O Professor Joaquim Antonio de
S. Thiago foi notável pioneiro do Espiritismo no Estado de Santa Catarina.
Filho de Peregrino Servita de S.
Thiago e de Dona Maria Augusta de S. Thiago, ambos catarinenses, nasceu no dia
25 de Outubro de 1857, na cidade de Florianópolis (SC).
Era irmão mais moço do ilustre
engenheiro doutor Polidoro Olavo de S.Thiago, jornalista e político, que chegou
a vice-governador do Estado de Santa Catarina e que, em 20 de Abril de 1890,
criou, na Federação Espírita Brasileira, a “Assistência aos Necessitados”, de
existência ininterrupta até os dias de hoje.
Joaquim S. Thiago fez seus
estudos preliminares no Colégio “Santíssimo Salvador”, de Florianópolis,
dirigido pelos padres jesuítas, continuando-os no Rio de Janeiro, onde
frequentava um curso particular de português e matemática mantido pelo seu
irmão acima mencionado.
Espírito de grande sensibilidade
e de uma ternura inigualável por sua mãe, Joaquim S. Thiago, à notícia do seu
falecimento, ocorrido em virtude da dedicação com que se entregara D. Maria
Augusta ao tratamento dos enfermos de febre amarela, que na época fazia
inúmeras vítimas em São Francisco do Sul, regressou a essa cidade, onde seus
pais residiam. E nunca mais daí se ausentou, a não ser acidentalmente, para
exercer funções eletivas, pois fora deputado à constituinte estadual, como seu
irmão Polidoro.
Em São Francisco do Sul foi
sempre – e com que dedicação e elevação moral e cívica! – preceptor da mocidade.
Sucediam-se as gerações, e o mesmo professor ali estava para encaminhá-las no
amor da cultura e do bem. Até 1886 foi professor particular e, desse ano até
1916, professor público. Republicano histórico, a política, entretanto, por
muito pouco tempo o seduziu. Preferiu entregar-se a obras de assistência social
e ao cultivo das belas letras, nas quais adquiriu, como autodidata,
extraordinário realce.
Casou em 1880 com D. Clara
Almeida de S. Thiago, descendente da família Campos e Almeida, e natural do Rio
de Janeiro. Ela exercia em São Francisco do Sul as funções de professora
pública, ensinando música, sobretudo. Do casamento houve sete filhos, que
receberam educação esmerada.
No desempenho de suas tarefas no
magistério, o casal S. Thiago deu belos exemplos de abnegação e do mais alto
espírito construtivo.
Não sabemos ao certo quando
Joaquim S. Thiago se tornou espírita, iniciado pelo seu irmão Polidoro, mas
pode-se afirmar que ele foi um dos pioneiros do Espiritismo em Santa Catarina.
“Comecei a ser feliz” – escreveu o nosso biografado em seu Livro Íntimo –
“desde o dia em que meu irmão Polidoro, a quem rendo aqui profundo preito de
gratidão, transfundiu em meu coração os sagrados ensinos da doutrina espírita
que abracei com toda a sinceridade e firme convicção”. Iniciando a sementeira
do Evangelho no seu próprio lar, teve a felicidade de ver todos os filhos
vinculados estreitamente ao trabalho espírita, e hoje o seu nome é invocado por
uma descendência que se eleva a mais de cem pessoas, entre filhos, netos e
bisnetos, todos militantes no Espiritismo.
Em 21 de Julho de 1895, fundava
em sua casa, com outros companheiros, entre eles a virtuosa e notável médium D.
Maria Amélia de Miranda e Silva, o Centro Espírita “Caridade de Jesus”, que
funcionou, sob a sua presidência, até 1916, reconstituindo-se, sob a direção do
Professor Arnaldo Claro de S. Thiago, em 1924. Essa entidade espalhou e
continua espalhando muitos benefícios à população francisquense. Tinha um órgão
de divulgação doutrinária – “A Revelação”, que reapareceu mais tarde e continua
até hoje a sua missão construtiva.
De 1895 em diante, o Professor
Joaquim S. Thiago redobrou seus esforços na propagação da Doutrina Espírita, na
assistência aos necessitados e na educação do povo.
Orador, jornalista e dramaturgo,
sabia aprimorar, pelo seu esforço de autodidata, os atributos intelectuais
inatos.
