Miramez
Podemos dizer que os animais só agem por instinto?
− Ainda nisso há um sistema. É bem verdade que o
instinto domina na maioria dos animais: mas não vês que há os que agem por uma
vontade determinada? É que têm inteligência, porém ela é limitada.
Além do instinto, não se
poderia negar a certos animais a prática de atos combinados, que denotam a
vontade de agir num sentido determinado e de acordo com as circunstâncias. Há
neles, portanto, uma espécie de inteligência, mas cujo exercício é mais
precisamente concentrado sobre os meios de satisfazer as suas necessidades
físicas e prover à conservação. Não há entre eles nenhuma criação, nenhum
melhoramento; qualquer que seja a arte que admiremos em seus trabalhos, aquilo
que faziam antigamente é o mesmo que fazem hoje, nem melhor nem pior, segundo
formas e proporções constantes e invariáveis. Os filhotes separados de sua
espécie não deixam de construir o seu ninho de acordo com o mesmo modelo, sem
terem sido ensinados. Se alguns são suscetíveis de uma certa educação, esse
desenvolvimento intelectual, sempre fechado em estreitos limites, é devido à
ação do homem sobre uma natureza flexível, pois não fazem nenhum progresso por
si mesmos, e esse progresso é efêmero, puramente individual, porque o animal,
abandonado a si próprio, não tarda a voltar aos limites traçados pela Natureza.
(Allan Kardec)
Questão 593/O Livro dos Espíritos
Em
certas ocasiões, o animal mostra que existe alguma coisa em si além do
instinto. Parece-nos, e a observação o comprova, que em alguns dos animais o
instinto está cedendo lugar para rudimentos da razão, que deve crescer em
proporção à sua espécie. No entanto, em tudo isso há um limite traçado pela
natureza.
Todos
sabemos que o animal, por lei do progresso, deve atingir outro reino; os
milhões de anos nos comprova que, se o homem já tem o seu reino, é por ter
conquistado a razão e hoje se move pelo raciocínio, na expansão da
inteligência. O animal demonstra fios de vontade em certos aspectos, por estar
junto ao homem. É, por assim dizer, uma transferência, ainda que mínima, de
talentos que somente no ser humano estão mais desenvolvidos.
O
mineral que dorme, tem seu progresso mas, anda de passos lentos, que parecem se
perder na esteira dos milênios. Se o diamante foi outrora carvão, ele passou
por um processo que se chama progresso. Assim é com todas as coisas criadas. Os
valores do anjo estão guardados no seio dos minerais, que pela força de Deus
busca as planuras da vida.
Se
o Espírito desce à carne também para intelectualizar a matéria, a sua
inteligência não deixa de atingir quem está escondido dentro desta matéria. Os
animais domésticos recebem dos homens, por transferência, valores que
desconheces, mas que, no futuro, a própria ciência comprovará. Tudo que foi
criado por Deus tem sua história, que deve ser engrandecida pela natureza, como
sendo a expressão do Criador, que de nada esquece.
Além
do sono dos minerais, existe algo que escapa à própria razão, e que além das
sensações dos vegetais também há segredos que escapam ao entendimento. Assim,
também, poderemos nos referir aos animais e aos próprios homens. Negar essas
verdades, é negar o Divino Poder que nos fez e dirige a todos.
Por
onde passava, Jesus amava os animais, abençoava a natureza, fazia até
multiplicar os pães e curava os enfermos. O Seu amor cobria as multidões dos pecados,
e esse amor atinge a todas as gerações para sempre, por ser Ele o Governador do
planeta desde o princípio do seu existir.
"A
natureza não dá saltos", esse provérbio é antigo, e se não dá saltos, é
justo e racional crer que ela age devagar; e se age devagar, tem de ser na
sutileza da vida imperceptível, para depois se mostrar como tal. É no animal
que principia a vontade, e é por essa vontade que tem início a inteligência.
São forças sutis que não se percebem pela razão; somente a intuição pode mostrar
essas realidades.
Todo
o desenvolvimento intelectual, se assim podemos dizer, dos animais, não pode ultrapassar
certos limites, para não criar distúrbios na própria sociedade. Assim como os armamentos
das Forças Armadas não podem ser entregues aos marginais, os animais, com o uso
da sua própria força física, já têm o seu limite. A limitação do homem é a
razão, e em alguns deles já começa a surgir a intuição. Para eles, a educação
aflora para corrigir e dirigir essa força poderosa que vem de Deus e da evolução
dos sentimentos humanos.
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