sexta-feira, 29 de julho de 2022

INDICADORES PREOCUPANTES DA FALTA DE SABEDORIA HUMANA[1]

 

Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Mais um dado preocupante foi trazido à lume por um artigo da revista “Veja”[2] de 6 de outubro passado, cujo título por si só já desperta, no mínimo, certo constrangimento: “Mentes não tão brilhantes”. Os articulistas recorreram ao insuspeito e onipresente teste de quociente de inteligência (Q.I.) para fundamentar as suas opiniões, cujas quais expressam pessimismo com relação à capacidade cognitiva das gerações atuais. O motivo por eles alegado é o exagerado consumo tecnológico, que tem per se escravizado as mentes dos mais desavisados. Os autores do referido texto constataram que nas últimas décadas deste século, as conquistas atreladas ao Q.I. vêm caindo significativamente.

Citando um estudo realizado na Noruega com 730.000 jovens convocados para o serviço militar obrigatório nos últimos quarenta anos, eles reportam descobertas surpreendentemente decepcionantes. Ou seja, os noruegueses apresentaram uma queda nesse indicador de 2 pontos por ano nos anos 1980, 1,3 ponto nos anos 1990 e 0,2 no corrente século.

Além disso, não deixa de ser alarmante o fato de que não se trata de um fenômeno restrito a uma única nação. Ao contrário. Resultados semelhantes foram colhidos, segundo eles, no Reino Unido e na Dinamarca. Mais ainda, os especialistas têm alertado que o cerne do problema reside nas acentuadas mudanças de estilo de vida. Ou seja, derivam da

“... imersão constante e indiscriminada nos eletrônicos. As plataformas de vídeos, as redes sociais e os aplicativos de mensagens alimentam as discussões embotadoras, nas quais crenças se sobrepõem à razão e a ideologia impede o confronto de ideias enriquecido pelo saber científico – aquele que não se atém às primeiras linhas de um texto, mas se ampara nele inteiro”.

Não se trata, é óbvio, de abdicar completamente das conquistas obtidas nesse particular. A questão é como dosá-las, de modo a não se tornarem um vício, dependência ou, pior ainda, embotamento mental. Sabe-se também que muito do mal que ora grassa nessa esfera advém de hábitos inadequados que estão sendo cultivados desde tenra idade. Com efeito, não é incomum uma criança que mal anda já possuir um smartphone, por exemplo, e com ele se entreter horas a fio. Pelo menos assim tem sido em muitas famílias, cujos pais não têm muita paciência para lidar com os chiliques da sua prole. No entanto, tal procedimento pode gerar graves problemas para a criança.

Segundo o artigo, outra pesquisa realizada pela Universidade de Alberta, no Canadá, com crianças de 5 anos ou menos, e que passam mais de duas horas por dia on-line, estão cinco vezes mais sujeitas a apresentar dificuldades de concentração, bem como sete vezes mais propensas a portar sintomas de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). A recomendação dos especialistas, portanto, é a do mínimo uso de tais recursos. Ademais, a conclusão apresentada pelos autores parece muito pertinente: as crianças precisam de mais integração social, engajamento em brincadeiras e em problemas e discussões que ocorrem fora das telas. Em outras palavras, elas necessitam viver mais plenamente.

Tal cenário, além de representar notória ameaça ao desenvolvimento da capacidade cognitiva humana, também traz problemas na dimensão espiritual, que necessita igualmente de análise e reflexão. Aliás, como bem observa o Espírito Emmanuel, na obra "Fonte Viva” (psicografia de Francisco Cândido Xavier), “A vida é processo de crescimento da alma ao encontro da Grandeza Divina”. Sendo assim, nada indica que o excessivo apego às redes sociais ou outros tipos de divertimentos proporcionados pelo universo tecnológico cooperem nesse sentido. Na verdade, tais invenções têm sido muito bem usadas pelas trevas para prender a atenção dos seres humanos encarnados – via obsessão - e desviando-os, assim, do que realmente importa.

Já para o Espírito Joanna de Ângelis, no livro “Vidas Vazias” (psicografia de Divaldo Pereira Franco), a sociedade atual precisa definitivamente entender que está vivendo num corpo carnal, a fim de alcançar a plenitude. Dito de outra forma, não estamos aqui para suprir exclusivamente as nossas necessidades inferiores, isto é, as biológicas, conforme a elaborada conceituação de Abraham Maslow (1908-1970), na sua hierarquia das necessidades humanas. Há algo mais desafiador nos aguarda e que abarca a nossa origem propriamente dita.

Desse modo, é vital que o indivíduo desperte para a importância do desenvolvimento da sua inteligência espiritual – o que exige determinação, prática e o bom aproveitamento do tempo (matéria prima cada vez mais escassa), enfim. Conhecer-se e aperfeiçoar-se interiormente constituem metas de vida altamente relevantes, que todos deveriam igualmente buscar realizar. Adquirir o hábito de dialogar consigo mesmo, encarar as nódoas da personalidade e enfrentar as atitudes infelizes são providências essenciais para quem, de fato, almeja algo mais além da quase sempre espinhosa experiência na matéria. Somente a obtenção dessa capacitação poderá lhe facultar a devida conexão com os elevados ideais da vida, que lhe garantirão a paz de espírito e a felicidade permanentes.

E ao se despojar das frivolidades e dos hábitos nocivos, tão em voga na atualidade, o indivíduo poderá começar a construir, finalmente, um patrimônio de luz imperecível.  



[1] O CONSOLADOR - Ano 16 - N° 782 - 24 de Julho de 2022  - http://www.oconsolador.com.br/ano16/782/ca1.html

[2] Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2021, edição nº 2758

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