Eu pressentira, mau grado a
prejuízos de infância e de educação, mau grado ao culto da lembrança, a época
atual. Sou feliz por isso (...) , é como se expressa Chateaubriand na
mensagem, inserida em O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. XXXI, item II.
Esse mágico do verbo e
infatigável viajor dos séculos, nasceu François René, Visconde de
Chateaubriand, no dia 4 de setembro de 1768, em Saint-Malo, último filho de uma
família católica. Frequentou o Colégio, engajou-se no Exército, frequentou a
corte e a sociedade de Paris. Espírito irrequieto e aventureiro, embarcou para
a América do Norte aos 23 anos, tendo percorrido vastas regiões de florestas
virgens e estabelecido contatos com tribos indígenas.
Ele conheceu o exílio e a
glória, provações e homenagens, o desprezo e o poder. Político e escritor,
participou de grandes momentos da História, que registrou em sua obra “Recordações
de Além Túmulo”, publicada em forma seriada, em Paris, de 21 de outubro de 1848
a 3 de julho de 1850, portanto depois de sua morte.
Escrita após a revolução de
1830, num período de completo isolamento, a obra apresenta uma galeria
brilhante de personalidades da época, de dimensões históricas, políticas,
sociais e literárias, cimentando o prestígio permanente de Chateaubriand na
literatura francesa.
"Da primeira à última
página das Mémoires sente-se a presença do autor, com as suas fraquezas, a sua
coragem, o seu orgulho, a sua grande força de escritor", tanto quanto o
difícil caminho de um aristocrata e intelectual após a Revolução.
Seu retorno à Europa se deu
imediatamente após saber da fuga e prisão do rei Luís XVI, em Varennes. Diante
da queda da monarquia, alistou-se no exército dos príncipes emigrados, que
combatiam as forças revolucionárias. Ferido no cerco de Thioville, refugiou-se
na Inglaterra em 1793, onde se sustentou dando lições de francês e fazendo
traduções.
Trabalhou ali numa epopeia
indígena publicada em 1826, “Os Natchez”. Sua primeira obra, contudo, “Ensaio Histórico,
Político e Moral sobre as Revoluções Antigas e Modernas”, considerada em suas
relações com a Revolução Francesa, viria a lume em 1797.
Também é na capital londrina que
ele reconquista sua fé perdida, inicia sua obra de apologia da religião cristã
e resolve dedicar seu gênio literário à defesa e restauração das crenças
religiosas, que a Revolução havia abalado.
Retornou à França em 1800 e em
1801 publicou um episódio retirado de “Os Natchez”, “Atala”, ou “Os Amores de Dois
Selvagens no Deserto”. Ali, a jovem Atala salva o herói e prefere a morte ao
casamento com Chactas, a fim de não ferir um voto que fizera à Virgem Maria.
Quatro anos depois, outro
episódio seria publicado: “René”, onde se evidencia sua qualidade de discípulo
de Rousseau, pintando através do seu personagem, o retorno do homem civilizado
à Natureza. É um combate à lassidão, à impotência dos ‘tempos modernos’, com
significação moral.
Uma apologia da fé cristã,
publicada em 1802 é sua obra mais famosa: “O Espírito do Cristianismo”, com a
qual ele conquista Napoleão, que desejava oficializar a religião católica como
religião do Estado. Nela se encontra emoção religiosa e poesia, consagrando o
escritor como uma espécie de guia espiritual de sua época.
Em tributo de gratidão, Napoleão
o nomeia secretário da Embaixada em Roma e depois ministro no cantão suíço de
Valais, em 1804. Nesse ano, a 21 de março, a execução do duque de Enghien
desperta os sentimentos monárquicos adormecidos em Chateaubriand. Ele se demite
da carreira diplomática e se encerra numa oposição prudente, mas tenaz, ao
imperador, apesar de todas as tentativas daquele para o reconquistar.
Eleito para a Academia Francesa
de Letras, é impedido de pronunciar seu discurso de posse, considerado
abertamente provocador. Mais tarde, em 1811 publicou um panfleto contra
Napoleão e em 1816 define seu ideal político, defendendo a tese de que o rei
deve reinar, mas não governar.
Após a ruptura com Napoleão, já
célebre em toda a Europa, Chateaubriand medita em coroar exitosamente a sua
obra de apologista da religião cristã, através de uma epopeia de seus mártires.
Viaja a Jerusalém e no retorno, publica “Os Mártires” ou “O triunfo da Religião
Cristã”, e depois “Itinerário de Paris a Jerusalém..., Vida de Rancé” (relato
da vida do Reformador da Ordem dos Trapistas no século XVII).
Chateaubriand firmou-se como um
dos grandes precursores do Romantismo, pelo conteúdo das emoções variadas de
sua obra, pela intensidade e poder dos muitos momentos exemplares do seu
estilo.
Com certeza, estaria a pensar
nas próprias reformas que ele presenciara e vivera no seu período de vida
física, findo em 4 de julho de 1848, na capital francesa.
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