Emmanuel
Prosperidade na Terra quer dizer fortuna, felicidade.
Grande parte das criaturas, almejando-lhe a posse, pleiteia
relevo, autoridade, domínio...
Gastam-se largos patrimônios da existência para
conquistar-lhe o prestigio e não falta quem surja no prélio estudando as forças
ocultas para incorporar-lhe o bafejo.
Milhões dos homens de hoje vivem à cata de ouro e
predominância, com o mesmo empenho com que antigamente, em aprendizados mais
simples, se entregavam aos misteres primitivos de caça e pesca.
É que, na procura desse ou daquele valor da vida,
mobilizamos a energia mental, constituída à base de nossas emoções e desejos.
O espelho do coração, constantemente focado no rumo dos
objetos e situações que buscamos, traz-nos à rota os elementos que nos ocupam a
alma.
Não esqueçamos, todavia, que, na laboriosa jornada para a
Glória Divina, nos confundimos sempre com aquilo que nos possui a atenção,
demorando-nos nesse ou naquele setor de luta, conforme a extensão e duração de
nossos propósitos.
Como no filme cinematográfico, em que a história narrada é
feita pelos quadros que se sucedem, ininterruptos, a experiência que nos é
peculiar, nessa ou naquela fase da vida, constitui-se dos reflexos repetidos de
nossos sentimentos, gerando ideias contínuas que acabam plasmando os temas de
nossa luta, aos quais se nos associa a mente, identificando-se, de modo quase
absoluto, com as criações dela mesma, à maneira da tartaruga que na carapaça,
formada por ela própria, se isola e refugia.
Em razão disso, o conceito de prosperidade no mundo é sempre
discutível, porquanto nem todos sabem possuir, elevar-se ou comandar com
proveito para os sagrados objetivos da Criação.
Muita gente, pela reflexão mental incessante em torno dos
recursos amoedados, progride em títulos materiais; entretanto, se os não
converte em fatores de enriquecimento geral, cava abismos dourados nos quais se
submerge, gastando longo tempo para libertar-se do azinhavre da usura.
Legiões de pessoas no século ferem o solo da vida, com
anseios repetidos de saliência individual, e adquirem vasto renome na ciência e
na religião, nas letras e nas artes; contudo, se não movimentam as suas
conquistas no amparo e na educação dos companheiros da senda humana, quase
sempre, muito embora fulgurem nas galerias da genialidade, sofrem o retorno das
ondas mentais de extravagância que emitem, caindo em perigosos labirintos de
purgação.
Há, por isso, muita prosperidade aparente, mais deplorável
que a miséria material em si mesma, porque a mesa vazia e o fogão sem lume
podem ser caminhos de louvável reparação, enquanto o banquete opíparo e a bolsa
farta, em muitas ocasiões, apenas significam avenidas de licença que correm
para o despenhadeiro da culpa, de onde só conseguiremos sair ao preço de longos
estágios na perturbação e na sombra.
Muitos religiosos perguntam por que motivo protegeria Deus o
progresso material dos ímpios. Em verdade, porém, semelhante fortuna não
existe, de vez que a prosperidade, ausente da reta conduta, não passa de
apropriação indébita e é como roupa brilhante cobrindo chagas ocultas, que
exigem a formação de reflexos contrários aos enganos que as originaram, a fim
de que a prosperidade legítima, a expressar-se em serviço e cultura, amor e
retidão, confira ao espírito o reflexo dominante da luz.
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