Rogério Coelho - abril/2023
A par dos flagelos destruidores
levantados por Allan Kardec, nas questões 737 a 741 de O Livro dos Espíritos,
naturais e independentes do homem, existem aqueloutros que dependem da vontade
de cada um para serem extirpados: os flagelos morais. Os primeiros são
necessários para fazer com que a Humanidade progrida mais depressa, mas esses
últimos obstam a marcha do homem na direção da vanguarda de luz… Infelizmente, os flagelos morais são
acoroçoados pelas criaturas sem que essas os percebam. São eles: o egoísmo, o
orgulho, a vaidade, a indiferença, a inveja, o despeito e quejandos… Além
desses, André Luiz detecta outros e chama a nossa atenção para não só
identificá-los como também erradicá-los.
Acompanhemos o raciocínio do nobre instrutor em uma página de sua lavra[2]:
Lábios envenenados pelo fel da maledicência não
conseguem sorrir com verdadeira alegria.
Ouvidos fechados com a cera da leviandade não escutam
as harmonias intraduzíveis da paz.
Olhos empoeirados pela indiscrição não veem as
paisagens reconfortantes do mundo.
Braços inertes na ociosidade não conseguem fugir à
paralisia.
Mente prisioneira no mal não amealha recursos para
reter o bem.
Coração incapaz de sentir a fraternidade pura não se
ajusta ao ritmo da esperança e da fé.
Liberte a você de semelhantes flagelos.
Leis indefectíveis de amor e justiça superintendem
todos os fenômenos do Universo e fiscalizam as reações de cada Espírito. Assim,
pois, no trabalho da própria renovação, a criatura não pode desprezar nenhuma
das suas manifestações pessoais, sem o que dificilmente marchará para a
Vanguarda de Luz.
Uma vez vencida essa etapa de
combater em nós esses flagelos destruidores, teremos apenas feito a metade da
caminhada. Há que se empreender a outra metade que nos alçará aos Páramos de
Luz, ou seja: a de tolerar e compreender os destruidores flagelos morais
alheios. E para tal, Emmanuel ministra, em página de peregrina beleza, a
medicação recomendada, escrevendo[3]:
Se tiveres amor, caminharás no mundo como alguém que
transformou o próprio coração em chama divina a dissipar as trevas…
Encontrarás nos caluniadores
almas invigilantes que a peçonha do mal entenebreceu, e relevarás toda ofensa
com que te martirizem as horas…
Surpreenderás nos maldizentes
criaturas desprevenidas que o veneno da crueldade enlouqueceu, e desculparás
toda injúria com que te deprimam as esperanças…
Observarás no onzenário a vítima
da ambição desregrada, acariciando a ignomínia da usura em que atormenta a si
próprio, e no viciado o irmão que caiu voluntariamente na poça de fel em que
arruína a si mesmo…
Reconhecerás a ignorância em
toda manifestação contrária à justiça e descobrirás a miséria por fruto dessa
mesma ignorância em toda parte onde o sofrimento plasma o cárcere da delinquência,
o deserto do desespero, o inferno da revolta ou o pântano da preguiça…
Se tiveres amor saberás, assim,
cultivar o bem, a cada instante, para vencer o mal a cada hora…
E perceberás, então, tal como o
Cristo fustigado na cruz, que os teus mais acirrados perseguidores são apenas
crianças de curto entendimento e de sensibilidade enfermiça, que é preciso
compreender e ajudar, perdoar e servir sempre, para que a glória do amor puro,
ainda mesmo nos suplícios da morte, nos erga o Espírito imperecível à bênção da
vida eterna.
Segundo Joanna de Ângelis[4],
Entre os flagelos íntimos que vergastam o ser humano,
produzindo inomináveis aflições, a consciência de culpa ganha destaque.
Insidiosamente instala-se e, qual ácido destruidor,
corrói as engrenagens da emoção, facultando a irrupção de conflitos que
enlouquecem.
Assim, sempre que errares, recomeça com o entusiasmo
inicial. A dignidade, a harmonia, o equilíbrio entre a consciência e a conduta
têm um preço: a perseverança no dever.
A reflexão, o silêncio interior, a meditação e a oração
não podem ser descartadas da equação do equilíbrio.
Em outro momento, ensinou a
nobre Mentora[5]:
[…] esses oponentes interiores, ocultos pelo ego, são
muito mais impiedosos que os opositores externos, necessitando ser passados
pelo fio da espada, […].
Os adversários internos,
acoroçoados pelos sentimentos egoicos, constituem sempre impedimentos mais
difíceis de vencidos pela espada da decisão de superá-los e deles libertar-se.
Literalmente, Jesus separa pais
de filhos, cônjuges, irmãos, momentaneamente, quando alguns se opõem à decisão
daqueles que se entregarem às transformações morais apresentadas, ao trabalho
de abnegação em favor do próximo, aos compromissos de construir o mundo de
solidariedade que surgirá dos escombros da sociedade rica de moedas e pobre de
sentimentos de fraternidade. Mas essa ocorrência seria também a ponte que
traria de volta aqueles mesmos que os expulsassem, quando a sua “sombra”
cedesse lugar ao conhecimento dos legítimos valores humanos e sociais,
auxiliando-os na lídima fraternidade que, em vez de impor os laços de família
consanguínea, estabelecem como fundamentais aqueles da fraternidade universal…
A espada, por fim, favorecerá a
verdadeira paz.
“… Não penseis, pois, que eu vim trazer paz
à Terra”, essa modorrenta paz que é feita de ócio e cansaço, mas a paz
dinâmica e gloriosa que é conquistada com a espada flamejante da
autoconsciência que dilui a “sombra” teimosa.
[2] XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Estude e Viva.
Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. Rio de Janeiro: FEB, 1982. cap. 14.
Liberte a você.
[3] ______. Religião dos Espíritos. Pelo Espírito
Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1978. cap. Se tiveres amor.
[4] FRANCO, Divaldo Pereira. Momentos de Saúde. Pelo Espírito
Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 1993. cap. 9.
[5] ______. Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia
Profunda. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2000. cap. Espada e
paz.
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