Holly Honderich - Da BBC News em Washington - 28 fevereiro 2022
Novos dados de um
"acidente" científico sugerem que a vida pode realmente passar diante
de nossos olhos enquanto morremos.
Uma equipe de cientistas se
propôs a medir as ondas cerebrais de um paciente de 87 anos que havia
desenvolvido epilepsia. No entanto, durante o monitoramento neurológico, ele
sofreu um ataque cardíaco fatal — e isso proporcionou o registro inesperado de
um cérebro que está morrendo.
O monitoramento revelou que nos
30 segundos antes e depois as ondas cerebrais do paciente seguiram os mesmos
padrões de sonhar ou recordar memórias.
Uma atividade cerebral deste
tipo pode sugerir que uma "recordação final da vida" pode ocorrer nos
últimos momentos de alguém, escreveu a equipe em seu estudo, publicado na
revista científica Frontiers in Aging Neuroscience na terça-feira
(22/02).
Ajmal Zemmar, coautor do estudo,
disse que o que a equipe, então baseada em Vancouver, no Canadá, obteve
acidentalmente, foi o primeiro registro de um cérebro na hora da morte.
"Isso foi totalmente por
acaso, não planejamos fazer este experimento ou gravar estes sinais",
disse ele à BBC.
Então será que vamos ver uma
retrospectiva de momentos com entes queridos e outras memórias felizes? Zemmar
afirma que é impossível dizer.
"Se eu fosse passar para o
reino filosófico, especularia que, se o cérebro fizesse uma retrospectiva,
provavelmente gostaria de lembrá-lo de coisas boas, em vez de coisas
ruins", avalia.
Mas o que é memorável seria
diferente para cada pessoa.
Zemmar, agora neurocirurgião da
Universidade de Louisville, nos EUA, disse que nos 30 segundos antes do coração
do paciente parar de fornecer sangue ao cérebro, suas ondas cerebrais seguiram
os mesmos padrões de quando realizamos tarefas de alta demanda cognitiva, como
quando nos concentramos, sonhamos ou evocamos memórias.
E continuou 30 segundos depois
que o coração do paciente parou de bater — momento em que um paciente é
normalmente declarado morto.
Esta poderia ser uma última lembrança de memórias que
tivemos na vida, e elas são reprisadas em nosso cérebro nos últimos segundos
antes de morrermos.
O estudo também levanta questões
sobre quando exatamente a vida termina — quando o coração para de bater ou o
cérebro para de funcionar.
Zemmar e sua equipe advertiram
que conclusões amplas não podem ser tiradas de um estudo com apenas uma pessoa.
O fato de o paciente ser epiléptico, com o cérebro com hemorragia e inchado,
complica ainda mais as coisas.
Nunca me senti à vontade para
relatar um único caso, diz Zemmar.
E durante anos após o registro
inicial em 2016, ele procurou casos semelhantes para ajudar a fortalecer a
análise, mas não teve sucesso.
Mas um estudo de 2013 —
realizado em ratos saudáveis —pode oferecer uma pista.
Nesta análise, pesquisadores
americanos registraram altos níveis de ondas cerebrais na hora da morte até 30
segundos depois que o coração dos ratos para de bater — assim como aconteceu
com o paciente epiléptico de Zemmar.
As semelhanças entre os estudos
são "surpreendentes", segundo o especialista.
Eles agora esperam que a
publicação deste único caso humano possa abrir as portas para outros estudos
sobre os momentos finais da vida.
Acho que há algo místico e
espiritual em toda essa experiência de quase morte, diz Zemmar.
E descobertas como esta — são
um momento pelo qual os cientistas vivem.
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