João Barbosa nasceu em Soengas,
Portugal, no dia 8 de fevereiro de 1676. Foi frade da ordem dos Franciscanos é
mais conhecido pelo nome que adotou ao entrar nessa ordem, Fabiano de Cristo.
Ainda jovem veio para o Brasil e aqui desenvolveu seu trabalho de dedicação e
amor ao próximo. Foram anos ininterruptos de completa doação em favor dos menos
favorecidos, dos desvalidos e dos doentes.
Filho de Gervásio Barbosa e da
Senhorinha Gonçalves, era um dos seis filhos do casal, o único homem. De suas
irmãs, quatro se tornaram religiosas. João Barbosa foi criado no campo,
cuidando de ovelhas. Sua família havia sido abastada e agora sofria limitações
financeiras. Por esses motivos João não teve oportunidade de dedicar-se aos
estudos. Buscando retomar os tempos áureos da nobreza, João muda-se para a
cidade do Porto onde espera enriquecer para dar vida mais confortável à
família. Na cidade do Porto, trabalha como conferente de cargas de uma
companhia exportadora de especiarias e lá ouve os rumores de uma terra rica que
existia do outro lado do Atlântico. Era o tempo do ciclo do ouro no Brasil e
chegam a João, pelos marinheiros, as notícias da riqueza e das oportunidades.
João fica maravilhado e resolve mudar-se para o Brasil. Junta-se com dois
sócios e realizam a travessia do Atlântico, desembarcando, meses depois, no Rio
de Janeiro.
Depois de desembarcar, ruma para
a cidade de Paraty, ponto de partida para os mineradores. Após muitas viagens
conhece as cidades de Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo (hoje Mariana) e Ouro
Preto. Descobre várias formas de trabalho e resolve voltar a Paraty para abrir
um comércio seguindo a “carreira das minas”. Com sua habilidade para o
comércio, enriquece em pouco tempo e, em 1704 já tem um imponente residência.
Mesmo na opulência, auxilia os necessitados, até que um fato inusitado vem
modificar sua vida. Um de seus sócios e um companheiro são assassinados na
aldeia de Aparição sem motivo aparente o que faz João repensar sobre sua
situação e perceber que a fortuna amealhada não representava nada.
Em meio a essa confusão em sua
mente, certo dia ele retorna para casa. Havia acabado de auxiliar
financeiramente uma família e caminhava pelas ruas da cidade. Percebe que a
multidão na calçada desvia de algo no chão. Aproximando-se, percebe que ali
havia uma pessoa abandonada no chão frio. Num impulso de solidariedade, João
abaixa-se e agasalha o estranho em seus braços.
Tentando acalmar o desconhecido
João fala:
− Vamos amigo, não tenha medo, procurarei ajudá-lo.
Sentindo um energia estranha João prossegue e o homem lhe
diz:
− Fui vítima de assaltantes.
João retruca:
− Não fale agora. Aqui perto há uma hospedaria. Lá será
mais confortável e mais fácil tratá-lo.
Uma vez na hospedaria, João passa a noite ao lado do
enfermo que em meio a delírios de febre lhe diz:
− Finalmente vens de encontro ao meu regaço.
João assusta-se:
− Mas quem é o senhor que parece conhecer-me?
E para sua surpresa, o estranho lhe diz:
− Sou aquele a quem há muitos séculos serves. Voltastes
a procurar-me porque cansaste de juntar bens materiais, mas vieste ao meu
encontro por procurares atender os aflitos, aplacando a fome do corpo. Mas seu
coração inundado de luz alcança muito mais. Para continuar a servir-me, vá onde
a dor é imensa. Enxugue as lágrimas maternais, ensine o caminho do Bem a quem
desviar-se por arrastamentos e tentações inferiores. Veja que é chegada a hora
para ti, de encontrares o verdadeiro tesouro que está nas Leis do nosso Pai.
João pergunta:
− Mas quem é o senhor afinal?
O “desconhecido” responde:
− Eu sou o Cristo, meu filho, e voltei para buscar-te e
lembrar-te de tua verdadeira missão. A todos que servires, será a mim que
estarás servindo. Portanto, dá tudo o que tens e terás a vida eterna. Terás-me
por inteiro, e dessa forma trabalharemos juntos a servir o nosso Pai.
