Miramez
Os que professam esta doutrina pretendem nela encontrar a
demonstração de alguns dos atributos de Deus. Sendo os mundos infinitos, Deus
é, por isso mesmo, infinito; o vácuo ou o nada não existindo em parte alguma,
Deus está em toda parte; Deus estando em toda parte, pois que tudo é parte
integrante de Deus, dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser
inteligente. O que se pode opor a este raciocínio?
‒ A razão. Refleti
maduramente e não vos será difícil reconhecer-lhe o absurdo.
Esta doutrina faz de
Deus um ser material que, embora dotado de inteligência suprema, seria em ponto
grande aquilo que somos em ponto pequeno. Ora, a matéria se transformando sem
cessar, Deus, nesse caso, não teria nenhuma estabilidade e estaria sujeito a
todas as vicissitudes e mesmo a todas as necessidades da humanidade;
faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. As
propriedades da matéria não podem ligar-se à ideia de Deus, sem que o
rebaixemos em nosso pensamento, e todas as sutilezas do sofisma não conseguirão
resolver o problema da sua natureza íntima. Não sabemos tudo o que ele é, mas
sabemos aquilo que não pode ser, e este sistema está em contradição com as suas
propriedades mais essenciais, pois confunde o criador com a criatura,
precisamente como se quiséssemos que uma máquina engenhosa fosse parte
integrante do mecânico que a concebeu.
A inteligência de
Deus se revela nas suas obras, como a de um pintor no seu quadro; mas as obras
de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e
executou.
Questão 16 / O Livro dos Espíritos
Se Deus é perfeito e é Espírito, não podemos compará-lo com
as formas mutáveis. E sob o empuxo do progresso, tudo que existe na imensidão
indescritível do universo, do átomo ao ninho cósmico, é, pois, criação ideada
pelo seu poder fantástico, que ainda não podemos perceber por nos faltarem
sentidos para isso.
Estamos limitados, ou condicionados, no mínimo das nossas
forças, que por enquanto dormem no centro da nossa consciência, sem poder
participar dos nossos mais profundos interesses.
Somos crianças em comparação às grandes almas. Crivamos de
perguntas, por vezes, de pouco interesse, aqueles que achamos situados em grau
mais elevado do que nós, com fome e sede de saber, em se referindo às coisas do
Espírito, e nem sempre avaliamos a luz que realmente suportamos pelas trevas
que ainda nos circundam. Se todo pedido é uma oração, na filosofia do Espírito,
a resposta não se faz esperar e vem gota a gota para nos conscientizar da
existência da bondade divina e do amor que Ele dispensa a todas as criaturas.
Já falamos muitas vezes, repetindo a fala dos benfeitores
maiores, que Deus é uma personalidade individual, e não o conjunto de todas as
coisas criadas por Ele.
Entretanto, Ele, a majestosa força divina, está em toda
parte por meios que desconheces, por se tratarem de fluídos sutis operando em
uma faixa que somente as grandes almas poderão constatar, pelos poderes
inerentes às suas perfeições.
A primeira ideia de se comparar a natureza como sendo
diretamente Deus, é que ela manifesta em todas as suas nuances, perfeita
harmonia em todos os sentidos da sua atuação, porém, cabe a nós pesquisar e
entender, descobrir e divulgar, que toda essa simetria é participação das leis
criadas por Ele, no vigor da sua mente incomparável. É, pois, a sua imagem,
como um canal de televisão que reflete no vídeo a perfeita estrutura do real,
sendo que, no caso com a Divindade, a perfeição é a tônica do ambiente. As
imagens do Senhor são vivas e demonstram os seus mais puros atributos, nunca
falhando nos seus mais delicados cinetismos[2],
no sustentar da vida. O visual do infinito não é Deus na sua unidade perfeita,
como o quadro não é o pintor.
Comparando a obra com o autor, a primeira constitui um
pálido reflexo da sua personalidade, viva e distinta no lugar que ocupa.
Parece que estamos falando muito sobre o Grande Arquiteto do
Universo, mas esse é o nosso interesse, porque falar de Deus e viver na sua
vibração constante é a coisa mais sublime da vida. Admiramos muito o Deus lhe
pague, o Deus lhe ajude, o vai com Deus e a Paz do Senhor seja convosco, muito
usados pelos homens. São mantras sagrados que nos cobrem de luz, quando
pronunciados com amor e respeito. A Doutrina que faz de Deus um ser material, o
faz por falta de notícias do mais além, ou por medo de pesquisar a verdade e
seguir as rotas do progresso, que faz caírem os véus na gradação das forças
humanas e espirituais.
Nada devemos temer, desde que estejamos em planos de
mutações para o nosso próprio bem.
O mundo espiritual que nos dirige, nos atende de acordo com
as nossas necessidades, e não deixa de guiar e instruir quem verdadeiramente
deseja aprender.
Não devemos esquecer que Deus é um sol de vida, que alimenta
e dirige todas as vidas saídas das suas mãos luminosas e perfeitas.
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