Nascera ele no Rio de Janeiro,
em 9 de abril de 1870, tendo por pais João Luís de Paiva e Maria Delfina da
Conceição Paiva. Seu pai foi um excelente ator, tendo trabalhado ao lado de
João Caetano e outros ilustres artistas da época.
Na primeira mocidade, Paiva
Junior foi caixeiro, impressor e até ourives. O seu grande sonho, porém, era a
Marinha de Guerra, e para ela entrou ainda bem jovem. Durante 52 anos e dez
meses desempenhou dignamente suas funções na Intendência, reformando-se no
posto de Almirante. Durante todo esse tempo, teve oportunidade de conhecer e
privar com gloriosos vultos de nossa Marinha.
Em 1905, sofrimentos físicos e
espirituais fizeram-no aceitar o convite de um colega, que com ele insistia
para comparecer ao Centro Espírita Santo Agostinho, existente no Méier,
Guanabara. Ali foi o então tenente Paiva, e dali saiu ele transformado, para o
Espiritismo. Entusiasmou-se com as revelações contidas nas obras de Allan
Kardec, e ei-lo, anos depois, presidente daquele Centro aonde foi pela primeira
vez.
Continuando sempre como
presidente, mais tarde mudou o Centro para Jacarepaguá, denominando-o, desde
essa época, Centro Espírita de Jacarepaguá.
Em 27 de fevereiro de 1913,
ingressava na “Assistência aos Necessitados” da Federação Espírita Brasileira o
capitão de corveta Paiva Junior, onde, através de sua mediunidade receitista,
passou a ter contato mais direto com os menos favorecidos da sorte, desses que
batem à porta da Casa de Ismael, em busca de socorro material e espiritual.
Era, então, diretor da “Assistência aos Necessitados” outro inolvidável
semeador da caridade, Pedro Richard.
Em 19l5, Paiva Júnior foi eleito
Tesoureiro da Federação, mas o certo é que seu Espírito não se sentia bem nesse
novo setor de trabalho, seu pensamento estava sempre voltado para os
sofredores, para os pobres, e seu desejo era dedicar-se de todo o coração, à
seus irmãos em Humanidade. Retornou, pois, à Comissão de Assistência, onde a
sua dedicação e amor se faziam sentir de maneira relevante, resolvendo,
satisfatoriamente, as difíceis tarefas que lhe eram confiadas. Suas palavras,
proferidas sempre sem afetação, com natural e sincera vibração evangélica,
tinham o dom de reanimar almas abatidas, reconfortar enfermos.
Em 1923, viu-se eleito para o
espinhoso cargo de Diretor da Assistência aos Necessitados, cargo que
ininterruptamente desempenhou até seu Espírito ser chamado para as etéreas
regiões do Além.
Vinte e seis anos consecutivos
esteve ele na direção dessa Comissão de Assistência, e só quem conhece o que
seja o trabalho desse Departamento da Federação é que pode calcular quanto amor
existia em seu coração!
Conhecido de todos por
Comandante Paiva, seu nome tornou-se um símbolo de paz e de misericórdia para
os necessitados. Fazia prodígios com as verbas de que dispunha, parecendo, até,
que elas se multiplicavam em contato com suas mãos dadivosas.
Todos quantos durante aqueles
vinte e seis anos subiam as escadarias do venerável edifício da Avenida Passos
não podiam admitir o Departamento de Assistência sem a figura austera do
Comandante Paiva. É que, muito embora tivesse ele de exercer os encargos
atinentes ao seu posto de oficial superior de nossa Marinha de Guerra, jamais
deixou de passar horas a fio, diariamente, durante vários lustros, em seu
gabinete de trabalho na Federação Espírita Brasileira. Ele e a Assistência se
confundiam. Sua palavra era fluente e sempre modulada ao ritmo do Evangelho.
Recebia o maltrapilho com o mesmo carinho e atenção que tributava aos que, bem
vestidos ou detentores de ótimas posições sociais, o procuravam na esperança de
um alívio para os seus padecimentos.
Em setembro de 1925, certo
médico, interessado no descrédito das curas espíritas, teceu, junto ao Inspetor
da Fiscalização da Medicina, uma história caluniosa, em que a honrada figura de
Paiva Júnior era o acusado principal.
Foi ele então processado como
incurso no exercício ilegal da medicina. Após examinar os autos, o ínclito e
saudoso Dr. Bento de Faria, mais tarde Ministro do Supremo Tribunal Federal,
emitiu parecer, em que requeria o arquivamento do inquérito sobre o caso, por
não encontrar justa causa para denúncia. À vista desse parecer, o Doutor Eurico
Cruz, da Segunda Vara Criminal, mandou arquivar o processo.
Paiva Júnior tinha o hábito de
ouvir os pobres um a um e em particular, tarefa que ele desempenhava com uma
paciência verdadeiramente cristã, e a levava tão a sério que, nessas horas de
contato com a gente humilde do povo, a ninguém mais atendia, mesmo de elevada
posição social.
Sua atuação evangélica não ficou
restrita ao Estado da Guanabara, alargou-se pelo Brasil inteiro, e foi mais
além, transpôs o Atlântico. Assim é que de Portugal e da Espanha lhe chegavam,
quase que diariamente, as mais diversas solicitações de assistência. Antes da
última guerra mundial, inúmeras eram as cartas que vinham ter às suas mãos,
escritas por pessoas angustiadas residentes na França, essa França que foi
berço de Allan Kardec.
Podendo viver uma vida
despreocupada, Paiva Júnior empregou todo o seu tempo disponível na pratica da
Caridade, e o fez, é bom frisar, com alma e coração, sem pensar em qualquer
recompensa futura, convicto de que apenas cumpria um dever de irmão para com
outro irmão em Cristo.
Aos 18 de março de 1949
desaparecia do plano físico, no Rio de Janeiro, um verdadeiro servo da
caridade: o Comandante João Luís de Paiva Júnior, coração de ouro sob um véu de
aparente severidade.
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