sexta-feira, 4 de junho de 2021

QUANDO UMA PESSOA MORRE, SABE QUE MORREU?[1]

 

Rogério Miguez

 

Há pouquíssimas fatalidades nas leis de Deus, uma delas certamente é representada pelo inevitável desfecho da morte. A primeira obra básica da Doutrina em uma de suas abordagens sobre o tema assim se expressa[2] :

Algumas pessoas só escapam de um perigo mortal para cair em outro. Parece que não podiam escapar da morte. Não há nisso fatalidade?

“Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-vos”.

Fatalismo biológico, ou seja, não há corpo físico – instrumento de trabalho do ser imortal, que possa existir eternamente, mais cedo ou mais tarde as células desagregam-se provocando o colapso desta estrutura material, casa provisória onde se abriga o Espírito reencarnado.

A ciência, embora tentando há bom tempo sintetizar o elixir da eternidade, nada ainda encontrou, e jamais terá sucesso, pois a lei de Deus não contempla a indestrutibilidade do corpo físico, apenas a do Espírito, sendo assim, é de esperar-se que todos os seres vivos acabem morrendo, fato comum desde o início dos tempos.

Ora, como já tivemos numerosas vidas, consequentemente já morremos inúmeras vezes, já experimentamos este fatalismo em muitas ocasiões, poder-se-ia assim imaginar que já houvéssemos registrado este aprendizado e toda vez que morrêssemos, lembraríamos do que estaria sucedendo naquele singular instante.

Ocorre que tal não se dá, ainda nos encontramos muito inferiores na escala da evolução, dificultando sobremaneira o entendimento do que está acontecendo no momento em que o Espírito inicia o seu desligamento do corpo, por motivos diversos, para retornar a vida verdadeira, a espiritual.

De modo geral, há uma perturbação, confusão esta função do modo de vida escolhido pelo Espírito: se a vida foi mais espiritualizada, atenua o estado de confusão mental a ponto do Espírito alcançar plena consciência de seu desencarne, alguns, raros, podem mesmo providenciar o próprio desligamento do perispírito do corpo físico; quando muito material, a perturbação é intensa.

Sendo este último o caso a se aplicar à grande maioria, podemos concluir de forma geral: quando a pessoa morre, não sabe que morreu. Em muitos há a percepção de uma mudança significativa, pois não conseguem mais conversar com os vivos; seus parentes, por exemplo, não respondem mais às suas indagações; percebem também não ter mais acesso às coisas materiais, e assim por diante. Seria como um sonho ruim, um pesadelo, onde está tudo às avessas. Algum tempo será necessário para conscientizar-se ou mesmo ser conscientizado por outrem, que faleceu. Outros dormem ao desencarnar, passaram a vida inteira alheios aos postulados divinos, nada esperavam após a morte, entrando assim em um estado semelhante à hibernação até serem acordados para a fatalidade da vida.

Podemos apontar um caso, entre tantos, para exemplificar o que pode ocorrer na ocasião da morte. No livro “Os Mensageiros”[3], de André Luiz, há um capítulo intitulado Pavor da Morte, onde é descrita uma situação peculiar em um necrotério. Havia um cadáver de uma jovem e ao seu lado estava uma entidade masculina em atitude de zelo chamando há seis horas a recém-desencarnada para abandonar o corpo. O inesperado nesta descrição é que a falecida estava unida aos despojos copiando a posição cadavérica, com medo de deixá-los. Aterrorizada, fechava as pálpebras para não ver algo que a atemorizava. Esta entidade ao seu lado era o seu noivo que a havia antecedido no fenômeno da morte e agora ali estava para recebê-la com alegria, contudo, pelo despreparo espiritual da jovem, esta acreditava ver um fantasma, porquanto recordava-se claramente da morte do noivo.

Aniceto, instrutor de André Luiz nesta obra, ambos vivenciando esta situação sui generis, orientam o noivo para se afastar temporariamente, pois não conseguiria realizar o seu intento de recebê-la e levá-la para uma casa espiritual, considerando estar a noiva muita aturdida, acreditando estar sendo perseguida por um morto, passava por um pesadelo. Experiente neste tipo de situação, Aniceto se faz passar por um doutor anunciando um novo tratamento à jovem, esta aceita a oferta, afastando-se finalmente do corpo. Aniceto, aproveitando o momento, aplicou passes magnéticos adormecendo-a e, em seguida, entregando-a ao seu prestativo noivo: Caso resolvido!

Vemos desta forma uma possível consequência de não nos prepararmos para a morte do corpo material, este, sempre chega a seu termo na hora adequada, enxergando naquela apenas um desdobramento natural da continuidade da vida.

 

Fonte: Espiritismo na Rede



[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 69. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987. q. 853.

[3] XAVIER, Francisco C. “Os mensageiros”. Pelo Espírito André Luiz. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1983. cap. 48 – Pavor da morte, p. 250 e 251.

Nenhum comentário:

Postar um comentário