quinta-feira, 21 de abril de 2022

ALÉM DO INSTINTO[1]

 

Miramez

 

Podemos dizer que os animais só agem por instinto?

− Ainda nisso há um sistema. É bem verdade que o instinto domina na maioria dos animais: mas não vês que há os que agem por uma vontade determinada? É que têm inteligência, porém ela é limitada.

Além do instinto, não se poderia negar a certos animais a prática de atos combinados, que denotam a vontade de agir num sentido determinado e de acordo com as circunstâncias. Há neles, portanto, uma espécie de inteligência, mas cujo exercício é mais precisamente concentrado sobre os meios de satisfazer as suas necessidades físicas e prover à conservação. Não há entre eles nenhuma criação, nenhum melhoramento; qualquer que seja a arte que admiremos em seus trabalhos, aquilo que faziam antigamente é o mesmo que fazem hoje, nem melhor nem pior, segundo formas e proporções constantes e invariáveis. Os filhotes separados de sua espécie não deixam de construir o seu ninho de acordo com o mesmo modelo, sem terem sido ensinados. Se alguns são suscetíveis de uma certa educação, esse desenvolvimento intelectual, sempre fechado em estreitos limites, é devido à ação do homem sobre uma natureza flexível, pois não fazem nenhum progresso por si mesmos, e esse progresso é efêmero, puramente individual, porque o animal, abandonado a si próprio, não tarda a voltar aos limites traçados pela Natureza. (Allan Kardec)

Questão 593/O Livro dos Espíritos

 

Em certas ocasiões, o animal mostra que existe alguma coisa em si além do instinto. Parece-nos, e a observação o comprova, que em alguns dos animais o instinto está cedendo lugar para rudimentos da razão, que deve crescer em proporção à sua espécie. No entanto, em tudo isso há um limite traçado pela natureza.

Todos sabemos que o animal, por lei do progresso, deve atingir outro reino; os milhões de anos nos comprova que, se o homem já tem o seu reino, é por ter conquistado a razão e hoje se move pelo raciocínio, na expansão da inteligência. O animal demonstra fios de vontade em certos aspectos, por estar junto ao homem. É, por assim dizer, uma transferência, ainda que mínima, de talentos que somente no ser humano estão mais desenvolvidos.

O mineral que dorme, tem seu progresso mas, anda de passos lentos, que parecem se perder na esteira dos milênios. Se o diamante foi outrora carvão, ele passou por um processo que se chama progresso. Assim é com todas as coisas criadas. Os valores do anjo estão guardados no seio dos minerais, que pela força de Deus busca as planuras da vida.

Se o Espírito desce à carne também para intelectualizar a matéria, a sua inteligência não deixa de atingir quem está escondido dentro desta matéria. Os animais domésticos recebem dos homens, por transferência, valores que desconheces, mas que, no futuro, a própria ciência comprovará. Tudo que foi criado por Deus tem sua história, que deve ser engrandecida pela natureza, como sendo a expressão do Criador, que de nada esquece.

Além do sono dos minerais, existe algo que escapa à própria razão, e que além das sensações dos vegetais também há segredos que escapam ao entendimento. Assim, também, poderemos nos referir aos animais e aos próprios homens. Negar essas verdades, é negar o Divino Poder que nos fez e dirige a todos.

Por onde passava, Jesus amava os animais, abençoava a natureza, fazia até multiplicar os pães e curava os enfermos. O Seu amor cobria as multidões dos pecados, e esse amor atinge a todas as gerações para sempre, por ser Ele o Governador do planeta desde o princípio do seu existir.

"A natureza não dá saltos", esse provérbio é antigo, e se não dá saltos, é justo e racional crer que ela age devagar; e se age devagar, tem de ser na sutileza da vida imperceptível, para depois se mostrar como tal. É no animal que principia a vontade, e é por essa vontade que tem início a inteligência. São forças sutis que não se percebem pela razão; somente a intuição pode mostrar essas realidades.

Todo o desenvolvimento intelectual, se assim podemos dizer, dos animais, não pode ultrapassar certos limites, para não criar distúrbios na própria sociedade. Assim como os armamentos das Forças Armadas não podem ser entregues aos marginais, os animais, com o uso da sua própria força física, já têm o seu limite. A limitação do homem é a razão, e em alguns deles já começa a surgir a intuição. Para eles, a educação aflora para corrigir e dirigir essa força poderosa que vem de Deus e da evolução dos sentimentos humanos.



[1] Filosofia Espírita – Volume 12 – João Nunes Maia

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