sábado, 10 de abril de 2021

UM PLANO PARA O ESPÍRITO[1]

 


Marco Antonio Silva - Março/2021

 

O caminhar na vida nem sempre é retilíneo, estável e previsível. Apesar dos esforços que empenhamos, em determinada direção, um fato pode mudar o rumo estabelecido anteriormente. Nesse momento, é normal sentirmos um desconforto, um certo desequilíbrio, afinal, nosso chão desaparece e estamos diante do imprevisto. Mas, será que existem imprevistos?

*

Clóvis, logo após completar dezessete anos, estava radiante. Há três anos, se dedicava a estudar para o vestibular e conseguira sua vaga para o curso de medicina. Recebia as congratulações de seus pais e namorada que o incentivaram a buscar a carreira de médico, principalmente vislumbrando os ganhos financeiros e o reconhecimento social atrelado à nobre profissão.

O jovem fazia planos para o futuro, se imaginando em seu consultório próprio, nas futuras posses, nos deleites e na admiração que o título despertaria. Naquele momento, ainda não passava, pela sua mente, as curas e o alívio das dores que proporcionaria aos que Deus conduzisse até suas mãos.

No dia seguinte à comemoração, veio o susto. Manifestou enfermidade, com urgente necessidade de internação. Não se tratava de uma simples doença. De fácil transmissão e com alta taxa de mortalidade, revelava status de pandemia. Os hospitais lotados ocasionam certa demora na internação, agravando-se o quadro clínico de Clóvis.

Um amigo da família intercede e o aceitam em um hospital. Internado, ligado a aparelhos, o paciente rapidamente perde a condição de cuidar de si, dependendo totalmente daquelas pessoas que lhe eram estranhas para que o acolham, o alimentem, o mediquem, o higienizem, o agasalhem e o protejam.

Nos poucos momentos de lucidez, ele se agarra aos planos que projetara. Não queria perder a oportunidade que conquistara.

Os dias se sucedem e ele perde a noção do tempo. Contudo, percebe melhoras, é desligado dos aparelhos dos quais dependia a sua vida. Finalmente, lúcido e com controle de seus movimentos, está pronto para voltar ao lar. Grande é a expectativa para tornar a ver os seus amores, a estar entre os seus familiares, de vivenciar seus planos. Entretanto, junto a esses anseios, reconhece em seu íntimo certa insegurança de sair daquele local, em que se via cuidado e protegido.

Nove meses haviam decorrido. Ele deixa o hospital, encontrando mãos carinhosas que o recebem. Sua família o ampara, nos primeiros novos passos, ainda vacilantes. Clóvis olha para trás e se emociona. Seu peito está repleto de gratidão e afeto, mas sabe que deve seguir em frente. Precisa recomeçar.

Em seu lar, ele amanhece pensando em seus momentos de dor, no medo que sentiu, na sua fragilidade. Lembra-se do empenho e da dedicação de médicos, enfermeiros, atendentes do hospital. Percebe, então, que a profissão que almejava havia adquirido novo sentido. Não eram mais o status e as posses que o motivavam, mas sim, o desejo de ser o auxiliar nos processos de cura e de alívio das dores. Reconhecia o impacto da doença na mudança do sentido de sua vida. Aquela experiência dolorosa fora fundamental para realinhar seus planos a um propósito maior, mais nobre e elevado. Percebe que havia curado não somente o corpo, mas também sua alma.

*

Assim acontece quando nascemos. Deus nos proporciona o plano exato para o nosso caminhar. Temos o corpo certo, no ambiente adequado, na família exata, no tempo necessário, tudo desenhado com perfeição, para o sucesso de nossa experiência corporal. São as Leis Divinas sendo operadas ao nosso favor.

Sob esse ponto de vista, reconhecendo a perfeição da Justiça Divina, é que as dores e experiências mais duras ganham sentido superior.

O Mestre Jesus nos apontou claramente a orientação que devemos dar às nossas vidas, quando afirmou[2]: Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta e, ainda, quando indagou[3]: Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestido?

Jesus não nos induz à displicência diante da realidade material, mas enfatiza que devemos dar prioridade às coisas de nosso Espírito eterno, como mais adiante completou[4]: Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

Dando-nos inteligência e habilidades diferenciadas, Deus propõe a nossa colaboração com a Sua Obra Divina. Portanto, é necessário o plano que espiritualize nossos projetos pessoais e nos submeta humildemente à vontade do Pai Celestial.

Buscando a Deus, dedicando-nos a Ele e a tudo mais por Ele, usando para isso a maior referência que nos foi dada, Jesus, estaremos alinhados aos Planos do Alto, em harmonia com as Leis Divinas, vivendo então a verdadeira vida.

Que os nossos planos futuros sejam a cópia mais fiel possível dos Planos Superiores, aqueles mesmos que formatamos para nossa vida, antes da reencarnação, repletos de realizações, prosperidade, paz, harmonia, amor e felicidade.



[2] BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. “O novo testamento”. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 6, vers. 26.

[3] Op. cit. cap. 6, vers. 25.

[4] Op. cit. cap. 6, vers. 33.

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