terça-feira, 22 de junho de 2021

TUDO VEM A SEU TEMPO[1]

 

Allan Kardec

 

(Odessa, Grupo Familiar, 1866 – Médium: Srta. M...)

 

Pergunta – Lendo as experiências magnéticas no Vérité de 1866, estava maravilhado e pensava intimamente que esta força tão admirável talvez pudesse ser a causa de todas as maravilhas, de todas as belezas, incompreensíveis para nós, dos planetas superiores, e cuja descrição nos dão os Espíritos. Peço aos Espíritos bons que me esclareçam a respeito.

 

RespostaPobres homens! A avidez de saber, a devoradora impaciência de ler o livro da Criação, vos transtorna a cabeça e deslumbra os vossos olhos habituados à escuridão, quando caem sobre algumas passagens que o vosso espírito, ainda escravo da matéria, não é capaz de compreender. Mas tende paciência, os tempos são chegados. O grande arquiteto já começa a desenrolar diante dos vossos olhos o plano do edifício do Universo, já levanta uma ponta do véu que vos oculta a verdade, e um raio de luz vos ilumina. Contentai-vos com essas premissas; habituai os vossos olhos à doce claridade da aurora, até que possam suportar o esplendor do Sol em todo o seu vigor.

Agradecei ao Todo-Poderoso, cuja bondade infinita poupa a vossa vista fraca, erguendo gradualmente o véu que a cobre. Se o levantasse de uma vez, ficaríeis deslumbrados e nada veríeis; recairíeis na dúvida, na confusão, na ignorância da qual apenas saís. Já vos foi dito que tudo vem a seu tempo: não o antecipeis por vossa grande avidez de tudo saber. Deixai ao Senhor a escolha do método que julgue mais conveniente para vos instruir.

Tendes diante de vós uma obra sublime: “A Natureza, sua essência, suas forças”. Ela começa pelo abecê. Aprendei primeiro a soletrar, a compreender as primeiras páginas; progredi com paciência e perseverança e chegareis ao fim, ao passo que, saltando páginas e capítulos, o conjunto vos parece incompreensível. Aliás, não está nos desígnios do Todo-Poderoso que o homem saiba tudo.

Conformai-vos, pois, com a sua vontade: ela tem por objetivo o vosso bem.

Lede no grande livro da Natureza; instruí-vos, esclarecei o vosso espírito, contentai-vos em saber o que Deus julga a propósito vos ensinar durante vossa passagem na Terra; não tereis tempo de chegar à ultima página e não a lereis senão quando estiverdes desligados da matéria, quando vossos sentidos espiritualizados vos permitirem compreendê-lo.

Sim, meus amigos, aprendei e instrui-vos e, antes de tudo, progredi em moralidade pelo amor do próximo, pela caridade, pela fé: é o essencial, é o passaporte à vista do qual as portas do santuário infinito vos são abertas.

 

Humboldt



[1] Revista Espírita – Março/1867 – Allan Kardec

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