quarta-feira, 2 de junho de 2021

GRAVITAÇÃO E LEVITAÇÃO

 


Dr. Carl Du Prel

 

O ENIGMA DA GRAVITAÇÃO

 A linguagem humana não é o resultado do raciocínio científico, mas nasceu antes de qualquer ciência. É essa a causa dos termos pelos quais são designados os fenômenos naturais: não se conformarem com a doutrina científica, mas sim com a ideia que deles fazia o homem pré-histórico. Este apreciava sempre as coisas da Natureza a seu modo, e supunha sempre a vida onde via movimento. Graças a associação dessas duas ideias, formaram-se os verbos reflexíveis. Ainda hoje, o movimento e a vida estão associados na linguagem; assim, quando o vento agita as folhas de uma árvore, dizemos que elas se movem. O naturalista deveria, em rigor, protestar contra semelhantes expressões, que realmente designam o fenômeno como nós o vemos, mas não como o compreendemos. A Ciência é, pois, constantemente obrigada a servir-se da linguagem da ignorância, filha das concepções pré-históricas do Universo. O que prova de um modo muito natural que essas concepções ainda têm em nós profundas raízes, é o prazer que nos causa a poesia. O poeta lírico, que dá a vida à natureza inanimada, lisonjeia essas concepções primitivas, que dormitam no fundo do nosso ser e foram recebidas pela hereditariedade. Essas concepções têm o cunho da subjetividade; ora, o poeta não fala a linguagem da ciência, não precisa a marcha objetiva dos fenômenos, mas exprime-os, como nós os sentimos; por isso, e em virtude do princípio da menor ação, aceitamos plenamente e com vivo prazer às descrições poéticas. É pelo grato sentimento que em nós desperta que se baseia o nosso gosto pela poesia.

Nossa linguagem encerra ainda grande número desses elementos paleontológicos, muitos traços dessa interpretação subjetiva dos fenômenos naturais, e isso se dá, não só no nosso senso íntimo, como em todos os nossos sentidos. Daí resulta uma grande confusão nas discussões científicas. Quando apanhamos uma pedra, parece-nos que uma espécie de atividade emana dessa pedra, que ela exerce um esforço para se aproximar do sol, pesando sobre a nossa mão. É esse sentimento que exprimimos quando dizemos que a pedra é pesada, julgando assim designar a própria natureza da pedra. Esse sentimento tem-se generalizado a tal ponto, que cada um de nós se crê razoavelmente autorizado a dizer: Todos os corpos são pesados. Eis ainda aí uma expressão contra a qual o naturalista deveria protestar; porque, considerado em si mesmo, um corpo não é pesado senão quando se acha na vizinhança de outro corpo que o atrai. A nossa linguagem, porém, transforma o fato da atração passiva em uma propriedade da pedra, coloca na própria pedra a causa do peso que reside fora dela. Atraindo a Terra, a pedra que temos na mão, abstraímo-nos da atração que a pedra também exerce sobre a Terra para maior simplicidade, enfim a pedra parece ser pesada.

Isso, porém, é uma simples aparência, que facilmente seria demonstrada, se pudéssemos suprimir a Terra. Então, somente a verdadeira natureza da pedra apareceria, e esta se apresentaria sem peso. Se recolocássemos a Terra na proximidade da pedra, seu estado natural se modificaria de novo, e teríamos o que chamamos peso. Em resumo, a palavra peso indica uma relação entre dois corpos e não a natureza de um deles; é a constatação de uma ação exercida sobre a pedra, mas não o enunciado de uma causa residindo nela. Não é na pedra que devemos buscar a causa do peso, mas fora dela; e se essa causa vier a ser suprimida, a pedra deixa de ser pesada. É servindo-se dessa mesma linguagem da ignorância que os astrônomos dizem que a Terra pesa milhões de quilos. Se pudéssemos suprimir o Sol (e todas as estrelas fixas), o peso da Terra seria nulo. Se fizermos desaparecer o corpo atraente, o outro naturalmente não é mais atraído; porque é unicamente na atração que consiste o peso. Em uma palavra, a gravitação não caracteriza de modo algum o estado efetivo e invariável dos corpos.