Na tribuna foi sempre um
evangelizador, quer falasse aos operários, aos rudes trabalhadores, em cujos
corações ganhara amizades perduráveis, quer se dirigisse aos adeptos do
Espiritismo, cujos princípios professava e punha em prática na família, na
escola e na sociedade, ainda que injuriado e caluniado por adversários da nova
doutrina, que chegaram até o insulto material, apedrejando o Centro Espírita
“Caridade de Jesus”, quando este funcionava na casa do seu confrade Joaquim
Simplício da Silva, casa situada na esquina da rua Fonte com a rua Marechal
Floriano.
No jornalismo só se ocupava de
assuntos austeros, predicando virtudes cívicas e morais. No teatro exerceu
influência benéfica, escrevendo dramas de fundo moral, que muito contribuíram
para a educação das gerações de sua época. Desses dramas, há ainda um inédito –
“Vicentina”, achando-se dois outros publicados: “A Enjeitada” e “A Órfã”, ambos
de caráter espírita. Além dessas obras teatrais, há um trabalho didático de sua
lavra, mui valioso, que mereceu do Conselho Superior da Instrução Pública de
Santa Catarina, então sob a presidência do teatrólogo e poeta Horácio Nunes
Pires, referencias enaltecedoras. Publicado esse trabalho para servir de livro
de leitura nas catorze escolas mantidas pela antiga Colônia de Pescadores Z-2,
“Nossa Senhora da Graça”, muito contribuiu para a divulgação de ideias nobres e
elevadas entre os praieiros catarinenses.
O Professor Joaquim S. Thiago
utilizou-se, ainda, da imprensa local para explicar ao povo os princípios
espíritas e, quando faltava a imprensa, recorria à publicação de folhetos,
sendo que o último, em 25 de Agosto de 1916, às vésperas de sua desencarnação, foi
escrito para defender a Doutrina Espírita contra os ataques de um sacerdote da
Igreja Católica.
Desencarnou em S. Francisco do
Sul (SC) em 5 de Outubro de 1916. Homem austero, de conduta irrepreensível,
intransigentemente honesto, devotado ao ministério do ensino e da caridade, não
se compreende, conforme escreveu seu filho Arnaldo de S. Thiago in “História da
Literatura Catarinense”, Rio de Janeiro, 1957, que um dos governos de Santa
Catarina tenha mandado substituir o nome desse egrégio preceptor da mocidade,
no Grupo Escolar de Joinvile, que assim fora denominado, consoante o seguinte
oficio número 394, de 20 de Janeiro de 1927, remetido ao Professor Arnaldo S.
Thiago: “Tenho a honra de comunicar a V.S. que o Exmo. Sr. Dr. Adolpho Konder,
Governador do Estado, assinou ontem o decreto número 2.017, convertendo as
escolas reunidas em Grupos Escolares de 2ª Classe, dando-lhes os nomes de
professores que exerceram abnegada e brilhantemente o magistério público, no
Estado. Outrossim, comunico-vos com a mais viva satisfação que o Grupo Escolar
de 2ª Classe da cidade de Joinvile tomou o nome de Grupo Escolar Professor
Joaquim S. Thiago, tradição viva do professor que votou o melhor de sua
existência para educar e instruir a infância, cooperando assim para a grandeza
de nossa Pátria. Mâncio da Costa – Diretor de Instrução”.
O valor social e o prestigio de
que desfrutou, entre os seus contemporâneos, levaram a Academia Catarinense de
Letras a fazê-lo patrono de uma cadeira daquele sodalício intelectual, a de
número 21, ocupada presentemente por um dos seus filhos.
O Professor Joaquim Antonio de
S. Thiago foi um lidimo valor da Doutrina Espírita, abnegado apostolo da
Caridade, cultivando no mais alto grau o espírito de humildade. Seu nome está
hoje vinculado a diversos Centros Espíritas de Santa Catarina e ao “Bezerra de
Menezes”, do Andaraí, no Rio de Janeiro, aos quais ele vem dando sua
esclarecida assistência, dos planos da Espiritualidade.
Cultura polimorfa, além dos
livros já citados, deixou muitos inéditos de profunda beleza espiritual, nos
quais se revela um escritor fluente, de muita imaginação, sabendo extrair de
simples temas, como a semente, por exemplo, um mundo de verdades filosóficas e
de reflexões altamente educativas e moralizadoras.
Mais pelos exemplos que pelo
ensino oral ou escrito, o Professor Joaquim S. Thiago permanece inesquecível na
comunidade espírita de Santa Catarina, querido e respeitado pelos seus reais
serviços em bem do próximo.
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