossos; como quereríeis que se incorporasse no vosso ambiente, senão como Deus quis, ou seja, depois de haver passado pela preparação da infância? Nesta vêm confundir-se todos os pensamentos, todos os caracteres, todas as variedades de seres engendrados por essa multidão de mundos em que se desenvolvem as criaturas. E vós mesmos, ao morrer, estareis numa espécie de infância, no meio de novos irmãos, e na vossa nova existência não terrena ignorareis os hábitos, os costumes, as formas de relação desse mundo, novo para vós, manejareis com dificuldade uma língua que não estais habituados a falar, língua mais vivaz do que o é atualmente o vosso pensamento. (Ver o item 319).

A infância tem ainda outra utilidade: os Espíritos não ingressam na vida corpórea senão para se aperfeiçoarem, para se melhorarem; a debilidade dos primeiros anos os torna flexíveis, acessíveis aos conselhos da experiência e daqueles que devem fazê-los progredir. É então que se pode reformar o seu caráter e reprimir as suas más tendências. Esse é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual terão de responder.

É assim que a infância não é somente útil, necessária, indispensável, mas ainda a consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo.

Questão 385 / O Livro dos Espíritos

 

A mudança que se opera nas crianças ao alcançarem a maturidade dos corpos vem da sua liberdade de expressar o que são. Ao se ajustarem mais os laços da reencarnação, a alma fica mais consciente do seu estado espiritual, e passa a ser o que realmente é.

O Espírito tem necessidade de voltar ao corpo quando precisa reparar suas faltas, ou quando a lei o induz para o devido despertamento espiritual, e é nesse reingresso na carne que Deus lhes dá a capa de inocência. Desta forma, receberá desde o princípio da sua nova existência certa dose de carinho, por ser sua presença uma flor que desabrocha, sorrindo para a vida. Se esse Espírito expressasse imediatamente o que ele é, talvez suscitasse nos próprios pais antipatia, vibrando neles o magnetismo que caracteriza sua presença. Mas Deus, como é sábio e justo, dá-lhe uma candura suficiente para que sobre ele os olhos recaiam com amor, cobrindo-o de toda a proteção.

As mudanças nas criaturas são gradativas; essa é a ação das leis de amor, derramando sobre elas a misericórdia no sentido de que sustentem uma posição melhorada na sua existência que começa. Se essas crianças ficassem no mundo espiritual, esquecendo a reencarnação, seriam necessárias certas imposições, drásticas demais para seu tamanho, no sentido de corrigi-las.

Mas a bondade mostra o amor do Pai Celestial nos dando oportunidades melhores para o prosseguimento do nosso despertamento.

Deus cobre os Espíritos inferiores com a inocência e reveste-os com o amor, dando oportunidades às crianças, quando Espíritos inferiores, de crescerem. Quando esses Espíritos recebem no lar motivações para melhorarem, nada disso se perde, pois eles absorvem as lições, por leis que asseguram a vida, e que mais tarde expressarão como diretrizes de luz nos caminhos para a paz.

Devemos estimar e estudar a vida e o porquê vivemos na Terra, ajudando as crianças a se libertarem das contingências perigosas que devem passar como adultos. O corpo é como um cavalo bem treinado, mas precisa ainda de freio e espora. Quando lerdo a espora deve funcionar, quando adiantado em demasia, o bridão regula seu ímpeto. As mudanças da alma são constantes, porque é mudando-se que se processa a vida, somando luz onde a experiência se expande em atividades nobres.

Os pais devem estar preparados para receberem todos os tipos de Espíritos que Deus lhes enviará para a devida educação dos seus impulsos inferiores. Pode nascer num lar, um Espírito elevado, porém, no meio desses devem vir irmãos cheios de paixões inferiores, mostrando aos pais a necessidade de trabalhar em favor da própria humanidade. Quem educa bem o seu filho, colabora para a paz dos que lhes cercam, para seus pais e para o mundo inteiro. Os pais devem pensar que foram crianças também, e se não foram bem-educados é motivo maior para educar seus filhos. Educação é a semente de luz que no futuro ilumina quem acendeu essa claridade.

É na fase de criança que o Espírito tem mais possibilidade de reformar seus caracteres. O corte das arestas se processa com mais eficiência nos seres em formação. Não descuidemos dos filhos e ajudemos aos outros, pois temos muitos meios de servir de instrumento para a educação daqueles que nos rodeiam.

Não devemos cogitar muito sobre o porquê de o Espírito voltar à Terra como criança.

Devemos, sim, fazer o que estiver ao nosso alcance para melhorar-lhes os maus pendores, certificando-nos de que tudo que fizemos de bom, é a luz nos nossos caminhos e a paz para a humanidade inteira.



[1] Filosofia Espírita – Volume 8 – João Nunes Maia

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