Mas, dirão, essas considerações são bastante estéreis, pois, em razão da impossibilidade em que estamos de subtrair-nos à atração terrena, não podemos encontrar corpos sem peso, para sujeitá-los a exame. Não é justa essa reflexão. Certamente, não podemos suprimir a Terra, mas talvez a sua força de atração possa ser anulada pelo concurso de forças capazes de transformar, em dadas condições, a gravitação em levitação. Conhecemos uma força desse gênero oposta à gravitação: é o magnetismo mineral. Muitas observações, feitas no domínio do ocultismo, referem-se precisamente à levitação, fenômeno que deve seu nome ao fato de ver-se diminuído ou abolido o peso natural dos corpos. Milhares de testemunhas asseveram ter visto mesas ficarem suspensas no ar, tendo-se apenas as mãos aplicadas sobre elas, ou mesmo conservadas a certa distância. Há cinquenta anos que os espíritas afirmam o fato; e seus adversários, em vez de o examinarem, respondem simplesmente que a levitação é impossível, porque é contrária à lei da gravitação a repetição contínua da cena, caracterizada por uma antiga resposta de oráculo: Entraram um sábio e um louco; o sábio examinou antes de julgar, o louco julgou antes de examinar.

A alusão ao ímã basta para provar que, em certas circunstâncias, a levitação é possível; resta saber se ela não se pode apresentar ainda em outras condições. Desde que é constatada uma exceção à lei da gravitação, outras aparecem como possíveis. Podem existir na natureza outras forças capazes de vencer a da atração terrena. Uma primeira razão para não se opor a essa suposição o propósito de não recebê-la, é que nós mesmos não sabemos em que consiste a gravitação. Verificamos os efeitos, mas o modo da ação física nos escapa. Todos os físicos sabem que o processo da atração é ainda um enigma.

As teorias mais variadas foram imaginadas para dar-se a explicação física da gravitação[1], e como o problema fica sempre sem solução, a Ciência terá maior motivo para examinar os fenômenos de levitação; é evidente, com efeito, que o conhecimento das condições sob as quais a gravitação se acha anulada, não pode deixar de esclarecer o próprio fenômeno da gravitação. Não menos evidente é, segundo o que precede que a levitação não pode ser compreendida senão à luz de nossas noções sobre a gravitação; é, pois, pelo estudo desta, que devemos começar. Newton, o primeiro, deu a demonstração rigorosa da gravitação, já suspeitada na Antiguidade. Eis o enunciado da lei por ele estabelecida:

Todos os corpos se atraem na razão direta do produto de suas massas, e na inversa do quadrado de suas distâncias.

Foi esta a primeira lei terrena a que se atribuiu um valor universal; ela é real, tanto para a pedra lançada pelo garoto, como para o cometa que chega das profundezas do espaço. Tal é o fundamento sobre o qual se pôde estabelecer a ciência moderna da astrofísica, ciência que parte deste princípio:

Todas as leis terrenas, a lei do calor, da luz, da eletricidade etc., têm um valor universal.

Newton bem sabia que só descobrira a lei da gravitação e não a sua causa. Ele próprio confessou desconhecer a natureza da gravitação, e disse: “Não consegui ainda deduzir dos fenômenos observados a razão dessa propriedade da gravitação; não estabeleço hipóteses”. (Aypotheses non Pingo)[2]. Em uma carta a Bentley, diz ele: “A gravitação deve ser ocasionada por algum impulso, agindo de um modo contínuo e de acordo com certas leis; meus leitores que julguem se tratam de um impulso material ou imaterial”. O problema a resolver não se apresenta sob o nome de gravitação, e sim sob o de atração. Eis o que diz Newton em sua carta a Bentley: “inconcebível que a matéria bruta e inanimada possa agir sobre a matéria à distância, sem um intermediário material”. Para explicar essa ação à distância, podemos, segundo as regras da lógica, enunciar, sob duas formas diferentes, a proposição de Newton, e dizer: concebível que a matéria animada possa agir à distância ou então concebível que a matéria inanimada possa agir à distância por um intermediário. A primeira fórmula renuncia a uma solução científica, e supõe a matéria animada como fez primeiro Maupertuis e recentemente Zöllner. A segunda fórmula fica no quadro das ciências naturais, e implica uma concepção que já se encontra em Newton. Este supunha o espaço por toda parte ocupado por uma matéria: o éter, veículo dos fenômenos, como o calor, a luz, a gravitação, a eletricidade etc. Antes mesmo da publicação da sua obra, ele escrevia a Boyle: “no éter que busco a causa da gravitação”. Assim como a lei da gravitação não pôde ser descoberta senão pela generalização de uma lei terrena, assim também só podemos descobrir a causa da gravitação dando valor cósmico a uma força terrena agindo à distância. A Ciência astronômica somente se torna uma possibilidade humana, pressupondo a universalidade das leis terrenas, porque somente elas são acessíveis a uma verificação experimental.

