Marco Milani
De origem latina, a palavra coerência significa conexão ou coesão.
De forma geral, implica nexo e uniformidade de um conjunto de ideias. Alguém
que seja coerente expressa-se de maneira lógica, capaz de permitir aos seus
interlocutores a compreensão clara e sem contradições sobre seu discurso ou
atitudes.
Plena coerência foi como Sócrates apontou a condição de vida do verdadeiro
filósofo, capaz de conciliar a teoria e o modo de viver e morrer. O filósofo
não seria, portanto, quem apenas sabe pensar e construir sistemas de ideias,
mas seria, sobretudo, aquele que sabe viver e morrer em concordância com o seu
sistema.
Sob essa perspectiva, adeptos de
qualquer doutrina deveriam expressar, consistentemente, os princípios e valores
do sistema que abraçaram. Tal ocorre no Espiritismo. O espírita compreende,
respeita e exemplifica a Doutrina dos Espíritos, devidamente apresentada nas
obras de Allan Kardec.
Naturalmente, não se pode
esperar que todos os adeptos espíritas possuam o mesmo grau de maturidade,
compreensão e vivência dos princípios doutrinários. Dentre aqueles que assumem
responsabilidades diretivas nas instituições espíritas, entretanto, espera-se
que, minimamente, consigam orientar e esclarecer os frequentadores e
colaboradores com maior segurança e embasamento conceitual.
Não somente dirigentes, mas
qualquer um que se proponha a expor e orientar sobre os ensinamentos dos
Espíritos assume responsabilidade sobre suas atitudes. Palestrantes, escritores
e instrutores são vistos, pelo público em geral, como representantes do
Espiritismo.
Um dos desafios a serem
superados por muitos adeptos é exercitar o distanciamento necessário entre o
conteúdo doutrinário e eventuais opiniões desprovidas de fundamentação.
Diante de questões polêmicas ou
que costumam envolver posicionamentos apaixonados, não é incomum que aqueles
com menor maturidade doutrinária misturem em seus discursos opiniões pessoais e
afirmem se tratar de ensinamentos espíritas, desvirtuando o compromisso ético
com o próprio Espiritismo.
Ser coerente não significa que
não se possa questionar ou discordar dos Espíritos, porém a Doutrina Espírita
foi estruturada com inegável consistência interna e a universalidade dos
ensinos dos Espíritos lhe confere legitimidade metodológica. Portanto não basta
alguém abraçar ideias antagônicas sem evidenciação e validação por diferentes
fontes para se substituir aquelas já existentes na Codificação e achar que está
revolucionando a interpretação da realidade.
A coerência doutrinária é,
primordialmente, um compromisso com a verdade baseada na razão e em fatos.
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