Vladimir Yegorovich Makovsky, Hiding From Wife (1872)
Rogério Coelho − outubro 12, 2022
Tudo o que aproxima o homem da
natureza material afasta-o da natureza espiritual.
Esforçando-se o
homem poderia vencer as suas más
inclinações se não lhe faltasse a vontade.
O Livro dos Espíritos, questão 909.
Segundo a nobre Mentora Joanna
de Ângelis, devemos ter por tarefa primordial (…) abandonar a
horizontalidade das viciações pela verticalidade ascensional da libertação de
sombras e dores, mágoas e inquietações. Assim, constitui-se atitude estoica
perante a vida abandonar vícios e imperfeições.
É alarmante comprovar, por
exemplo, como o alcoolismo vai invadindo as faixas etárias cada vez mais
tenras. A iniciação ao alcoolismo começa cada vez mais cedo a pretexto de
festas e comemorações, impondo uma segunda natureza constritora e voraz,
afirma ainda Joanna de Ângelis[2].
Informa o distinto Espírito Dr.
Carneiro de Campos[3]:
“(…) o alcoolismo é um dos maiores inimigos da criatura
humana. É de lamentar-se que o seu uso seja tão generalizado e, infelizmente,
haja adquirido status na sociedade. As reuniões, as celebrações e festividades
outras, sempre se fazem acompanhar de bebidas alcoólicas, responsáveis por incontáveis
danos ao organismo humano e à sociedade. Acidentes terríveis, agressões
absurdas, atitudes ignóbeis decorrem do seu uso, além dos vários prejuízos
orgânicos, emocionais e mentais que acarretam.
Verdadeiras legiões de vítimas se movimentam pelas avenidas
do mundo, como enxameiam nos campos, permanecem nos tugúrios da miséria ou nas
celas sombrias dos cárceres e dos hospitais, apresentando o triste espetáculo
da decadência humana. Milhões de lares sofrem os aflitivos e infelizes lances
da sua crueldade.
No inquietante momento em que o uso das drogas é
responsabilizado pela vigência de inumeráveis crimes hediondos, e se levantam
muitas vozes em protesto, buscando encontrar as causas sociológicas,
psicológicas e outras, para explicar a avalanche sempre crescente e assustadora
de viciados, urge que se estudem também os problemas do alcoolismo e suas
consequências, não menos alarmantes.
O alcoolismo, ou dependência do uso exagerado de
bebidas alcoólicas, constitui-se um grave problema médico, em face dos danos
que causa ao organismo do indivíduo e ao grupo social no qual este se
movimenta. A sua gravidade pode ser considerada pelo número dos internados em
hospitais psiquiátricos com desequilíbrios expressivos. As recidivas, após o
cuidadoso tratamento, são numerosas, não se considerando que as suas vítimas
ultrapassam em grande número as outras toxicomanias.
Na antiguidade, o uso de bebidas alcoólicas tornou-se
comum e quase elegante, caracterizando uma forma de projeção social ou de fuga
ante os desafios. Acreditava-se, no
passado, que o álcool e seus derivados diminuíam as angústias e tensões,
posteriormente se afirmando ou se justificando possuírem propriedades
fisiológicas, produzindo estímulo e vigor orgânicos.
O alcoolismo decorre de muitos fatores, entre os quais
a personalidade e a tolerância do organismo do paciente, variando com a idade,
o sexo, hereditariedade, hábitos e costumes, constituição e disposição
orgânica. Pode ser resultado de causas ocasionais, secundárias, psicopáticas e
conflituosidade neurótica.
(…) No começo, o indivíduo pode experimentar euforia,
dinamismo motor, porém vai perdendo o controle, o senso crítico, tomando-se
inconveniente. Com o tempo, surgem outros distúrbios orgânicos, tais as
náuseas, os vômitos, a incontinência urinária e, por fim, o sono comatoso, no
estado mais avançado.
À medida que a dependência aumenta e o uso se faz mais
frequente, a bebida alcoólica afeta o sistema nervoso, o trato digestivo, o
aparelho cardiovascular… As complicações que degeneram em gastrite e cirrose
hepática são inevitáveis, levando à morte, qual sucede no câncer do esôfago e
do estômago. Do ponto de vista psíquico, o alcoólatra muda completamente o
comportamento, e suas reações mentais são alteradas, a começar pelos prejuízos
da memória, até culminar no delirium tremens[4],
sem retorno ao equilíbrio…
(…) O alcoolismo é, portanto, uma enfermidade que exige
cuidadoso tratamento psiquiátrico. No
entanto, porque ao desencarnar o alcoólatra não morre, permanecendo vitimado
pelos vícios, quase sempre busca sintonia com personalidades frágeis ou
temperamentos rudes, violentos, na Terra, deles se utilizando em processo
obsessivo para dar prosseguimento ao infame consumo do álcool, agora
aspirando-lhes os vapores e beneficiando-se da ingestão realizada pelo seu
parceiro-vítima, que mais rapidamente se exaure. Torna-se uma obsessão muito
difícil de ser atendida convenientemente, considerando-se a perfeita
identificação de interesses e prazeres entre o hóspede e o seu anfitrião”.
Estraçalhando vidas preciosas
com prejuízos inimagináveis para a economia espiritual das criaturas e atrasos
lamentáveis no processo evolutivo, os hábitos deletérios devem ser afastados
para mais e mais nos distanciarmos dos lamaçais da iniquidade e das viciações
de variegado matiz, para aproximarmos cada vez mais de nossa natureza espiritual
onde resplandece a glória de Deus.
[2] FRANCO, Divaldo. SOS Família. 4.ed. Salvador: LEAL,
1984, p. 132-135.
[3] FRANCO, Divaldo. Trilhas da Libertação. 2.ed. Rio [de
Janeiro]: FEB, 1997, p.173-177.
[4] Sintomas graves de abstinência de álcool, como
agitação, confusão mental e alucinações.
O delirium começa
geralmente dois a cinco dias após a última dose de bebida e pode ser fatal. Agitação,
confusão mental, pressão arterial elevada, febre e alucinações são alguns dos
sintomas. O tratamento do alcoolismo pode começar com a desintoxicação em um
centro médico. Sedativos podem prevenir o delirium tremens (psicose
derivada do alcoolismo).
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