Existe uma força terrena agindo à distância, que nos parece apropriada à explicação da gravitação: é a eletricidade. Em uma memória sobre as forças que regem a constituição íntima dos corpos, publicada em 1836 e reproduzida por Zôllner[3], Mossoti já declara que a gravitação pode ser considerada como uma consequência dos princípios que regem as leis da força elétrica. Faraday queria determinar experimentalmente as relações que podiam existir entre a gravitação e a eletricidade. Ele partia da premissa seguinte: “se essas relações existem, a gravitação deve encerrar alguma coisa que corresponda à natureza dual ou antitética das forças eletromagnéticas”. Ele bem havia reconhecido que, no caso de existir semelhante qualidade, não haveria expressões bastante fortes para traduzir a importância dessas relações[4]. Com efeito, seria esse um fato de extraordinária importância, porque então o peso ou a gravitação se nos apresentaria como uma força modificável em certas condições, e sua demonstração teria para a Ciência um valor maior que qualquer outra descoberta. As experiências de Faraday não deram, é certo, resultado positivo, mas esse físico não conservou, por isso, menos firme a sua convicção da existência dessa relação. Foi pena que ele não tivesse procurado descobrir essas relações onde elas realmente existem, isto é, nos fenômenos de levitação do ocultismo. Em 1872 Tisserand, por seu lado, fez à Academia das Ciências uma comunicação sobre o movimento dos planetas ao redor do Sol, segundo a lei eletrodinâmica de Weber[5]. Ele provou que os movimentos dos planetas se explicam tanto pela lei de Weber, como pela de Newton, e que esta última não é mais que um caso particular da procedente. Recentemente ainda, Zôllner voltou a essa ideia: A lei de Weber, disse ele, tende a apresentar-se ao espírito humano como uma lei geral da natureza, regendo tanto os movimentos dos astros como os dos elementos materiais. Os movimentos dos corpos celestes se explicam, nos limites da nossa observação, tanto pela lei estabelecida por Weber para a eletricidade, como pela de Newton. Como, porém, esta não é mais que um caso particular da lei de Weber, seria preciso, conforme as regras de uma indução racional, substituir esta última à lei de Newton para o estudo das ações recíprocas entre partículas materiais em repouso ou em movimento[6].

Portanto, se o peso ou a gravitação é um fenômeno elétrico, deve ser modificável e polarizável pelas influências magnéticas elétricas o que demonstra o ímã agindo em sentido inverso do peso. Este depende da densidade, da coesão das partículas, não sendo a coesão mais que eletricidade presa.

A hipótese que faz da atração do Sol sobre os planetas um fenômeno elétrico, ganharia em verossimilhança, aí a atração que Newton atribui à Lua, e cujo efeito se manifesta nas marés, pudesse ser imitada eletricamente; ora, se aproximarmos de um líquido um pau de âmbar tornado elétrico pelo atrito, vemos formar-se na superfície desse líquido uma intumescência. Essa hipótese ganharia ainda mais verossimilhança, se pudesse pôr em evidência, no nosso sistema solar, o fato da repulsão elétrica; é precisamente o caso da cauda dos cometas. O núcleo dos cometas, em sua qualidade de massa fluida semeada de pequenas gotas, é submetido à ação da gravitação e obedece à lei de Kepler. A cauda, isto é, os vapores formados à custa do núcleo, agem de um modo diferente. Esses vapores não são atraídos pelo Sol, mas repelidos por ele segundo o prolongamento da linha reta que liga o Sol ao núcleo e que se chama raio vector. Todo líquido em via de pulverização se eletriza, como é sabido; portanto, estamos autorizados a supor que os vapores desenvolvidos à custa do núcleo do cometa, sob a influência do calor solar, são igualmente eletrizados. Como as eletricidades do mesmo nome se repelem, poder-se-ia pensar que a cauda dos cometas sofre a sua repulsão simplesmente pelo fato de estar carregada de uma eletricidade da mesma natureza que a do Sol. Mas, quando os cometas se aproximam do Sol, na época do periélio, o processo de ebulição que começou na superfície do cometa, deve cada vez mais avançar em profundidade, e pode acontecer que novas substâncias químicas tomem parte nela, e que o sinal da eletricidade, de que os vapores são carregados, venha a mudar; isto é, que os vapores adquiram uma eletricidade de natureza contrária à do Sol. Nessas condições, e em razão da universalidade suposta das leis da natureza, pode-se formar uma cauda de cometa dirigida para o Sol, isto é, atraída por ele como o próprio núcleo, por esse raciocínio que Zôllner explicava a aparência do cometa em 1823, que apresentava duas caudas: uma dirigida para o Sol, e a outra em sentido oposto, formando entre si um ângulo de 160° [7].