Em pranto, João reflete sobre as
palavras do “doente” que desaparece sem deixar esclarecimentos. Passa o dia sem
poder esquecer aquele encontro a noite foi passada em claro. Quando a dia está
para nascer João consegue dormir e tem um sonho estranho. Vê-se num lugar muito
bonito e à sua frente um ser luminoso com um hábito marrom que lhe estende a
mão sorrindo. Reconhecendo a figura, João cai de joelhos e exclama:
− Francisco de Assis!
Francisco de Assis diz:
− Pois bem, meu irmão, se seu coração anseia em amparar
os aflitos e servir ao Senhor Jesus, vem comigo.
Ao que João retruca:
− Mas tenho que despojar-me dos bens terrenos.
E Francisco lhe fala mansamente:
− Os bens da vida eterna é que devem ser entesourados,
Barbosa. De agora em diante, o Evangelho será o seu tesouro maior. Não percas
mais tempo. Aplique-o na prática da caridade maior, entre todos. Você não
precisará mais percorrer muitos lugares para falar da paz e do amor de Cristo.
Muitos irão procurá-lo e você irá orientar-lhes para que encontrem o Reino de
Deus. Para que você trabalhe com tranquilidade, seu trabalho será de cargo
singelo. Seu coração se nutrirá de paciência e resignação. Seu corpo sofrerá
para que liberto seja o seu espírito das tentações da carne.
Aos poucos as palavras de
Francisco de Assis iam ser tornando incompreensíveis e a figura desaparece.
João Barbosa acorda assustado, mas com uma paz indizível. Surge então em sua
mente o Convento de São Bernardino de Sena. Ele não tem dúvida era ali que ele
deveria se entregar ao Cristo!
Dividiu a sua fortuna em três
partes: a primeira foi enviada a Portugal para a família e outros acertos; a
segunda, parte foi destinada às obras de caridade; e a terceira foi distribuída
entre os pobres. E em 8 de novembro de 1704 apresenta-se no convento e, em 11
de novembro do mesmo ano, veste o hábito marrom de São Francisco trocando seu
nome de João para "Frei Fabiano de Cristo". Na sua formação optou por
ser frade franciscano.
Em 1705, Frei Fabiano de Cristo
é transferido para o Convento Santo Antônio, no Rio de Janeiro. Lá ele
desempenharia a função de porteiro. Por volta de 1708, Frei Fabiano assume o
cargo de enfermeiro, muito embora não tivesse conhecimento sobre o assunto. Na
enfermaria, como em todos os cargos que ocuparia, seu amor seria exemplo de
dedicação. Optou por dormir na própria enfermaria a fim de ficar junto com os
doentes noite e dia caso algum deles precisasse de seus cuidados. Serviu nesse
posto por quase trinta e oito anos.
Frei Fabiano após anos de
serviço no bem, desenvolveu uma erisipela crônica nas pernas que o impedia de
maiores movimentos. Apareceu-lhe também um quisto num dos joelhos que, segundo
os médicos era pelas horas que Fabiano ficava de joelho ao orar. Embora a
recomendação de repouso Fabiano não reduziu as horas de trabalho em benefício
do próximo. Nunca se queixou de dores, apenas de não poder trabalhar mais na
enfermaria. Seu joelho foi submetido a quatro operações sem anestesia,
inexistente na época. Prevendo sua partida, Fabiano anuncia três dias antes,
que estava próximo o momento de sua ida. Em 17 de outubro de 1747, por volta
das duas da tarde, rodeado pelos confrades, Fabiano deixa a vida física. Uma
multidão vem às portas do convento para se despedir de Fabiano. Conta-se que
ele foi se despedir do Superior do Convento e pede-lhe para abraçar, um por um,
todos os enfermos e companheiros da enfermaria um dia antes de sua morte. Sua
ossada ainda se encontra no Convento em que ele passou maior parte de sua vida
e não são poucos os que ali vão para pedir a cura de enfermidades e as graças
para o Frei Fabiano de Cristo.
Segundo os espíritas, Frei
Fabiano de Cristo seria a reencarnação do Padre José de Anchieta, e até hoje
trabalharia em favor dos necessitados inspirando mãos amigas na Terra. Muitas
instituições foram fundadas com o seu nome, a maioria espíritas. São muitos os
casos de que Fabiano teria curado vários doentes quando ainda trabalhava na
enfermaria do convento, ou de pessoas que, mesmo distantes, afirmam ter
recebido a visita espiritual de Fabiano curando-as mesmo quando ele ainda
estava vivo num fenômeno chamado de desdobramento.
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