terça-feira, 23 de março de 2021

OLHAR RETROSPECTIVO SOBRE O MOVIMENTO ESPÍRITA[1]

 

Ser espírita é ser livre pensador

Allan Kardec

 

Não resta dúvida a ninguém, tanto para os adversários quanto para os partidários do Espiritismo, que esta questão, mais que nunca, agita os espíritos. Será esse movimento um fogo de palha, como alguns fingem dizer? Mas esse fogo de palha já dura quinze anos e, em vez de se extinguir, sua intensidade só faz aumentar de ano para ano. Ora, não é este o caráter das coisas efêmeras e que só se dirigem à curiosidade. O último levante com que esperavam sufocá-lo apenas o reavivou, superexcitando a atenção dos indiferentes. A tenacidade desta ideia nada tem que possa surpreender quem quer que haja sondado a profundidade e a multiplicidade das raízes pelas quais se liga aos mais graves interesses da Humanidade. Os que se admiram apenas viram a superfície; a maioria só o conhece de nome, mas não lhe compreendem o objetivo, nem o alcance.

Se uns combatem o Espiritismo por ignorância, outros o fazem precisamente porque lhe sentem toda a importância, pressentem o seu futuro e nele veem um poderoso elemento regenerador. Há que se persuadir de que certos adversários estão perfeitamente convertidos. Se estivessem menos convencidos das verdades que ele encerra, não lhe fariam tanta oposição. Sentem que o penhor de seu futuro está no bem que faz. Fazer ressaltar esse bem aos seus olhos, longe de acalmá-los, é aumentar a causa de sua irritação. Tal foi, no século XV, a numerosa classe de escritores copistas, que de bom grado teriam queimado Gutemberg e todos os impressores. Não seria demonstrando os benefícios da imprensa, que os ia suplantar, que os teria apaziguado.

Quando uma coisa está certa e é chegado o tempo de sua eclosão, ela marcha a despeito de tudo. A força de ação do Espiritismo é atestada por sua persistente expansão, malgrado os poucos esforços que faz para se expandir. Há um fato constante: os adversários do Espiritismo consumiram mil vezes mais forças para abatê-lo, sem o conseguir, do que seus partidários para propagá-lo. Ele avança, por assim dizer, só, semelhante a um curso d’água que se infiltra através das terras, abre uma passagem à direita, se o barram à esquerda, e pouco a pouco mina as pedras mais duras, acabando por fazer desabarem montanhas.

Um fato notório é que, em seu conjunto, a marcha do Espiritismo não sofreu nenhuma interrupção; ela pôde ser entravada, reprimida, retardada em algumas localidades por influências contrárias; mas, como dissemos, a corrente, barrada num ponto, aparece em cem outros; em vez de correr em abundância, divide-se numa porção de filetes. Entretanto, à primeira vista, dir-se-ia que sua marcha é menos rápida do que foi nos primeiros anos. Deve-se concluir que o abandonam? Que encontra menos simpatia? Não; mas simplesmente que o trabalho que ele realiza neste momento é diferente e, por sua natureza, menos ostensivo.

Como já dissemos, desde o começo o Espiritismo ligou a si todos os homens nos quais estas ideias estavam, de certo modo, no estado de intuição. Bastou-lhe apresentar-se para ser compreendido e aceito. Imediatamente recolheu por toda parte onde encontrou o terreno preparado. Uma vez feita essa primeira colheita, restavam os terrenos incultos, que reclamavam mais trabalho. É agora através das opiniões refratárias que se deve fazer a luz, e é o período em que nos encontramos. Semelhante ao mineiro que retira sem esforço as primeiras camadas de terra móvel, chegou à rocha que é preciso rebentar e no seio da qual só pouco a pouco pode penetrar. Mas não há rocha, por mais dura que seja, que resista indefinidamente a uma ação dissolvente contínua.

Sua marcha é, pois, ostensivamente menos rápida, mas se, num dado tempo, não congrega tão grande número de adeptos francamente confessos, não abala menos as convicções contrárias, que caem, não de um golpe, mas pouco a pouco, até que a brecha esteja feita. É o trabalho a que assistimos, e que marca a fase atual do progresso da doutrina.

