segunda-feira, 21 de junho de 2021

CLODOALDO DE MAGALHÃES AVELINO[1]

 

 

O dia 13 de setembro de 1983 foi de luto para a cidade baiana de Xique-Xique, às margens do Rio São Francisco. Ao receber a notícia do falecimento de um dos seus mais ilustres filhos ocorrido em Belo Horizonte, toda a comunidade chorava o passamento do querido médico, professor, escritor, poeta e conferencista Clodoaldo de Magalhães Avelino, que ali nascera 84 anos antes, em 23 de janeiro de 1899.

Em Belo Horizonte, onde viveu boa parte de sua vida sem desvincular-se do torrão natal, deixou marcas indeléveis de sua trajetória de espírito sábio e benevolente, humilde e fraterno, inteiramente dedicado à causa do bem e do amor ao próximo.

Formado em Medicina, em 1924, pela Universidade Federal da Bahia, trabalhou como clínico geral e obstetra, especializando-se posteriormente em oftalmologia, em curso realizado em 1938 na mesma Universidade, onde também fez o doutorado.

Clinicou inicialmente em Januária, cidade do norte de Minas, onde foi eleito vereador e presidente da Câmara Municipal. Buscando servir mais e melhor, percorreu o sertão baiano e o mineiro, atendendo a todos os pacientes com inexcedível solicitude e carinho, mesmo aqueles ‒ a maioria ‒ que não podiam pagar-lhe os módicos honorários médicos. Exerceu também a profissão como capitão-médico do Exército Brasileiro.

Casou-se com Adelaide de Campos, jovem criada pelo renomado espírita baiano José Florentino de Senna, mais conhecido como José Petitinga. Foi com esse pioneiro do Espiritismo na Bahia, fundador da União Espírita Baiana em dezembro de 1915, que o jovem Clodoaldo, ainda estudante de Medicina, teve as primeiras informações sobre a Doutrina Espírita que abraçou com entusiasmo e cujos ensinamentos passou a vivenciar no seu dia a dia. Retorna à cidade do Salvador em agosto de 1968, convidado a participar do 2º Congresso Espírita da Bahia, realizado nos dois últimos dias daquele mês, sendo vivamente aplaudido ao encerrar lúcida exposição sobre o tema "Espiritismo e Parapsicologia".

Em 23 de agosto de 1950, já radicado em Belo Horizonte, experimentou a dor da viuvez. Pouco antes de desencarnar, a companheira querida, musa de seu estro poético, pede-lhe que se case com Honorina Xavier, que vivia em companhia do casal.

Dois anos mais tarde o pedido foi cumprido. Após vida conjugal de mútuo entendimento e alegria, sofre a segunda viuvez em 23 de novembro de 1971.

Apesar de ter-se casado duas vezes, não teve filhos biológicos. Teve, porém, filhos do coração. Entre esses filhos, acha-se a sobrinha Yone Margarida Magalhães Xavier, amparada por ele a partir dos dez anos e que se tornou professora de História Natural pela UFMG, tendo lecionado em várias escolas, inclusive, no Colégio O Precursor, fundado pela União Espírita Mineira. Casou-se com o Dr. Raymundo Brina Diógenes, que assim se manifesta sobre o sogro: Foi pai sem ter os filhos da embriogenia da carne, todavia pôde ter os filhos da alma.

Agasalhou na umbela virtuosa do seu descortino e da sua pedagogia incomparável, dezenas e dezenas de criaturas, que a sorte sabiamente lhe entregara. Uns, escorraçados da vida, sem lar e sem afeto. Outros, parentes consanguíneos oriundos de plagas remotas. Outros ainda sem qualquer laço terreno, mas fecundados no santo cadinho dos compromissos reencarnatórios, assumidos nas eras perdidas da Eternidade.

Em que pesassem o seu extremado desvelo e a sua dedicação paternal, não esteve liberto dos ventos gelados das ingratidões humanas, todas pagas com o seu indulgente esquecimento, porque sempre esteve muito acima das mazelas planetárias e da mesquinhez das criaturas.

Em Belo Horizonte, onde residiu por longos anos, colaborou ativamente com o Movimento Espírita, participando de eventos promovidos pela União Espírita Mineira, entre os quais o III Congresso Espírita Mineiro em 1944.

Foi presidente do Hospital Espírita André Luiz e integrou a Diretoria do Abrigo Jesus, a mais antiga entidade assistencial para a infância da Capital Mineira, de 1943 a 1969, levando às meninas ali internadas toda sua solicitude paternal, inclusive cuidando da saúde delas juntamente com os médicos José Di Schembri e Delcides Baumgratz.

Em 1946, com os amigos Anísio Cunha e seus filhos Hércules e Leo, Sebastião Silva Oliveira, Altair Fabrício Pinto, Antônio Ornelas, Marilena Correa Ornelas, Pedro Teotônio Alves Borges e José Leone Cerqueira fundou o Cenáculo Espírita Aba Josepho, do qual foi o primeiro presidente, casa em funcionamento até hoje.

Apesar de espírita notório, já que era diretor do Abrigo Jesus, localizado no mesmo bairro, aceitou convite para dirigir o corpo de saúde da Ação Social Padre Eustáquio, órgão vinculado à paróquia do mesmo nome, em verdadeiro testemunho de fraternidade e ecumenismo.

A par dessas atividades exercia o sacerdócio da Medicina em seu consultório, onde atendia a população humilde e pouco favorecida do bairro em que residia, suprindo com amor e devotamento a ausência do poder público.

Esteve sempre ligado ao povo de sua terra natal, auxiliando-o mesmo vivendo em Belo Horizonte. Construiu em Xique-Xique, com recursos próprios, o Abrigo Albergue Ana Avelino, o Hospital Espírita Agrário Avelino, a sede do Núcleo Espírita Agostiniano e o prédio da Escola José Petitinga.

Por ocasião do centenário de seu nascimento, em 1999, sua vida foi exaltada por todos aqueles que o conheceram e admiram. A Assembleia Legislativa de Minas Gerais e a Câmara de Vereadores de Xique-Xique tributaram-lhe honrosas homenagens. Na cidade natal, por iniciativa de amigos e familiares, teve inaugurado o busto em bronze, erguido na Praça Allan Kardec, bem próximo ao Centro Espírita Agrário Avelino, nome do seu genitor.

O historiador espírita Antônio de Sousa Lucena disse: Clodoaldo de Magalhães Avelino, espírita de arraigadas convicções e de constante e abnegada militância, foi o que se pode denominar de espírita cristão, no mais justo sentido da palavra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário