Miramez
Por que razão a crueldade forma o caráter predominante dos
povos primitivos?
Nos povos primitivos, como lhes chamas, a matéria
prepondera sobre o Espírito. Eles se entregam aos instintos do bruto e, como
não experimentam outras necessidades além das da vida do corpo, só da
conservação pessoal cogitam e é o que os torna, em geral, cruéis. Demais, os
povos de imperfeito desenvolvimento se conservam sob o império de Espíritos
também imperfeitos, que lhes são simpáticos, até que povos mais adiantados
venham destruir ou enfraquecer essa influência.
Questão 753/O Livro dos Espíritos
A atrocidade está mais ligada
aos povos primitivos, porque de certa forma a civilização começa a educar os
homens em muitos aspectos. O progresso vem de Deus, e nele o Senhor faz vibrar
algo mais de amor, de modo que no avançar dos povos eles deverão encontrar a
necessidade de viver bem com os seus irmãos em caminho.
Nos povos primitivos, a matéria
é mais bruta, e o Espírito, estando nas primeiras vivências na Terra, ainda não
se capacitou no seu domínio. Ele vive sob a égide dos instintos. O tempo é que
lhe dará a força para amaciar, se esse for o termo, as próprias faculdades
inerentes à matéria. Se o Espírito precisa da matéria para crescer, para
despertar seus valores, a matéria, igualmente, precisa do Espírito para se
intelectualizar, enfim, para despertar no aglomerado de energias os dons que
Deus lhe deu, igualmente.
Matéria e Espírito se confundem
no raciocínio que busca a verdade. Na verdade sabemos que tudo vem de Deus.
Assim, o bárbaro o é não por sua culpa, mas porque está agindo segundo a lei da
evolução, que atua nele e fora dele. São caminhos que ele deve trilhar para
despertar, tendo oportunidade de trabalhar dentro de si e conquistar seus
próprios valores.
A Doutrina Espírita deixa para
os homens aberturas sem fim, para que possam entender as leis de Deus. Ninguém
é culpado da ferocidade dos animais, nem eles mesmos. É característica deles,
para seguirem a mesma linha que o progresso lhes traçar. É o seu modo de ser, e
depois que eles mudam de feição, pelos processos evolutivos, ganhando o estágio
do homem, levam consigo alguma coisa do que foram anteriormente.
Precisamos ter olhos para ver as
coisas de Deus na sua devida harmonia. Se o Espírito foi criado simples e
ignorante, o seu despertar lhe custa caro; ele passa por porfiadas
experiências, e em cada uma delas sofre as consequências do que elas
apresentam, mostrando à alma que deve lutar para vencer as qualidades inferiores
e adquirir a plenitude da vida, que é o amor. A ferocidade da alma é condição
da sua imaturidade, e o tempo vai lhe mostrar o esforço próprio como prêmio da
conquista de evolução.
Deus nada faz errado. Os povos
primitivos não ficarão eternamente neste estágio: eles avançam, como os demais,
para a angelitude. Verdadeiramente, o Senhor não tem pressa, mas não para de
nos instruir em todos os rumos da vida.
O ser humano tirânico é amostra
que se encontra na retaguarda. Ainda que tenha nascido em plena civilização,
ele ainda não absorveu as qualidades que a educação proporciona. Jesus está
vendo tudo e, pacientemente, derrama sobre todas as criaturas o Seu amor em
diversas formas, de modo que todos compreendam e respirem essa virtude
singular.
Comparando os corpos do
primitivo homem com o corpo do homem de hoje, civilizado, as diferenças são
enormes, no seu modo de ser. No primeiro, a matéria domina; no segundo, o
Espírito dirige, ganhando qualidades na ponderação que o progresso determina.
É por essa razão que não podemos
condenar ninguém, mas procurar ajudar todos aqueles que estiverem em nosso
caminho e que temos condições de amar, porque todos passamos pelos mesmos
caminhos da chamada brutalidade, pelos mesmos erros e distorções.
Vejamos o que Jesus disse à
mulher adúltera, que João anotou, no capítulo oito, versículo onze:
- Respondeu ela: Ninguém,
Senhor.
- Então lhe disse Jesus: Nem
eu tão pouco te condeno; vai e não peques mais.
Jesus sabe que todos que se
encontram na Terra para se educar cometem faltas. Agradecemos ao Mestre por nos
revelar essa verdade e nos ajudar a compreender mais de perto essa filosofia
divina do amor.
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