sábado, 30 de julho de 2022

EMPATIA OU SIMPATIA, QUAL É A MELHOR POSTURA?[1]

 

Adriana Machado

 

Tenho visto muitos artigos ou mensagens nas redes sociais que falam sobre as nossas posturas diante do próximo. Dentre elas, a distinção entre estarmos simpáticos ou empáticos uns com os outros.

Pelo que pude perceber, tais posturas são primeiramente ações, aptidões. Tanto uma como outra, leva-nos a agir com o próximo com carinho e respeito, até mesmo com amor. Uma, no entanto, a empatia, nos leva a nos colocar no lugar da outra pessoa, agindo e pensando como ela se estivéssemos na mesma circunstância. Ela é uma aptidão que conquistamos para nos identificar com o outro, sentindo o que ele sente, desejando o que ele deseja, aprendendo da maneira como ele aprende etc.

Já a simpatia, é uma atração que provocamos na outra pessoa. É um sentimento de reconhecimento ou consentimento que se desperta no outro. Percebemos assim que a simpatia pode provocar um afeto que faz com que duas ou mais pessoas se mantenham unidas. A simpatia é uma tendência para nos solidarizarmos com algo ou alguém.

Bem, seguindo com esse raciocínio, podemos ser empáticos e simpáticos em situações positivas ou negativas. Mas, como nas primeiras (positivas) não existe muita complexidade na atuação destes, vamos nos ater às segundas situações.

Pensemos em alguém necessitado de compreensão. Então, buscando uma imagem metafórica, seria perceber que alguém está cavando um poço profundo abaixo de si sem parar. Quando percebemos e chegamos próximos, podemos nos jogar de cabeça naquele buraco para resgatar esse ser, ou ficar à margem, chamando-o e indicando onde se encontraria a escada que depositamos no buraco e que o auxiliaria a enxergar a sua ação e, por consequência, a saída. Mas, seriam somente essas as atitudes que poderíamos tomar? Verdadeiramente não. Então, vejamos.

Se eu me jogar de cabeça, como farei para sair do buraco aberto pelo meu próximo? Como enxergarei claramente se não busquei pensar, lá no topo, qual seria o meu próximo passo após convencê-lo de que ficar ali não o levaria a solucionar o seu problema?

Antes de qualquer atitude, preciso entender o que está acontecendo, seja com a pessoa que está precisando do auxílio, seja comigo mesma. Preciso ser franca e me questionar: tenho condições para abraçar essa tarefa? Se eu estiver lá dentro com ele, poderei ajudá-lo a sair ou acabarei como ele? Tenho instrumentos para sair dali depois, seja sozinha seja com ele?

Claro que sair dessa situação será uma atitude individual, motivada pelo livre arbítrio de cada um. Para aquele que desce em auxílio, é mais do que necessário ter o entendimento de que não pode ficar lá embaixo por muito tempo.  Isso porque não estaremos incentivando o outro a sair se ele estiver confortável conosco ao seu lado. Não são poucas às vezes que o outro se joga lá embaixo porque acredita que será a única forma de ser lembrado ou amado. Diante dessa manobra inconsciente dele, somente o levaremos a sair dali quando ele perceber que poderá ser amado fora dali. Claro que poderemos descer tantas vezes quantas forem necessárias, mas o tempo que dispusermos ali também terá que ser proporcional à vontade do outro de se libertar de suas correntes.

São atitudes maduras que temos de enfrentar, porque muitas vezes, por algumas experiências entrarem em nossas vidas, pensamos que temos de abraçá-las, mas isso não é real. Já me vi me jogando dentro do poço atrás dos meus amores, não percebendo que, por eu estar lá com eles sem o raciocínio que liberta, muita dificuldade tive para ajudar a sairmos todos de lá!

Vocês poderiam estar pensando que esse é um raciocínio mesquinho, porque se um parente, filho, companheiro, estiver mal, por não acreditarmos que temos capacidade ou por não podermos ficar lá por muito tempo, deixaremos de ajudá-los, abandonando-os? Não, não é isso. O que significa é que, se eu sou empático àquela pessoa, ou seja, se consigo compreender o seu ponto de vista, me colocando até em seu lugar, terei que, ao descer no buraco, estar com todos os instrumentos que possuo para sair dele depois. Se eu consigo enxergar a sua dor, não significa que eu a queira senti-la a ponto de me impossibilitar ajudar a quem eu tinha como alvo do meu auxílio. Senão, serão dois atolados necessitando de ajuda!

Ainda, tenho que ser muito sincera comigo, porque talvez não tenha que ser eu a retirá-lo de lá. Se eu estou incapaz de ajudar pessoalmente, posso buscar quem possa fazê-lo por mim (outro instrumento, outra ferramenta de auxílio).

Para tudo isso, ainda seria necessário que sejamos simpáticos aos olhos daquele que se deixou cair, porque nesta relação, se ele não sentir a conexão conosco, nossa intervenção poderá não adiantar naquele momento.

Mas, friso que somos quem somos e Deus sabe disso. Se estamos na vida de alguém, ele poderá necessitar de nós como somos, às vezes, simpáticos, às vezes empáticos, às vezes, antipáticos e nada compreensivos.

 

Então, a melhor postura é sermos nós mesmos, sempre tentando nos colocar no lugar do outro e amando a vida e o próximo da forma que sabemos, para que a empatia e a simpatia se transformem em nossos instrumentos de auxílio.

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