Allan Kardec
(Lyon, 11 de março
de 1867 – Médium: Sra. B...)
“Naquele tempo não
haverá mais gritos, nem luto, nem trabalho, porque o que era antes terá
passado”.
Esta predição do Apocalipse foi
ditada há dezoito séculos, e ainda se espera que tais palavras se realizem,
porque sempre se encaram os acontecimentos quando se passaram, e não quando se
desdobram aos nossos olhos.
Todavia, esta época predita
chegou. Não há mais dores para aquele que soube colocar-se à margem da estrada,
a fim de deixar passar as mesquinharias da vida, sem as deter para delas fazer
uma arma ofensiva contra a sociedade.
Estais em meio a estes tempos
como a espiga dourada está na colheita; vivei sob o olhar de Deus e sua
irradiação vos ilumina! Por que vos inquietais com a marcha dos acontecimentos,
que foram previstos por Deus, quando não passáveis de crianças da geração de
que falava Jesus, quando dizia:
Antes
que esta geração passe acontecerá grandes coisas?
O que sois, Deus o sabia; o que
sereis Deus o vê! Cabe a vós bem vos compenetrardes do caminho que vos é
traçado, porque vossa tarefa é de vos submeterdes a tudo o que Deus decidiu.
Vossa resignação, e sobretudo a vossa amenidade, não são senão testemunhos de
vossa inteligência e de vossa fé na eternidade.
Acima de vós, neste Universo
onde se move o vosso mundo, planam os Espíritos mensageiros, que receberam a
missão de vos guiar. Eles sabem quando se realizarão os acontecimentos
preditos. Eis por que vos dizem:
Não
haverá mais gritos, nem luto, nem trabalho.
Sem dúvida não pode mais haver
grito para aquele que se submete às vontades de Deus, e que aceita as suas
provas. Não há mais luto, visto que sabeis que os Espíritos que vos precederam
não estão perdidos para vós, mas estão em viagem. Ora, não se veste luto quando
um amigo se ausenta.
O próprio trabalho se torna um
favor, pois se sabe que é um concurso à obra harmônica que Deus dirige; então,
executa-se a sua parte de trabalho com a solicitude do escultor que se põe a
polir a sua estátua. É uma recompensa infinita que Deus vos concede.
Entretanto, ainda encontrareis
entraves em vossas tentativas para chegar ao melhoramento social. É que jamais
se chega ao resultado sem que a luta venha firmar os seus esforços. O artista é
obrigado a vencer os obstáculos que se opõem à irradiação de seu pensamento;
não se torna vitorioso senão quando soube elevar-se acima das privações e dos
vapores brumosas que envolvem seu gênio, ao nascer.
A ideia que surge foi semeada
pelos Espíritos quando Deus lhes disse:
Ide
e instruí as nações; ide e espalhai a luz.
Essa ideia, que cresceu com a
rapidez de uma inundação, naturalmente deve ter encontrado contraditores,
opositores e incrédulos. Ela não seria a fonte da vida, se tivesse sucumbido
sob as zombarias que a acolheram em seu começo. Mas o próprio Deus guiava
este pensamento através da imensidade; ele a fecundava na terra e ninguém a
destruirá! Seria inútil que procurassem extirpar suas raízes; trabalhariam em
vão para aniquilá-la nos corações; as crianças trazem-na ao nascer, e dir-se-ia
que um sopro de Deus a incrusta em seu berço, como outrora a Estrela do Oriente
iluminava os que vinham perante Jesus, trazendo ele mesmo a ideia regeneradora
do Cristianismo.
Bem vedes, pois, que esta
geração não passará sem que aconteçam grandes coisas, pois que com a ideia, a
fé se eleva e a esperança irradia... Coragem! O que foi predito pelo Cristo
deve realizar-se. Nestes tempos de aspiração à verdade, a luz que ilumina todo
homem que vem a este mundo brilha de novo sobre vós.
Perseverai na luta, sede firmes
e desconfiai das armadilhas que vos estendem; permanecei ligados a essa
bandeira em que inscrevestes: Fora da caridade não há salvação, e depois
esperai, porque aquele que recebeu a missão de vos regenerar volta, e ele
disse: Bem-aventurados os que conhecerem meu nome de novo!
Um Espírito
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