Allan Kardec
É fácil a explicação
solicitada pelo narrador que acabamos de citar; não existe senão uma, e
apenas a Doutrina Espírita é capaz de fornecê-la. Esses fenômenos nada têm de extraordinário
para quem esteja familiarizado com os que nos habituaram os Espíritos. Sabe-se
que papel certas pessoas atribuem à imaginação. Sem dúvida, se a criança
somente houvesse tido visões, os partidários da alucinação ter-se-iam sentido
cobertos de razão.
Mas aqui havia efeitos materiais
de natureza inequívoca e que tiveram um grande número de testemunhas; seria
preciso se imaginasse que todos estivessem alucinados a ponto de pensarem ouvir
o que de fato não escutavam e verem a mobília mudando de lugar; ora, nisso
haveria um fenômeno mais extraordinário ainda.
Aos incrédulos só resta um
recurso: negar; é mais fácil e dispensa o raciocínio.
Examinando as coisas do ponto de
vista espírita, torna-se evidente que o Espírito que se manifestou era inferior
ao da criança, visto que lhe obedecia; era mesmo subordinado aos assistentes,
pois que também lhe davam ordens. Se não soubéssemos pela Doutrina que os
Espíritos ditos batedores estão embaixo na escala, aquilo que se passou seria
uma prova disto. Realmente não se conceberia que um Espírito elevado, assim
como nossos sábios e filósofos, viesse divertir-se em bater marchas e valsas;
numa palavra, a representar o papel de um pelotiqueiro, nem submeter-se aos caprichos
dos seres humanos. Mostra-se sob os traços de um homem mal encarado,
circunstância que não pode senão corroborar essa opinião; em geral a moral se
reflete no envoltório. Para nós está, pois, demonstrado que o batedor de
Bergzabern é um Espírito inferior, da classe dos Espíritos
Levianos, que se manifestou como tantos outros o fizeram e ainda fazem
todos os dias.
Agora, com que propósito veio? A
notícia não diz que haja sido chamado; hoje, que se tem mais experiência sobre
essas coisas, não se deixaria vir um visitante tão estranho sem se informar o
que ele quer. Portanto, só podemos fazer uma conjectura. É verdade que nada fez
que revelasse maldade ou má intenção; não experimentou o menino nenhum
distúrbio, nem físico, nem moral; só os homens teriam podido perturbar sua
moral, ferindo-lhe a imaginação com os contos ridículos, e é muito bom que não
o tenham feito. Por muito inferior que fosse esse Espírito, não era mau nem
malevolente; simplesmente era um desses Espíritos tão numerosos que, sem cessar
e sem o sabermos, nos rodeiam. Nessa circunstância pode ter agido por mero
capricho, como também o poderia fazer por instigação de Espíritos elevados, com
vistas a despertar a atenção dos homens e de os convencer da realidade de um
poder superior que se encontra fora do mundo corporal.
Quanto ao menino, é certo que
era um desses médiuns de efeitos físicos, dotados, mau grado seu, dessa
faculdade, e que estão para os outros médiuns assim como os sonâmbulos naturais
estão para os sonâmbulos magnéticos. Essa faculdade, dirigida por um homem
experimentado nessa nova ciência, poderia ter produzido coisas mais
extraordinárias ainda, susceptíveis de lançar nova luz sobre esses fenômenos,
que não são maravilhosos senão para os que não os compreendem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário