segunda-feira, 29 de maio de 2023

JOAQUIM ANTONIO DE S. THIAGO[1]

 


 

O Professor Joaquim Antonio de S. Thiago foi notável pioneiro do Espiritismo no Estado de Santa Catarina.

Filho de Peregrino Servita de S. Thiago e de Dona Maria Augusta de S. Thiago, ambos catarinenses, nasceu no dia 25 de Outubro de 1857, na cidade de Florianópolis (SC).

Era irmão mais moço do ilustre engenheiro doutor Polidoro Olavo de S.Thiago, jornalista e político, que chegou a vice-governador do Estado de Santa Catarina e que, em 20 de Abril de 1890, criou, na Federação Espírita Brasileira, a “Assistência aos Necessitados”, de existência ininterrupta até os dias de hoje.

Joaquim S. Thiago fez seus estudos preliminares no Colégio “Santíssimo Salvador”, de Florianópolis, dirigido pelos padres jesuítas, continuando-os no Rio de Janeiro, onde frequentava um curso particular de português e matemática mantido pelo seu irmão acima mencionado.

Espírito de grande sensibilidade e de uma ternura inigualável por sua mãe, Joaquim S. Thiago, à notícia do seu falecimento, ocorrido em virtude da dedicação com que se entregara D. Maria Augusta ao tratamento dos enfermos de febre amarela, que na época fazia inúmeras vítimas em São Francisco do Sul, regressou a essa cidade, onde seus pais residiam. E nunca mais daí se ausentou, a não ser acidentalmente, para exercer funções eletivas, pois fora deputado à constituinte estadual, como seu irmão Polidoro.

Em São Francisco do Sul foi sempre – e com que dedicação e elevação moral e cívica! – preceptor da mocidade. Sucediam-se as gerações, e o mesmo professor ali estava para encaminhá-las no amor da cultura e do bem. Até 1886 foi professor particular e, desse ano até 1916, professor público. Republicano histórico, a política, entretanto, por muito pouco tempo o seduziu. Preferiu entregar-se a obras de assistência social e ao cultivo das belas letras, nas quais adquiriu, como autodidata, extraordinário realce.

Casou em 1880 com D. Clara Almeida de S. Thiago, descendente da família Campos e Almeida, e natural do Rio de Janeiro. Ela exercia em São Francisco do Sul as funções de professora pública, ensinando música, sobretudo. Do casamento houve sete filhos, que receberam educação esmerada.

No desempenho de suas tarefas no magistério, o casal S. Thiago deu belos exemplos de abnegação e do mais alto espírito construtivo.

Não sabemos ao certo quando Joaquim S. Thiago se tornou espírita, iniciado pelo seu irmão Polidoro, mas pode-se afirmar que ele foi um dos pioneiros do Espiritismo em Santa Catarina. “Comecei a ser feliz” – escreveu o nosso biografado em seu Livro Íntimo – “desde o dia em que meu irmão Polidoro, a quem rendo aqui profundo preito de gratidão, transfundiu em meu coração os sagrados ensinos da doutrina espírita que abracei com toda a sinceridade e firme convicção”. Iniciando a sementeira do Evangelho no seu próprio lar, teve a felicidade de ver todos os filhos vinculados estreitamente ao trabalho espírita, e hoje o seu nome é invocado por uma descendência que se eleva a mais de cem pessoas, entre filhos, netos e bisnetos, todos militantes no Espiritismo.

Em 21 de Julho de 1895, fundava em sua casa, com outros companheiros, entre eles a virtuosa e notável médium D. Maria Amélia de Miranda e Silva, o Centro Espírita “Caridade de Jesus”, que funcionou, sob a sua presidência, até 1916, reconstituindo-se, sob a direção do Professor Arnaldo Claro de S. Thiago, em 1924. Essa entidade espalhou e continua espalhando muitos benefícios à população francisquense. Tinha um órgão de divulgação doutrinária – “A Revelação”, que reapareceu mais tarde e continua até hoje a sua missão construtiva.

De 1895 em diante, o Professor Joaquim S. Thiago redobrou seus esforços na propagação da Doutrina Espírita, na assistência aos necessitados e na educação do povo.

Orador, jornalista e dramaturgo, sabia aprimorar, pelo seu esforço de autodidata, os atributos intelectuais inatos.

