James Ensor - Fierté Equisser
Rogério Coelho
O orgulho é um grande vilão,
astuto e hábil sedutor.
Vaidade de
vaidades! Diz o pregador, vaidade de vaidades! É tudo vaidade.
Eclesiastes, 1:2
Na atualidade os tempos são de
dores e escarcéus, nos quais a loucura generalizada, a empáfia, o orgulho, a
vaidade, o egoísmo, a corrupção e a falência das Instituições, inclusive
religiosas, assinalam a ebulição moral do planeta! A lavoura espírita também
não está livre dessas pragas deletérias, e os Espíritos Superiores falam em
uníssono dos cuidados a serem aplicados na Seara do Mestre a fim de que não se
transforme em improdutivo e árido sarçal.
Os Benfeitores Espirituais estão
sempre conclamando-nos a testemunhos de amor incondicional para salvarmos a
embarcação que navega entre os atóis do orgulho e os lençóis da areia da
vaidade, com severo risco de encalhar.
Por ocasião do encerramento de
um curso de vinte dias ministrado no “Mundo Maior” por Eurípedes
Barsanulfo, no Hospital Esperança, para uma plateia de médiuns psicógrafos
que cooperam ativamente no labor da psicografia junto ao movimento espírita, a
destemida servidora do Cristo, Maria
Modesto Cravo, fundadora e dedicada cooperadora do Sanatório Espírita de
Uberaba, foi chamada para apresentar seu lúcido depoimento sobre humildade,
como sendo a medicação apropriada para nossos problemas com o orgulho. Nessa oportunidade singular, entre outras
coisas, a nobre Entidade espiritual tanto esclareceu como lançou oportuno
alerta, sobre a necessidade de combatermos, com todas as armas disponíveis,
essa praga que se alastra de forma devastadora no seio do movimento espírita.
Vamos pinçar alguns tópicos de
seu discurso[2]:
(...) amados companheiros, paz e esperança!...
Costumo dizer a Eurípedes que quando sou convocada a falar de humildade é
porque meu próprio nome carrega a sina desse tema: Maria Modesta. E não vou começar minha fala à moda
convencional, dizendo coisas do tipo: estou aqui, mas não tenho autoridade
para falar desse tema. Muito pelo contrário, digamos humoradamente que me
orgulho de minha humildade!
Os conceitos que tomaram conta da cultura popular sobre o
que seja humildade prejudicam em muito seu verdadeiro significado. Associa-se
humildade com simplicidade, pobreza, atitudes discretas e inúmeras coisas
parecidas em ser alguém apagado, que não se destaca, que se mantém no
anonimato, que não expressa e nem possui qualidades... Jesus, muito Sábio e
Humilde, certa feita foi chamado de bom e não aceitou o adjetivo, alegando que
bom era só o Pai e que poderia ser chamado de Mestre, porque isso Ele era e
assumia com louvor. Isso é a humildade: ter
consciência do que se é.
Segundo o benfeitor espiritual Eurípedes Barsanulfo, este
curso destina-se a nos dar melhores noções sobre o orgulho e como superá-lo,
enfocando especialmente a luta de nossos irmãos na comunidade espírita humana.
Então eu gostaria de começar este assunto dizendo, com a franqueza de sempre e
com muita piedade, que os espíritas estão muito orgulhosos da humildade que
imaginam possuir! Sim, é isso
mesmo! E vocês são testemunhas das lutas
e problemas que nossos irmãos queridos carregam para cá por causa disso. A
ignorância acerca do que realmente seja humildade, e também das formas cruéis e
sutis de ação do orgulho, têm criado dificuldades que poderiam ser vencidas com
um pouco de esclarecimento e algumas ações simples. Este curso é uma iniciativa
que precisa ser levada aos amigos no corpo físico com urgência, a fim de
oferecer-lhes recursos para a grande batalha na conquista dessa virtude. (Humildade).
Para ser franca e brincar um pouco com coisa séria, o
movimento espírita está parecendo uma passarela onde o orgulho desfila com
várias fantasias. Fantasias de grandeza e de proprietários da verdade
são as que mais se vê!
Os que nós encontramos fora do corpo, sabemos bem quem são
os Espíritos-espíritas, sua trajetória espiritual. Torna-se imperioso,
mais que nunca, alertar nossos irmãos na carne acerca dos acontecimentos que
temos presenciado aqui no Hospital Esperança, para devotarem-se com todas as
forças na libertação do peso das ilusões que cultivam a pretexto de grandeza
espiritual.
Logo após meu retorno para a vida dos Espíritos, fui
convocada por Eurípedes a coordenar as ações para um novo pavilhão junto a essa
casa de amor[3],
destinado a socorrer os líderes religiosos cristãos da humanidade,
especialmente os dirigentes espíritas. Por três décadas consecutivas venho
aprendendo nessa tarefa sobre os perniciosos reflexos do orgulho. O pavilhão
sob as ordens de minha equipe tem crescido em tamanho e necessidades a cada
dia...
