Rogério Miguez – 12/julho/2022
Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a
entendia Jesus?
“Benevolência para com todos, indulgência para as
imperfeições dos outros, perdão das ofensas[2]”.
Quando Allan Kardec, já quase ao
final da parte terceira de O Livro dos Espíritos, abordou temas
referentes à Justiça, Amor e Caridade, de modo a melhor compreender esta tríade
de destacados temas, elaborou uma pergunta bem direta, todavia, talvez, muitos não
tenham se dado conta da sua importância. Trata-se da questão anteriormente
transcrita.
O primeiro destaque em relação à
pergunta é o fato de Allan Kardec ter indagado aos Espíritos a opinião de Jesus
sobre o tema caridade. Por qual razão não perguntou genericamente: Qual o
verdadeiro sentido da palavra caridade? Como devemos praticar a
caridade? Como Deus entende a caridade? O que é caridade segundo
as leis de Deus? São muitas opções, mas o Educador de Lion se interessou
particularmente pela visão específica de Jesus, como se esta representasse uma
orientação de destaque sobre o tema.
A surpresa da resposta, não
sabemos se também teria sido para Kardec, foi quando os Espíritos, quem sabe o
próprio Jesus, desconhecemos quem ditou a resposta, citou apenas modalidades da
caridade moral ou imaterial, para bem expressá-la, àquela não dependendo de
bens objetivos, mas apenas de tesouros subjetivos, plenamente se realizando
pelo exercício das conhecidas virtudes.
É fato ser o dileto discípulo de
Pestalozzi, mais à frente, por outras indagações, explorado especificamente a
posição da famosa esmola, tão bem conhecida de todos, a mais direta, talvez a
mais fácil forma de se praticar a caridade. Em sentido mais abrangente podendo
representar qualquer doação material a necessitados, seja o que for: cobertor,
moeda, sopa, remédio…
Contudo, naquele momento, quando
se construía a pedra fundamental do pensamento kardequiano, O Livro dos
Espíritos, a caridade moral, tudo indica, aparentemente, foi designada como
a mais relevante, importante e meritória. Afinal, é o entendimento de Jesus,
embora tenhamos plena consciência da temática caridade ter sido explorada de
mil formas pela espiritualidade, descrevendo incontáveis facetas dela, ao longo
dos compêndios espíritas.
Destaca-se também da resposta o
fato de os Espíritos terem apontado exatamente estas três, entre tantas
possibilidades: Benevolência, Indulgência e Perdão, como
virtudes mais representativas da prática da caridade, especificamente moral.
Da percepção comum, benevolência
expressa a qualidade de alguém que é benevolente, quer dizer, é afetuoso, age
com estima em relação ao próximo. Pode significar também demonstrar bondade, ou
mesmo boa vontade. Ou seja, se expressa caridade por esta virtude, apenas
através de atitudes simples, no trato com os outros, sendo igualmente
compreensivo e tolerante.
A propósito, quando perguntaram
a Chico Xavier em que
matéria Emmanuel era mais exigente, o médium mineiro disse categórico: No
trato com os outros[3].
Reflitamos agora um tanto sobre
a indulgência. Característica de quem é indulgente, isto significa ter
facilidade em perdoar faltas alheias. Intimamente vinculada à clemência,
tolerância e perdão, que são atitudes ligadas à absolvição de outrem sobre castigos
e punições. Interessante notar que do latim indulgentia, que provém de indulgeo,
tem o significado de para ser gentil ou perdão de uma pena. Desta forma,
indulgência está intimamente ligada à benevolência e mesmo ao perdão.
A terceira indicação de Jesus
seria perdoar. Liberar alguém de uma culpa, ofensa, dívida, sendo fundamental
não guardar ressentimentos, rancor, raiva. É de se notar que pode ser aplicada
a si mesmo, da mesma forma que a indulgência, visto que podemos também ser
indulgentes conosco mesmos.
Desta ligeira análise das três
sugestões do Cristo, ou da interpretação do pensamento de Jesus, pelos
Espíritos superiores responsáveis pela resposta, observa-se que a segunda
recomendação possui uma fronteira com a primeira quando se imagina o ser gentil
como uma atitude indulgente, de igual modo, também possui uma interface com a
terceira, no que tange ao ato de perdoar, é a essência da indulgência.
Sendo assim, poderíamos destacar
entre as três, a indulgência, pois se exercitada na sua plenitude, poderia
abranger as outras duas.
Entretanto, como nos é difícil
viver a indulgência!
Eis aí um desafio, para todos os
aprendizes das leis eternas do Pai, valendo a pena lembrar que ser indulgente
não significa ser conivente, entendimento obtuso desta prática que comumente
alcança os espíritas, acreditando que por conta de serem indulgentes devem:
tudo tolerar, tudo aceitar, tudo permitir, principalmente nas atividades dentro
das casas espíritas, por conta deste equivocado entendimento, vemos comumente
desvios doutrinários, na prática e na teoria, sendo exercitados nas agremiações
espíritas.
Não somos juízes da conduta
alheia, tampouco censores do entendimento do próximo, contudo, há que existir
bom senso, equilíbrio, não permitindo que o movimento espírita, através de suas
unidades praticantes, os centros, deem exemplos lamentáveis aos que nos
procuram em busca de orientação de fato espírita, desorientando-os baseados em
entendimentos pessoais de seus dirigentes.
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