quinta-feira, 19 de outubro de 2023

POVOS PRIMITIVOS[1]

 


Miramez

 

Por que razão a crueldade forma o caráter predominante dos povos primitivos?

Nos povos primitivos, como lhes chamas, a matéria prepondera sobre o Espírito. Eles se entregam aos instintos do bruto e, como não experimentam outras necessidades além das da vida do corpo, só da conservação pessoal cogitam e é o que os torna, em geral, cruéis. Demais, os povos de imperfeito desenvolvimento se conservam sob o império de Espíritos também imperfeitos, que lhes são simpáticos, até que povos mais adiantados venham destruir ou enfraquecer essa influência.

Questão 753/O Livro dos Espíritos

 

A atrocidade está mais ligada aos povos primitivos, porque de certa forma a civilização começa a educar os homens em muitos aspectos. O progresso vem de Deus, e nele o Senhor faz vibrar algo mais de amor, de modo que no avançar dos povos eles deverão encontrar a necessidade de viver bem com os seus irmãos em caminho.

Nos povos primitivos, a matéria é mais bruta, e o Espírito, estando nas primeiras vivências na Terra, ainda não se capacitou no seu domínio. Ele vive sob a égide dos instintos. O tempo é que lhe dará a força para amaciar, se esse for o termo, as próprias faculdades inerentes à matéria. Se o Espírito precisa da matéria para crescer, para despertar seus valores, a matéria, igualmente, precisa do Espírito para se intelectualizar, enfim, para despertar no aglomerado de energias os dons que Deus lhe deu, igualmente.

Matéria e Espírito se confundem no raciocínio que busca a verdade. Na verdade sabemos que tudo vem de Deus. Assim, o bárbaro o é não por sua culpa, mas porque está agindo segundo a lei da evolução, que atua nele e fora dele. São caminhos que ele deve trilhar para despertar, tendo oportunidade de trabalhar dentro de si e conquistar seus próprios valores.

A Doutrina Espírita deixa para os homens aberturas sem fim, para que possam entender as leis de Deus. Ninguém é culpado da ferocidade dos animais, nem eles mesmos. É característica deles, para seguirem a mesma linha que o progresso lhes traçar. É o seu modo de ser, e depois que eles mudam de feição, pelos processos evolutivos, ganhando o estágio do homem, levam consigo alguma coisa do que foram anteriormente.

Precisamos ter olhos para ver as coisas de Deus na sua devida harmonia. Se o Espírito foi criado simples e ignorante, o seu despertar lhe custa caro; ele passa por porfiadas experiências, e em cada uma delas sofre as consequências do que elas apresentam, mostrando à alma que deve lutar para vencer as qualidades inferiores e adquirir a plenitude da vida, que é o amor. A ferocidade da alma é condição da sua imaturidade, e o tempo vai lhe mostrar o esforço próprio como prêmio da conquista de evolução.

Deus nada faz errado. Os povos primitivos não ficarão eternamente neste estágio: eles avançam, como os demais, para a angelitude. Verdadeiramente, o Senhor não tem pressa, mas não para de nos instruir em todos os rumos da vida.

O ser humano tirânico é amostra que se encontra na retaguarda. Ainda que tenha nascido em plena civilização, ele ainda não absorveu as qualidades que a educação proporciona. Jesus está vendo tudo e, pacientemente, derrama sobre todas as criaturas o Seu amor em diversas formas, de modo que todos compreendam e respirem essa virtude singular.

Comparando os corpos do primitivo homem com o corpo do homem de hoje, civilizado, as diferenças são enormes, no seu modo de ser. No primeiro, a matéria domina; no segundo, o Espírito dirige, ganhando qualidades na ponderação que o progresso determina.

É por essa razão que não podemos condenar ninguém, mas procurar ajudar todos aqueles que estiverem em nosso caminho e que temos condições de amar, porque todos passamos pelos mesmos caminhos da chamada brutalidade, pelos mesmos erros e distorções.

Vejamos o que Jesus disse à mulher adúltera, que João anotou, no capítulo oito, versículo onze:

- Respondeu ela: Ninguém, Senhor.

- Então lhe disse Jesus: Nem eu tão pouco te condeno; vai e não peques mais.

Jesus sabe que todos que se encontram na Terra para se educar cometem faltas. Agradecemos ao Mestre por nos revelar essa verdade e nos ajudar a compreender mais de perto essa filosofia divina do amor.



[1] Filosofia Espírita – Volume 15 – João Nunes Maia

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