quarta-feira, 7 de julho de 2021

POLTERGEIST AINDA UM MISTÉRIO?[1]

 

Karl W.Goldstein

 

Não deu outra, dai a instantes todos ouviram um tremendo barulho que assustou as pessoas ali presentes! Saíram munidos de lanterna. Atônitos, verificaram que o enorme jipe havia sido transportado e batera violentamente contra a tulha, vencendo os 40 (quarenta) metros que o separava daquele deposito. O trajeto era em aclive, e o jipe estava lotado, pesando cerca de 2.500 kg! O mais surpreendente foi o fato de não ter deixado no solo as marcas dos pneus! Como teria transposto aquele caminho em ascensão ate a tulha? O impacto foi tão violento que uma das pontas do forte para-choque de aço do veiculo chegou a entortar!

De onde teria sido extraída a energia para produzir tamanho trabalho?! O jipe estava brecado e com a primeira marcha engatada! Ninguém ouvira qualquer ruído do motor, facilmente perceptível no silencioso ermo daquele sitio e tão próximo como se encontrava o veiculo. Ter-se-ia dado um apport[2] semelhante ao ocorrido com os demais objetos transladados de um para outro lugar no barracão? Mistério…

 

Como começou…

Segundo informações fornecidas por pessoas do local, o Sr. Katsumi Okabe teria comprado as terras nos idos de 1962, formando seu sitio a partir dai.

Aproximadamente em 1969, um paraguaio comprou uma dúzia de bananas e sentou-se a beira da estrada para comê-las. Depois de haver comido uma das bananas da penca, notou que haviam desaparecido dali duas delas. Apos ter comido duas bananas, verificou que haviam desaparecido mais quatro. Acreditando que alguém estivesse escondido e roubado-lhe as frutas, o paraguaio tratou de esconder consigo o resto das bananas.

Ao tomar esta providencia, sentiu que lhe davam um tremendo soco nas costas, que o fez cair sem sentidos.

Na ocasião em que tal fato ocorrera, uma família paraguaia instalada aproximadamente a meio quilometro da casa do Sr. Okabe passou a ser palco de fenômenos inusitados: as camas em que as pessoas estavam dormindo eram levitadas e balançavam de um lado para outro! Temerosos de serem atirados de cima de seus leitos para o solo, os habitantes daquela casa passaram a dormir no chão sob as camas! Mas assim mesmo não tiveram sossego, pois, a noite, enquanto dormiam, eram empurrados para longe dos colchões.

Logo mais, os objetos da casa passaram a ser movimentados e atirados para fora, atraindo inúmeros curiosos que vinham assistir aos estranhos fenômenos ali em atividade.

 A família paraguaia resolveu mudar-se daquela casa. Porem, lá ficou apenas uma senhora de idade. Esta não quis – não se sabe o porquê – deixar a casa. Ao que parece, ela não devia estar se sentindo incomodada. Ela trabalhava na lavoura de tomates do Sr. Okabe. Entretanto, aconteceu que ela também recebeu uma saraivada de tomates numa ocasião em que ali se achava trabalhando. A velha ficou brava, pensando que estava sendo vitima de uma brincadeira de mau gosto. Logo após alguns dias o filho e a filha do Sr. Okabe também foram atingidos por tomates e pepinos, enquanto lá se achavam trabalhando.

A referida horta de tomates distava da casa da velha paraguaia, tanto quanto da casa do Sr. Okabe. Os três pontos formam um triângulo quase equilátero com cerca de 400m de lado. Era nessa região que ocorriam os fenômenos do poltergeist. Fora desse triangulo, não se observava nenhum fenômeno paranormal.

A mais ou menos 250m distante da casa do Sr. Okabe, havia outra construção onde residia outra família paraguaia. Ali jamais se deram fenômenos semelhantes.

Inúmeros outros fenômenos foram registrados durante a atividade desse poltergeist.

Mas ficaremos por aqui devido as naturais limitações de espaço disponível nestas colunas.

 

Há alguma explicação?

Sim, há explicações, mas não são unânimes, pois nem todas conseguem satisfazer as exigências do bom senso.

A teoria mais em voga, adotada atualmente pelos parapsicólogos considerados ortodoxos, e aceita hodiernamente como a mais correta pela maioria dos especialistas, e aquela que atribuía a um agente humano a causa de tais fenômenos. Segundo este ponto de vista, o poltergeist é um fenômeno provocado por vivos e não por seres desencarnados, tais sejam: espíritos de mortos, duendes, demônios ou algo semelhante. Portanto, no poltergeist, apenas o agente humano denominado epicentro é o causador dos distúrbios, ruídos, movimento de objetos (“apports”), vozes humanas, levitações, sumiços de objetos etc.

