sexta-feira, 28 de abril de 2023

AQUELOUTROS FLAGELOS DESTRUIDORES[1]

 


Rogério Coelho - abril/2023

 

A par dos flagelos destruidores levantados por Allan Kardec, nas questões 737 a 741 de O Livro dos Espíritos, naturais e independentes do homem, existem aqueloutros que dependem da vontade de cada um para serem extirpados: os flagelos morais. Os primeiros são necessários para fazer com que a Humanidade progrida mais depressa, mas esses últimos obstam a marcha do homem na direção da vanguarda de luz…  Infelizmente, os flagelos morais são acoroçoados pelas criaturas sem que essas os percebam. São eles: o egoísmo, o orgulho, a vaidade, a indiferença, a inveja, o despeito e quejandos… Além desses, André Luiz detecta outros e chama a nossa atenção para não só identificá-los como também erradicá-los.  Acompanhemos o raciocínio do nobre instrutor em uma página de sua lavra[2]:

Lábios envenenados pelo fel da maledicência não conseguem sorrir com verdadeira alegria.

Ouvidos fechados com a cera da leviandade não escutam as harmonias intraduzíveis da paz.

Olhos empoeirados pela indiscrição não veem as paisagens reconfortantes do mundo.

Braços inertes na ociosidade não conseguem fugir à paralisia.

Mente prisioneira no mal não amealha recursos para reter o bem.

Coração incapaz de sentir a fraternidade pura não se ajusta ao ritmo da esperança e da fé.

Liberte a você de semelhantes flagelos.

Leis indefectíveis de amor e justiça superintendem todos os fenômenos do Universo e fiscalizam as reações de cada Espírito. Assim, pois, no trabalho da própria renovação, a criatura não pode desprezar nenhuma das suas manifestações pessoais, sem o que dificilmente marchará para a Vanguarda de Luz.

Uma vez vencida essa etapa de combater em nós esses flagelos destruidores, teremos apenas feito a metade da caminhada. Há que se empreender a outra metade que nos alçará aos Páramos de Luz, ou seja: a de tolerar e compreender os destruidores flagelos morais alheios. E para tal, Emmanuel ministra, em página de peregrina beleza, a medicação recomendada, escrevendo[3]:

Se tiveres amor, caminharás no mundo como alguém que transformou o próprio coração em chama divina a dissipar as trevas…

Encontrarás nos caluniadores almas invigilantes que a peçonha do mal entenebreceu, e relevarás toda ofensa com que te martirizem as horas…

Surpreenderás nos maldizentes criaturas desprevenidas que o veneno da crueldade enlouqueceu, e desculparás toda injúria com que te deprimam as esperanças…

Observarás no onzenário a vítima da ambição desregrada, acariciando a ignomínia da usura em que atormenta a si próprio, e no viciado o irmão que caiu voluntariamente na poça de fel em que arruína a si mesmo…                    

Reconhecerás a ignorância em toda manifestação contrária à justiça e descobrirás a miséria por fruto dessa mesma ignorância em toda parte onde o sofrimento plasma o cárcere da delinquência, o deserto do desespero, o inferno da revolta ou o pântano da preguiça…

Se tiveres amor saberás, assim, cultivar o bem, a cada instante, para vencer o mal a cada hora…

E perceberás, então, tal como o Cristo fustigado na cruz, que os teus mais acirrados perseguidores são apenas crianças de curto entendimento e de sensibilidade enfermiça, que é preciso compreender e ajudar, perdoar e servir sempre, para que a glória do amor puro, ainda mesmo nos suplícios da morte, nos erga o Espírito imperecível à bênção da vida eterna.

Segundo Joanna de Ângelis[4],

Entre os flagelos íntimos que vergastam o ser humano, produzindo inomináveis aflições, a consciência de culpa ganha destaque.

Insidiosamente instala-se e, qual ácido destruidor, corrói as engrenagens da emoção, facultando a irrupção de conflitos que enlouquecem.

Assim, sempre que errares, recomeça com o entusiasmo inicial. A dignidade, a harmonia, o equilíbrio entre a consciência e a conduta têm um preço: a perseverança no dever.

A reflexão, o silêncio interior, a meditação e a oração não podem ser descartadas da equação do equilíbrio.

Em outro momento, ensinou a nobre Mentora[5]:

[…] esses oponentes interiores, ocultos pelo ego, são muito mais impiedosos que os opositores externos, necessitando ser passados pelo fio da espada, […].

Os adversários internos, acoroçoados pelos sentimentos egoicos, constituem sempre impedimentos mais difíceis de vencidos pela espada da decisão de superá-los e deles libertar-se.

Literalmente, Jesus separa pais de filhos, cônjuges, irmãos, momentaneamente, quando alguns se opõem à decisão daqueles que se entregarem às transformações morais apresentadas, ao trabalho de abnegação em favor do próximo, aos compromissos de construir o mundo de solidariedade que surgirá dos escombros da sociedade rica de moedas e pobre de sentimentos de fraternidade. Mas essa ocorrência seria também a ponte que traria de volta aqueles mesmos que os expulsassem, quando a sua “sombra” cedesse lugar ao conhecimento dos legítimos valores humanos e sociais, auxiliando-os na lídima fraternidade que, em vez de impor os laços de família consanguínea, estabelecem como fundamentais aqueles da fraternidade universal…

A espada, por fim, favorecerá a verdadeira paz.

 “… Não penseis, pois, que eu vim trazer paz à Terra”, essa modorrenta paz que é feita de ócio e cansaço, mas a paz dinâmica e gloriosa que é conquistada com a espada flamejante da autoconsciência que dilui a “sombra” teimosa.



[2] XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Estude e Viva. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. Rio de Janeiro: FEB, 1982. cap. 14. Liberte a você.

[3] ______. Religião dos Espíritos. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1978. cap. Se tiveres amor.

[4] FRANCO, Divaldo Pereira. Momentos de Saúde. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 1993. cap. 9.

[5] ______. Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2000. cap. Espada e paz.

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