Rogério Miguez
Há pouquíssimas fatalidades nas
leis de Deus, uma delas certamente é representada pelo inevitável desfecho da
morte. A primeira obra básica da Doutrina em uma de suas abordagens sobre o
tema assim se expressa[2]
:
Algumas pessoas só escapam de um perigo mortal para cair
em outro. Parece que não podiam escapar da morte. Não há nisso fatalidade?
“Fatal, no
verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é. Chegado esse
momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-vos”.
Fatalismo biológico, ou seja,
não há corpo físico – instrumento de trabalho do ser imortal, que possa existir
eternamente, mais cedo ou mais tarde as células desagregam-se provocando o
colapso desta estrutura material, casa provisória onde se abriga o Espírito
reencarnado.
A ciência, embora tentando há
bom tempo sintetizar o elixir da eternidade, nada ainda encontrou, e jamais
terá sucesso, pois a lei de Deus não contempla a indestrutibilidade do corpo
físico, apenas a do Espírito, sendo assim, é de esperar-se que todos os seres
vivos acabem morrendo, fato comum desde o início dos tempos.
Ora, como já tivemos numerosas
vidas, consequentemente já morremos inúmeras vezes, já experimentamos este
fatalismo em muitas ocasiões, poder-se-ia assim imaginar que já houvéssemos
registrado este aprendizado e toda vez que morrêssemos, lembraríamos do que
estaria sucedendo naquele singular instante.
Ocorre que tal não se dá, ainda
nos encontramos muito inferiores na escala da evolução, dificultando
sobremaneira o entendimento do que está acontecendo no momento em que o
Espírito inicia o seu desligamento do corpo, por motivos diversos, para
retornar a vida verdadeira, a espiritual.
De modo geral, há uma
perturbação, confusão esta função do modo de vida escolhido pelo Espírito: se a
vida foi mais espiritualizada, atenua o estado de confusão mental a ponto do
Espírito alcançar plena consciência de seu desencarne, alguns, raros, podem
mesmo providenciar o próprio desligamento do perispírito do corpo físico;
quando muito material, a perturbação é intensa.
Sendo este último o caso a se
aplicar à grande maioria, podemos concluir de forma geral: quando a pessoa
morre, não sabe que morreu. Em muitos há a percepção de uma mudança
significativa, pois não conseguem mais conversar com os vivos; seus parentes,
por exemplo, não respondem mais às suas indagações; percebem também não ter
mais acesso às coisas materiais, e assim por diante. Seria como um sonho ruim,
um pesadelo, onde está tudo às avessas. Algum tempo será necessário para
conscientizar-se ou mesmo ser conscientizado por outrem, que faleceu. Outros
dormem ao desencarnar, passaram a vida inteira alheios aos postulados divinos,
nada esperavam após a morte, entrando assim em um estado semelhante à
hibernação até serem acordados para a fatalidade da vida.
Podemos apontar um caso, entre
tantos, para exemplificar o que pode ocorrer na ocasião da morte. No livro “Os
Mensageiros”[3],
de André Luiz, há um capítulo intitulado Pavor da Morte, onde é descrita uma
situação peculiar em um necrotério. Havia um cadáver de uma jovem e ao seu lado
estava uma entidade masculina em atitude de zelo chamando há seis horas a
recém-desencarnada para abandonar o corpo. O inesperado nesta descrição é que a
falecida estava unida aos despojos copiando a posição cadavérica, com medo de
deixá-los. Aterrorizada, fechava as pálpebras para não ver algo que a
atemorizava. Esta entidade ao seu lado era o seu noivo que a havia antecedido
no fenômeno da morte e agora ali estava para recebê-la com alegria, contudo,
pelo despreparo espiritual da jovem, esta acreditava ver um fantasma, porquanto
recordava-se claramente da morte do noivo.
Aniceto, instrutor de André Luiz
nesta obra, ambos vivenciando esta situação sui
generis, orientam o noivo para se afastar temporariamente, pois não
conseguiria realizar o seu intento de recebê-la e levá-la para uma casa
espiritual, considerando estar a noiva muita aturdida, acreditando estar sendo
perseguida por um morto, passava por um pesadelo. Experiente neste tipo de
situação, Aniceto se faz passar por um doutor anunciando um novo tratamento à
jovem, esta aceita a oferta, afastando-se finalmente do corpo. Aniceto,
aproveitando o momento, aplicou passes magnéticos adormecendo-a e, em seguida,
entregando-a ao seu prestativo noivo: Caso resolvido!
Vemos desta forma uma possível
consequência de não nos prepararmos para a morte do corpo material, este,
sempre chega a seu termo na hora adequada, enxergando naquela apenas um
desdobramento natural da continuidade da vida.
Fonte: Espiritismo na Rede
Nenhum comentário:
Postar um comentário