Vejamos as hipóteses adhoc necessárias para apoiar a teoria em questão:

O epicentro provoca os fenômenos inconscientemente. Portanto, mesmo no caso em que o epicentro se sinta apavorado com algumas das ocorrências, ou desejando conscientemente que elas não ocorram (casos preocupantes de parapirogenia, em que há perigo de incêndios catastróficos, ou riscos de vida para pessoas amadas etc.), o inconsciente da “pessoa foco” a contraria de maneira insólita e até desumana, agindo contra suas crenças, seus sentimentos, seus desejos e mesmo contra seu instinto de conservação ou de defesa de si e de sua prole. Por exemplo: nós temos ocorrências em que o marido do epicentro (uma senhora casada) sofreu vários cortes no rosto, provocados pelo poltergeist. Nesse mesmo caso, houve o episódio de uma garotinha golpeada profundamente na perna. (Andrade, 1988, pp. 147-153).

O epicentro fornece ou desenvolve uma energia psicocinética capaz de atuar sobre os objetos materiais ou controlar forças como a eletricidade, o calor, o magnetismo, a gravidade etc. e, desse modo, provocar os fenômenos observados nos poltergeists. Vai além, sendo capaz, inconscientemente, de produzir o apport, com manifestações de transposição – pelo menos assim parece – da matéria através da matéria.

Mencionamos como exemplo o episódio do jipão Toyota de 2.500 kg, no poltergeist do Paraguai que ora relatamos e que teria sido aportado a distancia de 40 metros em aclive as custas da energia do epicentro. Todavia não se observou nenhuma reação em qualquer das pessoas presentes no local, como deveria ocorrer em virtude do tremendo dispêndio de energia ocorrido nesse fenômeno! Onde estaria o epicentro? Ou, se ele existia entre aquelas pessoas – o que parece lógico ‒, tal agente psicocinético deveria ter tido alguma reação. Será que o princípio universal da conservação da energia pode ser derrogado em um caso desses? Ou, então, o epicentro saberia, inconscientemente, produzir a transformação de matéria em energia? Isto é, obter reação nuclear a frio?

E, depois disso, aplicá-la no jipão da forma como ocorreu?

Poderíamos estender-nos muito mais, citando outros fatos muito estranhos observados na nossa coleção de poltergeists, porém pedimos licença para ficarmos por aqui.

Infelizmente, somos obrigados a confessar que, pessoalmente, ainda não conhecemos nenhuma explicação satisfatória para os fenômenos poltergeist.

 

Conclusão

Por mais atraente e mesmo erudita ou “cientifica” que possa parecer uma hipótese explicativa para os casos de poltergeist, não basta que ela ofereça uma fórmula infalível para fazê-los cessar. E preciso que ela ensine também como produzi-los a vontade, pois há casos de poltergeist que costumam cessar espontaneamente, tão misteriosamente como começaram a ocorrer.

 

Referencias bibliográficas

AKAKI, Kazunari (1972) – “Pedras, bicicletas e jipe ‘voam’ no sitio de Katsumi Okabe”, Jornal Paulista, 28 de julho de 1972, São Paulo.

ANDRADE, H.G. (1988) – Poltergeist, Algumas de Suas Ocorrências no Brasil; São Paulo; Pensamento.

 

Leituras sugeridas

FLAMMARION, Camille (1923) – Les Maisons Hantees; Paris: Editions Jai Lu.

GAULD, Alan & CORNELL, A.D. (1979) – Poltergeist; London: Routledge & Kegan Paul.

OSIS, Karlis & Mc CORMICK, Donna (1982) – “A Poltergeist Case Without an Identifiable Living Agent” – Journal ASPR, Vol.76, no1, January, 1982.

PLAYFAIR, Guy Lyon (1976) – This House is Haunted – An Investigation of the Enfield Poltergeist; London: Souvenir Press.

ROLL, Willian G. (1974) – The Poltergeist; New York: New American Library.

TIZANE, Emile (1962 e 1977) – L’Hote Inconnu dans le Crime Sans Cause; Paris: 1ª edição, Omnium Litteraire, 2ª edicao, Tchou.

TIZANE, Emile (1977) – Le Mystere des Maisons Hantees; Paris: Tchou.

TIZANE, Emile (1980) – Les Agressions de L’Invisible; Monaco: du Rocher.

VERGNES, Georges (1980) – Quand le Diable Habitait Seron; Paris: Revue du Tarn.

(Artigo de Karl W.Goldstein; Maio de 1997; São Paulo: Jornal FE, enviado ao GEAE por Ogi Mini).

 

(Retirado do Boletim GEAE Número 267 de 18 de novembro de 1997)



[2] Apport – é o fenômeno, de efeito físico, de introdução de objetos em locais fechados ou em móveis fechados. Corpos humanos podem também ser transportados de um local para outro, sem que se perceba por onde passaram.

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