O exame desse fenômeno cósmico nos permite supor que a gravitação é idêntica à atração elétrica, mas que, pela mudança de sinal da eletricidade, a gravitação pode ser mudada em levitação e reciprocamente. Resulta daí, para a ciência, a possibilidade de modificar ou abolir o peso em condições submetidas a leis. Se a Ciência conseguisse determinar essas condições e fizer delas uma aplicação técnica aos mistérios da natureza, a vida humana se acharia mais profundamente modificada do que foi por todas as descobertas efetuadas até hoje. Se a hipótese de Faraday, atribuindo à gravitação o caráter antitético da eletricidade, for verificada, e nós a aplicarmos, os fenômenos de levitação, tão numerosos ao ocultismo, perderão a sua aparência paradoxal.

O levantamento, pelo ímã, de um pedaço de ferro colocado sobre uma mesa, sua subtração à ação do peso, é um fenômeno natural e não pode ser compreendido senão admitindo-se que a gravitação possua uma natureza antitética. As caudas dos cometas, que se dirigem ora para o Sol e ora em sentido oposto, fornecem a prova de que a gravitação pode, em condições dadas, de conformidade com leis universais, transformar-se em levitação e reciprocamente.

A ciência da natureza, utilizando-se do princípio da evolução que tomou emprestado à filosofia, comete sempre o erro de desconhecer seu próprio poder evolutivo.

Desde que surge uma nova ideia, apressam-se em considerá-la como definitiva, criando assim um obstáculo a todo progresso ulterior. Hoje, apoiando-se na lei da gravitação é que se nega e declara impossíveis os fenômenos ocultistas de levitação, sem refletir que, se existem impossibilidades matemáticas e lógicas, tudo na física repousa sobre a observação e a experimentação. Neste último domínio só teria o direito de formular a priori a palavra impossível àquele que possuísse a ciência absoluta. Não foi esse o procedimento de Newton. Jamais foi feita uma descoberta aplicando-se uma porção tão enorme de Universo, como a da gravitação universal, de Newton. Uma lei em ação, mesmo sobre os mais ínfimos globos do espaço, foi transportada à Via-Láctea e às mais longínquas nebulosas, cuja luz gasta milhões de anos para chegar até nós que Newton nunca teve a ideia de impor à potência evolutiva da Ciência, esses limites que as mais das vezes não passam de manifestações do orgulho do sábio que fez uma descoberta e não admite que se vá além. Em seu leito de morte, ele dizia: “Não sei o que de mim pensará a posteridade; comparo-me mesmo a uma criança que, brincando numa praia, achou, para sua grande alegria, um seixo mais polido ou uma concha mais elegante que as outras, enquanto diante dela se estende, a perder de vista e ainda inexplorado, o oceano imenso da verdade[8] ”. Esse oceano imenso e inexplorado ainda se estende diante de nós, e as grandes descobertas dos séculos futuros somente serão possíveis se tivermos a modéstia de considerarmos as maiores descobertas do passado e do presente como seixos polidos ou belas conchas.

Enquanto a ciência da natureza ficar fiel ao prejuízo, que ela cultiva com tanto cuidado, de ver no peso uma força invariável, não poderá mesmo conceber a simples ideia de investigar as leis cuja ação possa contrariar a gravitação, e continuará a afirmar a impossibilidade.

A Natureza, dizia ele, envolveram em um véu e em trevas tão espessas as vias e os meios de que se serve para imprimir a todos os corpos sua tendência a cair sobre a Terra, que, apesar de todo esforço e sagacidade, não se pôde ainda descobrir o menor traço. Foi isso que levou os filósofos a buscarem a causa desse fenômeno maravilhoso nos próprios corpos, numa propriedade que lhes seria essencial, em virtude da qual eles tenderiam para o centro da Terra, como se sentissem a necessidade imperiosa de, como uma parte, unir-se ao todo. Isso não se chama descobrir causas, mas criá-las pouco claras e incompreensíveis a qualquer pessoa[9].