(...) Em todos os campos dos seguidores de Jesus encontramos
fracassos e quedas... Nossos amigos de ideal espírita, por exemplo, costumam
falar do orgulho como quem conhece e domina o tema, dando notas de sua presença
até mesmo na prepotência em falar do assunto. Poucos demonstram consciência do
orgulho do qual são portadores, poucos sabem realmente onde e como sua vaidade
se manifesta. Basta dizer humoradamente que existem muitos corações orgulhosos
da reforma íntima que já fizeram. Tão orgulhosos que se sentem melhores
e mais adiantados que a maioria das pessoas, dando ensejo ao surgimento das
férteis imaginações de que são missionários prontos para salvar a humanidade,
quando, em verdade, expressiva maioria deles não estão conseguindo salvar nem a
si mesmos. Alguns se utilizam de frases do tipo: quem sou eu para ser um
apóstolo de Jesus e relegam várias oportunidades de crescer dizendo-se
humildes. Ocorre que, apesar de passarem esse atestado de falsa modéstia, no
fundo, o sentimento que muita vez os domina é de que são apóstolos do Cristo, e
diga-se de passagem: bons apóstolos (!?) É uma humildade de adorno, porque o que vale
mesmo é o que se sente no coração.
Sentimento, eis o cerne de nosso tema sobre o orgulho. O
orgulho é um sentimento, o sentimento de grandeza, o sentimento que cria o
vício de ser prestigiado, adulado, paparicado... É o sentimento que faz com que
queiramos que o Universo circule em nossa órbita personalista. Orgulho é
sentimento de superioridade pessoal, por isso humildade, seu oposto, tem que
ser fruto também de um trabalho afetivo do Espírito, tem que nascer do coração
atrelado à consciência.
Não será demais dizer que o orgulho é um grande vilão,
astuto e hábil sedutor. Os espiritistas estão confundindo, sob a ação hipnótica
da vaidade, o conhecimento da Doutrina com elevação espiritual. É isso mesmo!! Adquirem
alguma fatia de saber, sentem-se detentores de verdades que poucos sabem e
esbanjam a falsa sabedoria em longos discursos de conversão; e isso não ocorre
somente aos neófitos. Entre os
dirigentes que temos atendido no pavilhão Bezerra de Menezes, nome que
demos para a ala sob nossa responsabilidade aqui no Hospital, encontramos em
todos a espontânea manifestação de surpresa ao perceberem que os livros
espíritas, apesar da riqueza, dão pálida e distante ideia da realidade da morte
e dos movimentos que se operam na erraticidade. É uma pena que tenham que
morrer para perceberem que sabem tão pouco!
(...) Generalizou-se na comunidade espírita a preocupação
com a ação das trevas, e eu pergunto: será que justifica?! Não estará essa preocupação tirando o foco
sobre a real necessidade a ser trabalhada?
Enquanto existe a supervalorização com as ações dos infernos,
distrai-se para os cuidados que requisitam a personalidade no que tange à sua
transformação. Muita atenção para as trevas de fora que acaba fazendo esquecer
as trevas que temos que vencer dentro de nós. E, os que aqui nos encontramos,
sabemos o quanto o nosso querido gênio do mal adora ver o rumo que tem
tomado essa excessiva centralização na pessoa dos obsessores e das obsessões na
seara doutrinária.
Levemos, portanto, ideias mais claras aos que assumiram o
compromisso espírita de serem melhores hoje do que eram ontem, sem assustá-los
evidentemente... Digamos a eles que séculos sucessivos naufragando nas
fracassadas reencarnações edificaram um terrível sentimento de inutilidade e
desvalor pessoal; é a angústia básica dos Espíritos que renascem atualmente no
corpo físico, um lacerante complexo de inferioridade. Vejam a necessidade que o
homem tem de ser grande sem o ser, de fazer-se de forte sem o ser, de bancar o
iluminado somente porque transitou alguns anos nas tarefas assistencialistas ou
na leitura de uma dezena de livros libertadores. Os traumas da vida
extrafísica, a dor do arrependimento ou da culpa, do medo e da fuga têm ocasionado
reflexos mentais de difícil erradicação. Os remorsos na erraticidade,
provenientes do que fizeram ou deixaram de fazer em anteriores existências, têm
constituído a perpetuidade das provas que começam na carne e se mantém depois
da morte corporal... Expliquemos aos que possam nos ouvir no plano físico, a
importância da valorização mútua pela fraternidade, das equipes que se amam e
tratam a todos como uma família, o valor da atenção para com os que ingressam
na sociedade espírita, e a urgência do diálogo fraterno como fonte terapêutica
sobre os circuitos mentais auto-obsessivos.
Como assevera Inácio
Ferreira: os espíritas estão passando por uma loucura controlada, uma
psicose intermitente... Mas temos que perguntar: quantos conseguirão
manter esse controle e até quando?!
[1] O CONSOLADOR - Ano 16 - N° 792 - 2 de Outubro de 2022
- http://www.oconsolador.com.br/ano16/792/principal.html
[2] OLIVEIRA, W. Soares. Mereça ser feliz. Pelo
Espírito Ermance Dufaux, 2.ed.BHte: INEDE, 2003, cap. 35.
[3] Referência ao Hospital Esperança no mundo espiritual.
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