segunda-feira, 15 de maio de 2023

JOÃO LUÍS DE PAIVA JÚNIOR[1]

 

 

Nascera ele no Rio de Janeiro, em 9 de abril de 1870, tendo por pais João Luís de Paiva e Maria Delfina da Conceição Paiva. Seu pai foi um excelente ator, tendo trabalhado ao lado de João Caetano e outros ilustres artistas da época.

Na primeira mocidade, Paiva Junior foi caixeiro, impressor e até ourives. O seu grande sonho, porém, era a Marinha de Guerra, e para ela entrou ainda bem jovem. Durante 52 anos e dez meses desempenhou dignamente suas funções na Intendência, reformando-se no posto de Almirante. Durante todo esse tempo, teve oportunidade de conhecer e privar com gloriosos vultos de nossa Marinha.

Em 1905, sofrimentos físicos e espirituais fizeram-no aceitar o convite de um colega, que com ele insistia para comparecer ao Centro Espírita Santo Agostinho, existente no Méier, Guanabara. Ali foi o então tenente Paiva, e dali saiu ele transformado, para o Espiritismo. Entusiasmou-se com as revelações contidas nas obras de Allan Kardec, e ei-lo, anos depois, presidente daquele Centro aonde foi pela primeira vez.

Continuando sempre como presidente, mais tarde mudou o Centro para Jacarepaguá, denominando-o, desde essa época, Centro Espírita de Jacarepaguá.

Em 27 de fevereiro de 1913, ingressava na “Assistência aos Necessitados” da Federação Espírita Brasileira o capitão de corveta Paiva Junior, onde, através de sua mediunidade receitista, passou a ter contato mais direto com os menos favorecidos da sorte, desses que batem à porta da Casa de Ismael, em busca de socorro material e espiritual. Era, então, diretor da “Assistência aos Necessitados” outro inolvidável semeador da caridade, Pedro Richard.

Em 19l5, Paiva Júnior foi eleito Tesoureiro da Federação, mas o certo é que seu Espírito não se sentia bem nesse novo setor de trabalho, seu pensamento estava sempre voltado para os sofredores, para os pobres, e seu desejo era dedicar-se de todo o coração, à seus irmãos em Humanidade. Retornou, pois, à Comissão de Assistência, onde a sua dedicação e amor se faziam sentir de maneira relevante, resolvendo, satisfatoriamente, as difíceis tarefas que lhe eram confiadas. Suas palavras, proferidas sempre sem afetação, com natural e sincera vibração evangélica, tinham o dom de reanimar almas abatidas, reconfortar enfermos.

Em 1923, viu-se eleito para o espinhoso cargo de Diretor da Assistência aos Necessitados, cargo que ininterruptamente desempenhou até seu Espírito ser chamado para as etéreas regiões do Além.

Vinte e seis anos consecutivos esteve ele na direção dessa Comissão de Assistência, e só quem conhece o que seja o trabalho desse Departamento da Federação é que pode calcular quanto amor existia em seu coração!

Conhecido de todos por Comandante Paiva, seu nome tornou-se um símbolo de paz e de misericórdia para os necessitados. Fazia prodígios com as verbas de que dispunha, parecendo, até, que elas se multiplicavam em contato com suas mãos dadivosas.

Todos quantos durante aqueles vinte e seis anos subiam as escadarias do venerável edifício da Avenida Passos não podiam admitir o Departamento de Assistência sem a figura austera do Comandante Paiva. É que, muito embora tivesse ele de exercer os encargos atinentes ao seu posto de oficial superior de nossa Marinha de Guerra, jamais deixou de passar horas a fio, diariamente, durante vários lustros, em seu gabinete de trabalho na Federação Espírita Brasileira. Ele e a Assistência se confundiam. Sua palavra era fluente e sempre modulada ao ritmo do Evangelho. Recebia o maltrapilho com o mesmo carinho e atenção que tributava aos que, bem vestidos ou detentores de ótimas posições sociais, o procuravam na esperança de um alívio para os seus padecimentos.

Em setembro de 1925, certo médico, interessado no descrédito das curas espíritas, teceu, junto ao Inspetor da Fiscalização da Medicina, uma história caluniosa, em que a honrada figura de Paiva Júnior era o acusado principal.

Foi ele então processado como incurso no exercício ilegal da medicina. Após examinar os autos, o ínclito e saudoso Dr. Bento de Faria, mais tarde Ministro do Supremo Tribunal Federal, emitiu parecer, em que requeria o arquivamento do inquérito sobre o caso, por não encontrar justa causa para denúncia. À vista desse parecer, o Doutor Eurico Cruz, da Segunda Vara Criminal, mandou arquivar o processo.

Paiva Júnior tinha o hábito de ouvir os pobres um a um e em particular, tarefa que ele desempenhava com uma paciência verdadeiramente cristã, e a levava tão a sério que, nessas horas de contato com a gente humilde do povo, a ninguém mais atendia, mesmo de elevada posição social.

Sua atuação evangélica não ficou restrita ao Estado da Guanabara, alargou-se pelo Brasil inteiro, e foi mais além, transpôs o Atlântico. Assim é que de Portugal e da Espanha lhe chegavam, quase que diariamente, as mais diversas solicitações de assistência. Antes da última guerra mundial, inúmeras eram as cartas que vinham ter às suas mãos, escritas por pessoas angustiadas residentes na França, essa França que foi berço de Allan Kardec.

Podendo viver uma vida despreocupada, Paiva Júnior empregou todo o seu tempo disponível na pratica da Caridade, e o fez, é bom frisar, com alma e coração, sem pensar em qualquer recompensa futura, convicto de que apenas cumpria um dever de irmão para com outro irmão em Cristo.

Aos 18 de março de 1949 desaparecia do plano físico, no Rio de Janeiro, um verdadeiro servo da caridade: o Comandante João Luís de Paiva Júnior, coração de ouro sob um véu de aparente severidade.

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