Os corpos são pesados tal é a fórmula enunciada na linguagem da ignorância, que se prende ao fato mais imediato, à sensação do peso que nos fazem experimentar os corpos. Colocamos nos corpos uma atividade, ainda que, em sua tendência a caírem, eles não obedeçam senão passivamente à atração terrena. Se o peso fosse inseparável da matéria, seria invariável, o que não se dá; porque, se o homem for transportado para a Lua, não possuirá mais que o sexto do seu peso[10] , se o for para o Sol, terá um peso enorme. O peso, de causa exterior e variável, não é, pois, inseparável da concepção da matéria. Desde então, cai toda objeção contra a possibilidade da levitação, e cada dia poderá fazer conhecer um novo processo a empregar-se para subtrair um corpo material à atração terrena, pela ação de uma força agindo em sentido contrário.

Ora, a levitação não é somente possível: ela é uma realidade. Milhares de pessoas verificam-na, e entre elas se acham investigadores sérios que a submeteram à investigação científica. Portanto, a Ciência tem o dever de explorar o domínio do ocultismo que apresenta essa força da levitação. Mas, no dia em que ela se firmar na ideia de que, apesar de conhecermos a lei da gravitação, a causa desta é ainda um grande enigma, se libertará desse prejuízo e desaparecerá esse grande obstáculo ao progresso. Se a Ciência não se deixasse cegar e não permanecesse sistematicamente afastada do domínio onde poderia explorar à vontade os tão numerosos fenômenos da levitação, teria dado grande passo para a solução de um dos problemas de maior importância para a Humanidade.

Babinet disse: “Aquele que, contra toda possibilidade, conseguisse elevar ao ar, e aí conservar, em suspensão, uma mesa ou qualquer outro corpo em repouso, poderia lisonjear-se de ter feito a mais importante de todas as descobertas do século”. Newton tornou-se imortal pela sua descoberta da gravitação universal; aquele que soubesse subtrair um corpo à gravitação, sem meio mecânico, teria ainda feito mais[11]. Babinet tinha razão para atribuir grande valor a tal descoberta; mas errou acrescentando que o fato era impossível. Ele também confunde a lei e a causa da gravitação. Mesmo que não tivéssemos a menor ideia dessa causa, seria eminentemente ilógico afirmar a impossibilidade da levitação. Mas, se a gravitação entra nas leis fundamentais da eletricidade, a levitação se torna logo uma das suas mais positivas possibilidades.

As leis são imutáveis, mas as causas podem variar, e sua variabilidade fica estabelecida com a descoberta das forças que permitem modificá-las. O que faz que um sábio, como Babinet, tenha essa ideia tão fixa sobre o peso, é ele, sem muito refletir, considerá-lo como um atributo inseparável da matéria. Entretanto há duzentos anos já que Huyghens nos punha em guarda contra semelhantes erros em atividade, de estudá-la em suas manifestações e, variando as condições experimentais, procurar estabelecer a lei do fenômeno.

Sou partidário de uma estreita aliança entre a física e o ocultismo, e isso no interesse de ambos. Se todos os ocultistas fossem excelentes físicos, não veríamos acumular-se há tantas dezenas de anos fatos e materiais relativos à levitação, sem alguma tentativa séria de explicação. Eu não teria necessidade, ainda que tendo estudado a física, de deter-me nisto, abandonando o resto aos físicos. Se, pelo contrário, todos os físicos fossem excelentes ocultistas, em vez das discussões estéreis onde uns afirmam os fatos e outros lhes negam a possibilidade, veríamos surgir discussões fecundas sobre as causas dos fenômenos. Os físicos não tardariam então a reconhecer que o ocultismo é suscetível de fornecer-lhes nova orientação, e que em particular o estudo da levitação fornece a solução de um problema que excede em importância a todos os outros.



[1] Ieenkrahe - Das Rcethsel der Sehwerlcraft

[2] Newton - Principio, III.

[3] Erkloernng der universellen Gravitntion ans den sta­tischen. Wirleungen der Eleletrieitbt, - et Wíssenechaítl. Abh­andl., I, 417-459.

[4] Faraday - Rech. Expérim sur electricité - Tradução alemã, III.

[5] Qampbes: andus, 30 de setembro de 1872. (46) Zollner - Natur der Kometen, 70, 127, 128.

[6] Zollner - Wissensch Abhemdl, II, 2, 638-640.

[7] Idem

[8] Brewaber - Life of Newton, 338.

[9] Huyghens - Diss. de causa gravitis.

[10] Idem

[11] Hevue des Deux-Mondes, 1854, 530.

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