Anselmo Ferreira Vasconcelos
Mais um dado preocupante foi
trazido à lume por um artigo da revista “Veja”[2]
de 6 de outubro passado, cujo título por si só já desperta, no mínimo, certo
constrangimento: “Mentes não tão brilhantes”. Os articulistas recorreram ao
insuspeito e onipresente teste de quociente de inteligência (Q.I.) para
fundamentar as suas opiniões, cujas quais expressam pessimismo com relação à
capacidade cognitiva das gerações atuais. O motivo por eles alegado é o
exagerado consumo tecnológico, que tem per se escravizado as mentes dos mais
desavisados. Os autores do referido texto constataram que nas últimas décadas
deste século, as conquistas atreladas ao Q.I. vêm caindo significativamente.
Citando um estudo realizado na
Noruega com 730.000 jovens convocados para o serviço militar obrigatório nos
últimos quarenta anos, eles reportam descobertas surpreendentemente
decepcionantes. Ou seja, os noruegueses apresentaram uma queda nesse indicador
de 2 pontos por ano nos anos 1980, 1,3 ponto nos anos 1990 e 0,2 no corrente
século.
Além disso, não deixa de ser
alarmante o fato de que não se trata de um fenômeno restrito a uma única nação.
Ao contrário. Resultados semelhantes foram colhidos, segundo eles, no Reino
Unido e na Dinamarca. Mais ainda, os especialistas têm alertado que o cerne do
problema reside nas acentuadas mudanças de estilo de vida. Ou seja, derivam da
“... imersão constante e indiscriminada nos
eletrônicos. As plataformas de vídeos, as redes sociais e os aplicativos de
mensagens alimentam as discussões embotadoras, nas quais crenças se sobrepõem à
razão e a ideologia impede o confronto de ideias enriquecido pelo saber
científico – aquele que não se atém às primeiras linhas de um texto, mas se
ampara nele inteiro”.
Não se trata, é óbvio, de
abdicar completamente das conquistas obtidas nesse particular. A questão é como
dosá-las, de modo a não se tornarem um vício, dependência ou, pior ainda,
embotamento mental. Sabe-se também que muito do mal que ora grassa nessa esfera
advém de hábitos inadequados que estão sendo cultivados desde tenra idade. Com
efeito, não é incomum uma criança que mal anda já possuir um smartphone, por
exemplo, e com ele se entreter horas a fio. Pelo menos assim tem sido em muitas
famílias, cujos pais não têm muita paciência para lidar com os chiliques da sua
prole. No entanto, tal procedimento pode gerar graves problemas para a criança.
Segundo o artigo, outra pesquisa
realizada pela Universidade de Alberta, no Canadá, com crianças de 5 anos ou
menos, e que passam mais de duas horas por dia on-line, estão cinco vezes mais
sujeitas a apresentar dificuldades de concentração, bem como sete vezes mais
propensas a portar sintomas de transtorno de déficit de atenção com
hiperatividade (TDAH). A recomendação dos especialistas, portanto, é a do
mínimo uso de tais recursos. Ademais, a conclusão apresentada pelos autores
parece muito pertinente: as crianças precisam de mais integração social,
engajamento em brincadeiras e em problemas e discussões que ocorrem fora das
telas. Em outras palavras, elas necessitam viver mais plenamente.
Tal cenário, além de representar
notória ameaça ao desenvolvimento da capacidade cognitiva humana, também traz
problemas na dimensão espiritual, que necessita igualmente de análise e
reflexão. Aliás, como bem observa o Espírito Emmanuel, na obra "Fonte Viva”
(psicografia de Francisco Cândido Xavier), “A vida é processo de crescimento da
alma ao encontro da Grandeza Divina”. Sendo assim, nada indica que o excessivo
apego às redes sociais ou outros tipos de divertimentos proporcionados pelo
universo tecnológico cooperem nesse sentido. Na verdade, tais invenções têm
sido muito bem usadas pelas trevas para prender a atenção dos seres humanos
encarnados – via obsessão - e desviando-os, assim, do que realmente importa.
Já para o Espírito Joanna de
Ângelis, no livro “Vidas Vazias” (psicografia de Divaldo Pereira Franco), a
sociedade atual precisa definitivamente entender que está vivendo num corpo
carnal, a fim de alcançar a plenitude. Dito de outra forma, não estamos aqui
para suprir exclusivamente as nossas necessidades inferiores, isto é, as
biológicas, conforme a elaborada conceituação de Abraham Maslow (1908-1970), na
sua hierarquia das necessidades humanas. Há algo mais desafiador nos aguarda e
que abarca a nossa origem propriamente dita.
Desse modo, é vital que o
indivíduo desperte para a importância do desenvolvimento da sua inteligência
espiritual – o que exige determinação, prática e o bom aproveitamento do tempo
(matéria prima cada vez mais escassa), enfim. Conhecer-se e aperfeiçoar-se
interiormente constituem metas de vida altamente relevantes, que todos deveriam
igualmente buscar realizar. Adquirir o hábito de dialogar consigo mesmo,
encarar as nódoas da personalidade e enfrentar as atitudes infelizes são
providências essenciais para quem, de fato, almeja algo mais além da quase
sempre espinhosa experiência na matéria. Somente a obtenção dessa capacitação
poderá lhe facultar a devida conexão com os elevados ideais da vida, que lhe
garantirão a paz de espírito e a felicidade permanentes.
E ao se despojar das
frivolidades e dos hábitos nocivos, tão em voga na atualidade, o indivíduo
poderá começar a construir, finalmente, um patrimônio de luz imperecível.
[1] O CONSOLADOR - Ano 16 - N° 782 - 24 de Julho de
2022 - http://www.oconsolador.com.br/ano16/782/ca1.html
[2] Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2021, edição nº
2758
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