Sidney Fernandes
Subitamente, o desconhecido
entrou no velatório. A funerária, geralmente lotada, naquela manhã estava
calma. Nenhum cliente havia dado entrada naquela noite. Os funcionários de
plantão — agente funerário, motorista, tanatopraxista[2],
auxiliar e ornamentador — conversavam calmamente, quando entrou senhor de idade
e lhes falou:
— Amanhã estarei
aqui com vocês. Cuidem bem de mim.
Surpresos, acharam que se tratava de alguma
brincadeira.
— A mim parece que
tão já o senhor não aparecerá por aqui. Pelo menos na condição de defunto. O
senhor está vendendo saúde… — disse o agente.
— Por acaso está
pensando em suicidar-se? — perguntou o tanatopraxista em tom de galhofa. Poupe seu rosto, para não me dar muito
trabalho na reconstrução de sua aparência.
— Nada disso,
amigos. Apesar de estar bem, nesta noite sonhei com meu velório. E quando
sonho, é batata!
A conversa desandou para
gracejos sem maiores consequências, pois os funcionários não levaram a sério o
insólito e fúnebre aviso.
Qual não foi a surpresa deles,
quando, na manhã seguinte, adentrava no recinto o corpo do visitante do dia
anterior. Havia sofrido infarto fulminante, por obstrução de suas artérias
coronárias, por coágulo de sangue não detectado nos exames que, periodicamente,
fazia a pedido de seu cardiologista.
***
Jesus, segundo anotações do
evangelista Mateus, previu a própria morte. Nós, meros mortais, podemos fazer o
mesmo? Embora o fenômeno não encontre ainda explicação na ciência, o homem pode
tomar conhecimento, dentro de determinados limites, do seu passado e do seu
futuro.
***
Certa vez Richard Simonetti
recebeu a visita de grande amigo da cidade de Ibitinga, Doutor Flávio Pinheiro,
pedindo que fizesse a oração do seu velório. Simonetti estranhou a solicitação
e exclamou:
— Que é isso,
Doutor! O senhor não morrerá tão cedo!
— Vou me submeter,
Richard, a complicada cirurgia cardíaca, que ocasionará a minha morte.
Alguns dias depois Simonetti foi
convocado ao cumprimento da promessa.
***
Caetano Aiello, lidador
espírita, foi procurado por jovem noiva, que fazia questão de sua presença em
seu casamento.
— Não será possível
— disse constrangido o velho orador.
— O senhor tem outro
compromisso? Por favor, cancele gosto muito do senhor e sua companhia será
indispensável.
— Não vai dar minha
filha. Meus mentores vêm me avisando de que em breve partirei.
Tal como pressentira, Aiello,
que não tinha nenhum problema de saúde, em poucos dias faleceu.
***
O Espiritismo ensina que, quando
o corpo repousa, o homem pode ter acesso a informações a que, habitualmente,
não teria conhecimento em estado de vigília. Sonhos extravagantes podem ter
correlação com lugares visitados, comunicações com outros espíritos e aquisição
de maior potencialidade, inclusive de acesso ao futuro.
Há indivíduos que possuem maior
facilidade de análise e maior perspicácia, que analisam as coisas com mais
precisão do que outros. Eles têm a chamada precisão de golpe de vista moral,
que pode despertar pressentimentos e lhes facultar lembranças do passado e o
conhecimento de fatos que estão para acontecer, como foi o caso ocorrido com o
visitante da funerária.
***
Nos três casos narrados ocorreu
a chamada premonição, faculdade de que são dotadas algumas pessoas, para prever
ocorrências futuras. Geralmente essas informações são prestadas por benfeitores
espirituais para preparar o desencarnante e evitar surpresas desagradáveis nos
familiares, ou ainda, em casos de acidentes, para que fique claro que nada foi
por acaso e que tudo aconteceu de acordo com a vontade divina.
Fiquemos alerta aos avisos da
espiritualidade, que vêm nos comunicar fatos que poderão ocorrer, não para
atender nossa vã curiosidade, e sim, para nos preparar adequadamente para o
futuro.
Obras consultadas:
“Quem Tem Medo da Morte?”, de Richard Simonetti
O Livro dos Espíritos,
de Allan Kardec.
Fonte: Kardec Rio Preto
[2] Técnico especializado na preparação de cadáveres para
retardar ou impedir o processo de decomposição durante determinado tempo.
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