Na tribuna foi sempre um evangelizador, quer falasse aos operários, aos rudes trabalhadores, em cujos corações ganhara amizades perduráveis, quer se dirigisse aos adeptos do Espiritismo, cujos princípios professava e punha em prática na família, na escola e na sociedade, ainda que injuriado e caluniado por adversários da nova doutrina, que chegaram até o insulto material, apedrejando o Centro Espírita “Caridade de Jesus”, quando este funcionava na casa do seu confrade Joaquim Simplício da Silva, casa situada na esquina da rua Fonte com a rua Marechal Floriano.

No jornalismo só se ocupava de assuntos austeros, predicando virtudes cívicas e morais. No teatro exerceu influência benéfica, escrevendo dramas de fundo moral, que muito contribuíram para a educação das gerações de sua época. Desses dramas, há ainda um inédito – “Vicentina”, achando-se dois outros publicados: “A Enjeitada” e “A Órfã”, ambos de caráter espírita. Além dessas obras teatrais, há um trabalho didático de sua lavra, mui valioso, que mereceu do Conselho Superior da Instrução Pública de Santa Catarina, então sob a presidência do teatrólogo e poeta Horácio Nunes Pires, referencias enaltecedoras. Publicado esse trabalho para servir de livro de leitura nas catorze escolas mantidas pela antiga Colônia de Pescadores Z-2, “Nossa Senhora da Graça”, muito contribuiu para a divulgação de ideias nobres e elevadas entre os praieiros catarinenses.

O Professor Joaquim S. Thiago utilizou-se, ainda, da imprensa local para explicar ao povo os princípios espíritas e, quando faltava a imprensa, recorria à publicação de folhetos, sendo que o último, em 25 de Agosto de 1916, às vésperas de sua desencarnação, foi escrito para defender a Doutrina Espírita contra os ataques de um sacerdote da Igreja Católica.

Desencarnou em S. Francisco do Sul (SC) em 5 de Outubro de 1916. Homem austero, de conduta irrepreensível, intransigentemente honesto, devotado ao ministério do ensino e da caridade, não se compreende, conforme escreveu seu filho Arnaldo de S. Thiago in “História da Literatura Catarinense”, Rio de Janeiro, 1957, que um dos governos de Santa Catarina tenha mandado substituir o nome desse egrégio preceptor da mocidade, no Grupo Escolar de Joinvile, que assim fora denominado, consoante o seguinte oficio número 394, de 20 de Janeiro de 1927, remetido ao Professor Arnaldo S. Thiago: “Tenho a honra de comunicar a V.S. que o Exmo. Sr. Dr. Adolpho Konder, Governador do Estado, assinou ontem o decreto número 2.017, convertendo as escolas reunidas em Grupos Escolares de 2ª Classe, dando-lhes os nomes de professores que exerceram abnegada e brilhantemente o magistério público, no Estado. Outrossim, comunico-vos com a mais viva satisfação que o Grupo Escolar de 2ª Classe da cidade de Joinvile tomou o nome de Grupo Escolar Professor Joaquim S. Thiago, tradição viva do professor que votou o melhor de sua existência para educar e instruir a infância, cooperando assim para a grandeza de nossa Pátria. Mâncio da Costa – Diretor de Instrução”.

O valor social e o prestigio de que desfrutou, entre os seus contemporâneos, levaram a Academia Catarinense de Letras a fazê-lo patrono de uma cadeira daquele sodalício intelectual, a de número 21, ocupada presentemente por um dos seus filhos.

O Professor Joaquim Antonio de S. Thiago foi um lidimo valor da Doutrina Espírita, abnegado apostolo da Caridade, cultivando no mais alto grau o espírito de humildade. Seu nome está hoje vinculado a diversos Centros Espíritas de Santa Catarina e ao “Bezerra de Menezes”, do Andaraí, no Rio de Janeiro, aos quais ele vem dando sua esclarecida assistência, dos planos da Espiritualidade.

Cultura polimorfa, além dos livros já citados, deixou muitos inéditos de profunda beleza espiritual, nos quais se revela um escritor fluente, de muita imaginação, sabendo extrair de simples temas, como a semente, por exemplo, um mundo de verdades filosóficas e de reflexões altamente educativas e moralizadoras.

Mais pelos exemplos que pelo ensino oral ou escrito, o Professor Joaquim S. Thiago permanece inesquecível na comunidade espírita de Santa Catarina, querido e respeitado pelos seus reais serviços em bem do próximo.

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