Esta fase é caracterizada por sinais inequívocos.

Examinando a situação, torna-se evidente que a ideia ganha terreno diariamente e se aclimata; encontra menos oposição; riem menos e os mesmos que ainda não a aceitam, começam a lhe conceder foros de cidadania entre as opiniões. Os espíritas já não são mostrados a dedo, como outrora, e vistos como animais curiosos; é o que constatam sobretudo os que viajam. Por toda parte encontram mais simpatia ou menos antipatia pela coisa. Não se pode negar que não haja nisto um progresso real.

Para compreender as facilidades e as dificuldades que o Espiritismo encontra em seu caminho, há que se observar a diversidade das opiniões, através das quais deve abrir passagem.

Jamais se impondo pela força ou pelo constrangimento, mas só pela convicção, ele encontrou uma resistência mais ou menos grande, conforme a natureza das convicções existentes, com as quais podia assimilar-se mais ou menos facilmente, sendo recebido de braços abertos por umas, e repelido com obstinação por outras.

Duas grandes correntes de ideia dividem a sociedade atual: o espiritualismo e o materialismo. Embora este último forme uma incontestável minoria, não se pode esconder que tomou grande extensão desde alguns anos. Um e outro se fracionam numa porção de nuanças, que se podem resumir nas principais categorias seguintes:

 

1º – Os fanáticos de todos os cultos. – 0.

2º – Os crentes satisfeitos, com convicções absolutas, fortemente decididos e sem restrições, embora sem fanatismo, sobre todos os pontos do culto que professam e com o qual estão satisfeitos. Esta categoria também compreende as seitas que, por terem aberto cisão e operado reformas, se julgam de posse de toda a verdade e, por vezes, são mais absolutas do que as religiões-mãe. – 0.

3º – Os crentes ambiciosos, inimigos das ideias emancipadoras, que lhes poderiam fazer perder o ascendente que exercem sobre a ignorância. – 0.

4º – Os crentes pela forma que, por interesse, simulam uma fé que não têm, e quase sempre se mostram mais rígidos e mais intolerantes que as religiões sinceras. – 0.

5º – Os materialistas por sistema, que se apoiam numa teoria racional e na qual muitos se obstinariam contra a evidência, por orgulho, para não confessar que puderam enganar-se; são, em maioria, tão absolutos e intolerantes em sua incredulidade quanto os fanáticos religiosos em sua crença. – 0.

6º – Os sensualistas, que repelem as doutrinas espiritualistas e espíritas, temerosos de que elas os venham perturbar em seus prazeres materiais. Fecham os olhos para não ver. – 0.

7º – Os indiferentes, que só vivem para o hoje, sem se preocupar com o futuro. Em sua maior parte não saberiam dizer se são espiritualistas ou materialistas. Para eles o presente é a única coisa séria. – 0.

8º – Os panteístas, que não admitem uma divindade pessoal, mas um princípio espiritual universal, no qual se confundem as almas, como as gotas no oceano, sem conservarem a sua individualidade. Esta opinião é um primeiro passo para a espiritualidade e, por conseguinte, um progresso sobre o materialismo. Embora um pouco menos refratários às ideias espíritas, os que a professam são, em geral, muito absolutos, porque neles é um sistema preconcebido e racional, e muitos não se dizem panteístas senão para não se confessarem materialistas. É uma concessão que fazem às ideias espiritualistas para salvar as aparências. – 1.

9º – Os deístas, que admitem a personalidade de um Deus único, criador e soberano senhor de todas as coisas, eterno e infinito em todas as suas perfeições, mas rejeitam todo culto exterior. – 3.

10º – Os espiritualistas sem sistema, que, por convicção, não pertencem a nenhum culto, sem repelir nenhum, mas que não têm qualquer ideia fixa sobre o futuro. – 5.

11º – Os crentes progressistas, vinculados a um culto determinado, mas que admitem o progresso na religião e o acordo das crenças com o progresso das ciências. – 5.

12º – Os crentes insatisfeitos, nos quais a fé é indecisa ou nula sobre os pontos dogmáticos, que não lhes satisfazem completamente a razão, atormentada pela dúvida. – 8.

