terça-feira, 15 de junho de 2021

A SOLIDARIEDADE[1]

 

Allan Kardec

 

(Paris, 26 de novembro de 1866 – Médium: Sr. Sabb...)

 

Glória a Deus e paz aos homens de boa vontade!

O estudo do Espiritismo não deve ser vão. Para certos homens levianos, é uma diversão; para os homens sérios, deve ser sério.

Antes de tudo refleti numa coisa. Não estais na Terra para aí viver à maneira dos animais, para vegetar à maneira de gramíneas ou de árvores. As gramíneas e árvores têm a vida orgânica, mas não têm a vida inteligente, como os animais não têm a vida moral. Tudo vive, tudo respira em a Natureza, mas só o homem sente e se sente.

Como são lamentáveis e insensatos aqueles que se desprezam a ponto de se compararem a um pé de erva ou a um elefante! Não confundamos os gêneros nem as espécies. Não são grandes filósofos e grandes naturalistas que, por exemplo, veem no Espiritismo uma nova edição da metempsicose e, sobretudo, de uma metempsicose absurda. A metempsicose não é outra coisa senão o sonho de um homem de imaginação. Um animal, um vegetal produz o seu congênere, nada mais, nada menos. Que isto seja dito para impedir velhas ideias falsas de serem novamente acreditadas, à sombra do Espiritismo.

Homem, sede homem; sabei de onde vindes e para onde ides. Sois o filho amado d'Aquele que tudo fez e vos deu um fim, um destino que deveis realizar sem o conhecer absolutamente.

Éreis necessário aos seus desígnios, à sua glória, à sua própria felicidade? Questões inúteis, porque insolúveis. Vós sois; sede reconhecidos por isto; mas ser não é tudo; é preciso ser segundo as leis do Criador, que são as vossas próprias leis. Lançado na existência, sois ao mesmo tempo causa e efeito. Ao menos quanto ao presente, não podeis determinar o vosso papel, nem como causa, nem como efeito, mas podeis seguir as vossas leis. Ora, a principal é esta: O homem não é um ser isolado, é um ser coletivo.

O homem é solidário do homem. É em vão que procura o complemento de seu ser, isto é, a felicidade em si mesmo ou no que o cerca isoladamente; não pode encontrá-lo senão no homem ou na Humanidade. Então nada fazeis para ser pessoalmente feliz, tanto quanto a infelicidade de um membro da Humanidade, de uma parte de vós mesmo, poderá vos afligir.

Mas, direis, é a moral que ensinais. Ora, a moral é um velho lugar-comum. Olhai em torno de vós: que há de mais ordinário, de mais comum que a sucessão periódica do dia e da noite, que a necessidade de vos alimentardes e de vos vestirdes? É para isto que tendem todos os vossos cuidados, todos os vossos esforços. E é necessário, pois assim o exige a parte material do vosso ser. Mas a vossa natureza não é dupla, e não sois mais espírito do que corpo? Como, pois, vos é mais difícil ouvir lembrar as leis morais do que as leis físicas, que aplicais a todo instante? Se fôsseis menos preocupados e menos distraídos essa repetição não seria tão necessária.

Não nos afastemos de nosso assunto. Bem compreendido, o Espiritismo é, para a vida da alma, o que o trabalho material é para a vida do corpo. Ocupai-vos dele com este objetivo e ficai certos de que quando tiverdes feito, para o vosso melhoramento moral, a metade do que fazeis para melhorar a vossa existência material, tereis feito a Humanidade dar um grande passo.

Um Espírito



[1] Revista Espírita – Março/1867 – Allan Kardec

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