Marco Antonio Silva - Março/2021
O caminhar na vida nem sempre é
retilíneo, estável e previsível. Apesar dos esforços que empenhamos, em
determinada direção, um fato pode mudar o rumo estabelecido anteriormente.
Nesse momento, é normal sentirmos um desconforto, um certo desequilíbrio, afinal,
nosso chão desaparece e estamos diante do imprevisto. Mas, será que existem imprevistos?
*
Clóvis, logo após completar
dezessete anos, estava radiante. Há três anos, se dedicava a estudar para o
vestibular e conseguira sua vaga para o curso de medicina. Recebia as
congratulações de seus pais e namorada que o incentivaram a buscar a carreira
de médico, principalmente vislumbrando os ganhos financeiros e o reconhecimento
social atrelado à nobre profissão.
O jovem fazia planos para o
futuro, se imaginando em seu consultório próprio, nas futuras posses, nos
deleites e na admiração que o título despertaria. Naquele momento, ainda não
passava, pela sua mente, as curas e o alívio das dores que proporcionaria aos
que Deus conduzisse até suas mãos.
No dia seguinte à comemoração,
veio o susto. Manifestou enfermidade, com urgente necessidade de internação.
Não se tratava de uma simples doença. De fácil transmissão e com alta taxa de
mortalidade, revelava status de
pandemia. Os hospitais lotados ocasionam certa demora na internação,
agravando-se o quadro clínico de Clóvis.
Um amigo da família intercede e
o aceitam em um hospital. Internado, ligado a aparelhos, o paciente rapidamente
perde a condição de cuidar de si, dependendo totalmente daquelas pessoas que
lhe eram estranhas para que o acolham, o alimentem, o mediquem, o higienizem, o
agasalhem e o protejam.
Nos poucos momentos de lucidez,
ele se agarra aos planos que projetara. Não queria perder a oportunidade que
conquistara.
Os dias se sucedem e ele perde a
noção do tempo. Contudo, percebe melhoras, é desligado dos aparelhos dos quais
dependia a sua vida. Finalmente, lúcido e com controle de seus movimentos, está
pronto para voltar ao lar. Grande é a expectativa para tornar a ver os seus
amores, a estar entre os seus familiares, de vivenciar seus planos. Entretanto,
junto a esses anseios, reconhece em seu íntimo certa insegurança de sair
daquele local, em que se via cuidado e protegido.
Nove meses haviam decorrido. Ele
deixa o hospital, encontrando mãos carinhosas que o recebem. Sua família o
ampara, nos primeiros novos passos, ainda vacilantes. Clóvis olha para trás e
se emociona. Seu peito está repleto de gratidão e afeto, mas sabe que deve
seguir em frente. Precisa recomeçar.
Em seu lar, ele amanhece
pensando em seus momentos de dor, no medo que sentiu, na sua fragilidade.
Lembra-se do empenho e da dedicação de médicos, enfermeiros, atendentes do
hospital. Percebe, então, que a profissão que almejava havia adquirido novo
sentido. Não eram mais o status e as posses que o motivavam, mas sim, o desejo
de ser o auxiliar nos processos de cura e de alívio das dores. Reconhecia o
impacto da doença na mudança do sentido de sua vida. Aquela experiência
dolorosa fora fundamental para realinhar seus planos a um propósito maior, mais
nobre e elevado. Percebe que havia curado não somente o corpo, mas também sua
alma.
*
Assim acontece quando nascemos.
Deus nos proporciona o plano exato para o nosso caminhar. Temos o corpo certo,
no ambiente adequado, na família exata, no tempo necessário, tudo desenhado com
perfeição, para o sucesso de nossa experiência corporal. São as Leis Divinas
sendo operadas ao nosso favor.
Sob esse ponto de vista,
reconhecendo a perfeição da Justiça Divina, é que as dores e experiências mais
duras ganham sentido superior.
O Mestre Jesus nos apontou
claramente a orientação que devemos dar às nossas vidas, quando afirmou[2]:
Olhai para as aves do céu, que não
semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta
e, ainda, quando indagou[3]:
Não é a vida mais do que o mantimento, e
o corpo mais do que o vestido?
Jesus não nos induz à
displicência diante da realidade material, mas enfatiza que devemos dar
prioridade às coisas de nosso Espírito eterno, como mais adiante completou[4]:
Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Dando-nos inteligência e
habilidades diferenciadas, Deus propõe a nossa colaboração com a Sua Obra
Divina. Portanto, é necessário o plano que espiritualize nossos projetos
pessoais e nos submeta humildemente à vontade do Pai Celestial.
Buscando a Deus, dedicando-nos a
Ele e a tudo mais por Ele, usando para isso a maior referência que nos foi
dada, Jesus, estaremos alinhados aos Planos do Alto, em harmonia com as Leis
Divinas, vivendo então a verdadeira vida.
Que os nossos planos futuros
sejam a cópia mais fiel possível dos Planos Superiores, aqueles mesmos que
formatamos para nossa vida, antes da reencarnação, repletos de realizações,
prosperidade, paz, harmonia, amor e felicidade.
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