13º – Os incrédulos por falta de melhor, dos quais a maior parte passou da fé à incredulidade e à negação de tudo, por não terem encontrado, nas crenças com que foram embalados, uma sanção satisfatória para a sua razão, mas nos quais a incredulidade deixa um vazio penoso. Seriam felizes se pudessem enchê-lo. – 9.

14º – Os livres-pensadores, nova denominação pela qual se designam os que não se sujeitam à opinião de ninguém em matéria de religião e de espiritualidade, que não se julgam atrelados pelo culto em que o nascimento os colocou sem o seu consentimento, nem obrigados à observação de práticas religiosas quaisquer. Esta qualificação não especifica nenhuma crença determinada; pode aplicar-se a todas as nuanças do espiritualismo racional, tanto quanto à mais absoluta incredulidade. Toda crença eclética pertence ao livre-pensamento; todo homem que não se guia pela fé cega é, por isto mesmo, livre-pensador. A este título os espíritas também são livres-pensadores.

Mas para os que podem ser chamados os radicais do livre-pensamento, esta designação tem uma acepção mais restrita e, a bem dizer, exclusiva; para estes, ser livre-pensador não é apenas crer no que vê: é não crer em nada; é libertar-se de todo freio, mesmo do temor de Deus e do futuro; a espiritualidade é um estorvo e não a querem. Sob este símbolo da emancipação intelectual, procuram dissimular o que a qualidade de materialista e de ateu tem de repulsivo para a opinião das massas e, coisa singular, é em nome desse símbolo, que parece ser o da tolerância por todas as opiniões, que atiram pedra a quem quer que não pense como eles. Há, pois, uma distinção essencial a fazer entre os que se dizem livres-pensadores, como entre os que se dizem filósofos. Eles se dividem naturalmente em: Livres-pensadores incrédulos, que entram na 5º categoria – 0; e livres-pensadores crentes, que pertencem a todas as nuanças do espiritualismo racional – 9.

15º – Os espíritas por intuição, aqueles nos quais as ideias espíritas são inatas e que as aceitam como uma coisa que não lhes é estranha. – 10.

 

Tais são as camadas de terreno que o Espiritismo deve atravessar. Lançando uma vista de olhos sobre as diferentes categorias acima, é fácil ver aquelas junto às quais ele encontra um acesso mais ou menos fácil e aquelas contra as quais se choca como a picareta contra o granito. Não triunfará destas senão com a ajuda dos novos elementos que a renovação trará à Humanidade: esta é a obra d’Aquele que dirige tudo e que faz surgirem os acontecimentos, de onde deve sair o progresso.

Os números colocados depois de cada categoria indicam aproximadamente a proporção do número de adeptos sobre 10, que cada um fornece ao Espiritismo.

Se se admitir, em média, a igualdade numérica entre estas diferentes categorias, ver-se-á que a parte refratária, por sua natureza, abrange mais ou menos a metade da população. Como ela possui a audácia e a força material, não se limita a uma resistência passiva: é essencialmente agressiva; daí uma luta inevitável e necessária. Mas esse estado de coisas não pode ter senão um tempo, porque o passado se vai e vem o futuro; ora, o Espiritismo marcha com o futuro.

É, pois, na outra metade que o Espiritismo deve ser recrutado, e o campo a explorar é bastante vasto; é aí que deve concentrar seus esforços e que verá seus limites se ampliarem.

Entretanto, esta metade ainda está longe de lhe ser inteiramente simpática; ele aí encontra resistências obstinadas, mas não insuperáveis, como na primeira, da qual a maior parte é devida a prevenções que se apagam à medida que o objetivo e as tendências da doutrina forem mais bem compreendidas, e desaparecerem com o tempo. Se nos podemos admirar de uma coisa é que, malgrado a multiplicidade dos obstáculos que ele encontra, das ciladas que lhe armam, tenha ele podido chegar em alguns anos ao ponto em que hoje se encontra.

