O dia 13 de setembro de 1983 foi
de luto para a cidade baiana de Xique-Xique, às margens do Rio São Francisco.
Ao receber a notícia do falecimento de um dos seus mais ilustres filhos
ocorrido em Belo Horizonte, toda a comunidade chorava o passamento do querido
médico, professor, escritor, poeta e conferencista Clodoaldo de Magalhães
Avelino, que ali nascera 84 anos antes, em 23 de janeiro de 1899.
Em Belo Horizonte, onde viveu
boa parte de sua vida sem desvincular-se do torrão natal, deixou marcas
indeléveis de sua trajetória de espírito sábio e benevolente, humilde e
fraterno, inteiramente dedicado à causa do bem e do amor ao próximo.
Formado em Medicina, em 1924,
pela Universidade Federal da Bahia, trabalhou como clínico geral e obstetra,
especializando-se posteriormente em oftalmologia, em curso realizado em 1938 na
mesma Universidade, onde também fez o doutorado.
Clinicou inicialmente em
Januária, cidade do norte de Minas, onde foi eleito vereador e presidente da
Câmara Municipal. Buscando servir mais e melhor, percorreu o sertão baiano e o
mineiro, atendendo a todos os pacientes com inexcedível solicitude e carinho,
mesmo aqueles ‒ a maioria ‒ que não podiam pagar-lhe os módicos honorários
médicos. Exerceu também a profissão como capitão-médico do Exército Brasileiro.
Casou-se com Adelaide de Campos,
jovem criada pelo renomado espírita baiano José Florentino de Senna, mais
conhecido como José Petitinga. Foi com esse pioneiro do Espiritismo na Bahia,
fundador da União Espírita Baiana em dezembro de 1915, que o jovem Clodoaldo,
ainda estudante de Medicina, teve as primeiras informações sobre a Doutrina
Espírita que abraçou com entusiasmo e cujos ensinamentos passou a vivenciar no
seu dia a dia. Retorna à cidade do Salvador em agosto de 1968, convidado a
participar do 2º Congresso Espírita da Bahia, realizado nos dois últimos dias
daquele mês, sendo vivamente aplaudido ao encerrar lúcida exposição sobre o tema
"Espiritismo e Parapsicologia".
Em 23 de agosto de 1950, já
radicado em Belo Horizonte, experimentou a dor da viuvez. Pouco antes de
desencarnar, a companheira querida, musa de seu estro poético, pede-lhe que se
case com Honorina Xavier, que vivia em companhia do casal.
Dois anos mais tarde o pedido
foi cumprido. Após vida conjugal de mútuo entendimento e alegria, sofre a
segunda viuvez em 23 de novembro de 1971.
Apesar de ter-se casado duas
vezes, não teve filhos biológicos. Teve, porém, filhos do coração. Entre esses
filhos, acha-se a sobrinha Yone Margarida Magalhães Xavier, amparada por ele a
partir dos dez anos e que se tornou professora de História Natural pela UFMG,
tendo lecionado em várias escolas, inclusive, no Colégio O Precursor, fundado
pela União Espírita Mineira. Casou-se com o Dr. Raymundo Brina Diógenes, que
assim se manifesta sobre o sogro: Foi pai
sem ter os filhos da embriogenia da carne, todavia pôde ter os filhos da alma.
Agasalhou na umbela virtuosa do
seu descortino e da sua pedagogia incomparável, dezenas e dezenas de criaturas,
que a sorte sabiamente lhe entregara. Uns, escorraçados da vida, sem lar e sem
afeto. Outros, parentes consanguíneos oriundos de plagas remotas. Outros ainda
sem qualquer laço terreno, mas fecundados no santo cadinho dos compromissos
reencarnatórios, assumidos nas eras perdidas da Eternidade.
Em que pesassem o seu extremado
desvelo e a sua dedicação paternal, não esteve liberto dos ventos gelados das
ingratidões humanas, todas pagas com o seu indulgente esquecimento, porque
sempre esteve muito acima das mazelas planetárias e da mesquinhez das
criaturas.
Em Belo Horizonte, onde residiu
por longos anos, colaborou ativamente com o Movimento Espírita, participando de
eventos promovidos pela União Espírita Mineira, entre os quais o III Congresso
Espírita Mineiro em 1944.
Foi presidente do Hospital
Espírita André Luiz e integrou a Diretoria do Abrigo Jesus, a mais antiga
entidade assistencial para a infância da Capital Mineira, de 1943 a 1969,
levando às meninas ali internadas toda sua solicitude paternal, inclusive
cuidando da saúde delas juntamente com os médicos José Di Schembri e Delcides
Baumgratz.
Em 1946, com os amigos Anísio
Cunha e seus filhos Hércules e Leo, Sebastião Silva Oliveira, Altair Fabrício
Pinto, Antônio Ornelas, Marilena Correa Ornelas, Pedro Teotônio Alves Borges e
José Leone Cerqueira fundou o Cenáculo Espírita Aba Josepho, do qual foi o
primeiro presidente, casa em funcionamento até hoje.
Apesar de espírita notório, já
que era diretor do Abrigo Jesus, localizado no mesmo bairro, aceitou convite
para dirigir o corpo de saúde da Ação Social Padre Eustáquio, órgão vinculado à
paróquia do mesmo nome, em verdadeiro testemunho de fraternidade e ecumenismo.
A par dessas atividades exercia
o sacerdócio da Medicina em seu consultório, onde atendia a população humilde e
pouco favorecida do bairro em que residia, suprindo com amor e devotamento a
ausência do poder público.
Esteve sempre ligado ao povo de
sua terra natal, auxiliando-o mesmo vivendo em Belo Horizonte. Construiu em
Xique-Xique, com recursos próprios, o Abrigo Albergue Ana Avelino, o Hospital
Espírita Agrário Avelino, a sede do Núcleo Espírita Agostiniano e o prédio da
Escola José Petitinga.
Por ocasião do centenário de seu
nascimento, em 1999, sua vida foi exaltada por todos aqueles que o conheceram e
admiram. A Assembleia Legislativa de Minas Gerais e a Câmara de Vereadores de
Xique-Xique tributaram-lhe honrosas homenagens. Na cidade natal, por iniciativa
de amigos e familiares, teve inaugurado o busto em bronze, erguido na Praça
Allan Kardec, bem próximo ao Centro Espírita Agrário Avelino, nome do seu
genitor.
O historiador espírita Antônio
de Sousa Lucena disse: Clodoaldo de
Magalhães Avelino, espírita de arraigadas convicções e de constante e abnegada
militância, foi o que se pode denominar de espírita cristão, no mais justo
sentido da palavra.
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