Outro progresso não menos evidente é o da atitude da oposição. Pondo de lado os ataques violentos lançados de vez em quando por uma plêiade de escritores, quase sempre os mesmos, que em tudo só veem matéria para rir, que ririam mesmo de Deus, e cujos argumentos se limitam a dizer que a Humanidade beira à demência, muito surpreendidos de que o Espiritismo tenha marchado sem sua permissão, é raríssimo ver a doutrina posta em causa numa polêmica séria e sustentada. Em vez disto, como já fizemos notar em artigo precedente, as ideias espíritas invadem a imprensa, a literatura, a filosofia; delas se apropriam sem o confessar, razão por que se vê a todo instante surgir nos jornais, nos livros, nos sermões e no teatro pensamentos que se diriam hauridos na própria fonte do Espiritismo. Por certo seus autores protestariam contra a qualificação de espíritas, mas nem por isso sofrem menos a influência das ideias que circulam e que parecem justas. É que os princípios sobre os quais repousa a doutrina são de tal modo racionais que fermentam numa imensidão de cérebros e transparecem mal grado seu; tocam em tantas questões que, a bem dizer, é impossível entrar na via da espiritualidade sem fazer Espiritismo involuntariamente. É um dos fatos mais característicos que marcaram o ano que acaba de passar.

Disto se deve concluir que a luta acabou? Não, certamente; devemos, ao contrário e mais que nunca, nos manter em guarda, porque teremos que sustentar assaltos de outro gênero; mas, esperando que as fileiras se reforcem e que os passos à frente também sejam ganhos. Guardemo-nos de crer que certos adversários se deem por vencidos, e de tomar o seu silêncio por uma adesão tácita, ou mesmo por neutralidade. Persuadamo-nos bem de que certas pessoas, enquanto viverem, jamais aceitarão o Espiritismo, nem aberta nem tacitamente, como existem as que jamais aceitarão certos regimes políticos. Todos os raciocínios para a ele os levar são impotentes, porque não o querem a nenhum preço; sua aversão pela doutrina cresce em razão do desenvolvimento que ela toma.

Os ataques a céu aberto tornam-se mais raros, porque reconheceram a sua inutilidade; mas não perdem a esperança de triunfar com o auxílio de manobras tenebrosas. Longe de adormecer numa enganosa segurança, mais que nunca é preciso desconfiar dos falsos irmãos que se insinuam em todas as reuniões para espiar e, a seguir, deturpar o que aí se diz e se faz; que semeiam sub-repticiamente[2] elementos de desunião; que, sob a aparência de um zelo artificial e por vezes interessado, procuram empurrar o Espiritismo para fora das vias da prudência, da moderação e da legalidade; que provocam em seu nome atos repreensíveis aos olhos da lei. Não tendo conseguido torná-lo ridículo, porque, por sua essência, é uma coisa séria, seus esforços tendem a comprometê-lo, para o tornar suspeito à autoridade e provocar contra ele e seus aderentes medidas rigorosas. Desconfiemos, pois, dos beijos de Judas e dos que nos querem abraçar para nos sufocar.

É preciso imaginar que estamos em guerra e que os inimigos estão à nossa porta, prontos para aproveitar a ocasião favorável e que arrebanharão inteligências no próprio lugar.

Que fazer nesta ocorrência? Uma coisa muito simples: fechar-se nos estritos limites dos preceitos da doutrina; esforçar-se em mostrar o que ela é por seu próprio exemplo e declinar toda solidariedade com o que pudesse ser feito em seu nome e que fosse capaz de desacreditá-la, porque não seria este o caso de adeptos sérios e convictos. Não basta dizer-se espírita; aquele que o é de coração o prova por seus atos. Não pregando a doutrina senão o bem, o respeito às leis, a caridade, a tolerância e a benevolência para com todos; repudiando toda violência feita à consciência de outrem, todo charlatanismo, todo pensamento interessado no que concerne às relações com os Espíritos e todas as coisas contrárias à moral evangélica, aquele que não se afasta da linha traçada não pode incorrer em censuras fundadas, nem em perseguições legais; mais ainda: quem quer que tome a doutrina como regra de conduta, não pode senão granjear estima e consideração das pessoas imparciais. Diante do bem a própria incredulidade zombeteira se inclina e a calúnia não pode sujar o que está sem mancha. É nessas condições que o Espiritismo atravessará as tempestades que serão amontoadas em sua estrada e que sairá triunfante de todas as lutas.

O Espiritismo também não pode ser responsabilizado pelas faltas daqueles a quem agrada se dizerem espíritas, como a religião não o é pelos atos repreensíveis dos que só têm a aparência de piedade. Antes, pois, de fazer cair a censura de tais atos sobre um doutrina qualquer, seria preciso saber se ela contém alguma máxima, algum ensinamento que os possa autorizar ou até os desculpar. Se, ao contrário, ela os condena formalmente, é evidente que a falta é inteiramente pessoal e não pode ser imputada à doutrina. Mas é uma distinção que os adversários do Espiritismo não se dão ao trabalho de fazer; ao contrário, eles se sentem muito felizes por encontrar uma ocasião de desacreditá-lo com ou sem razão, não se pejando de lhe atribuir o que não lhe pertence, envenenando as coisas mais insignificantes, em vez de lhes buscar as causas atenuantes.

Desde algum tempo as reuniões espíritas vêm sofrendo certa transformação. As reuniões íntimas e de família multiplicaram-se consideravelmente em Paris e nas principais cidades, em razão mesmo da facilidade que acharam em se formar, pelo aumento do número de médiuns e de adeptos. No princípio os médiuns eram raros; um bom médium era quase um fenômeno; era, pois, natural que se agrupassem em torno dele. À medida que esta faculdade se desenvolveu, os grandes centros se fracionaram, como enxames, numa porção de pequenos grupos particulares, que encontram mais facilidade em se reunir, mais intimidade e homogeneidade em sua composição. Esse resultado, consequência da força mesma das coisas, era previsto. Desde a origem havíamos assinalado os escolhos que, inevitavelmente, deveriam encontrar as sociedades numerosas, necessariamente formadas de elementos heterogêneos, abrindo a porta às ambições e, por isto mesmo, alvo das intrigas, das cabalas, das manobras surdas da malevolência, da inveja e do ciúme, que não podem emanar de uma fonte pura. Nas reuniões íntimas, sem caráter oficial, é-se mais senhor de si, conhece-se melhor, recebe-se quem se quer; aí o recolhimento é maior e sabe-se que os resultados são mais satisfatórios.

Conhecemos bom número de reuniões deste gênero, cuja organização nada deixa a desejar. Há, pois, tudo a ganhar nessa transformação.

Além disso, o ano de 1866 viu se realizarem as previsões dos Espíritos sobre vários pontos interessantes da doutrina, entre outros sobre a extensão e os novos caracteres que devem tomar a mediunidade, bem como sobre a produção de fenômenos susceptíveis de chamar a atenção sobre o princípio da espiritualidade, embora aparentemente estranhos ao Espiritismo. A mediunidade curadora revelou-se em plena luz, nas circunstâncias mais propícias a fazer sensação; desabrocha em muitas outras pessoas. Em certos grupos manifestam-se numerosos casos de sonambulismo espontâneo, de mediunidade falante, de segunda vista e outras variedades da faculdade mediúnica que puderam fornecer úteis assuntos de estudo. Sem ser precisamente novas, essas faculdades ainda estão no nascedouro numa porção de indivíduos; só se mostram em casos isolados e, por assim dizer, se ensaiam na intimidade; mas, com o tempo, adquirirão mais intensidade e se vulgarizarão. É sobretudo quando se revelam espontaneamente em pessoas estranhas ao Espiritismo que chamam a atenção mais fortemente, pois não se pode supor conivência nem admitir a influência de ideias preconcebidas.

Limitamo-nos a assinalar o fato, que cada um pode constatar, e cujo desenvolvimento necessitaria de detalhes muito extensos. Aliás, teremos ocasião de a ele voltar, em artigos especiais.

Em resumo, se nada de muito retumbante assinalou a marcha do Espiritismo nestes últimos tempos, podemos dizer que ela prossegue nas condições normais traçadas pelos Espíritos e que só temos que nos felicitar pelo estado das coisas.



[1] Revista Espírita – Janeiro/1867 – Allan Kardec

 

[2] Fraudulentamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário