Carlos Abranches
Um curso de apenas quatro meses
reforçou o exército dos católicos contra as forças do mal na Terra.
Intitulado “Exorcismo e a oração da
libertação”, ele foi oferecido, pelo segundo ano consecutivo, pela Universidade
Pontifícia Regina Apostolorum, de Roma.
Entre outubro de 2005 e janeiro de
2006, cerca de 120 matriculados de todo o mundo ouviram palestras sobre os
aspectos pastorais, espirituais, teológicos, litúrgicos, médicos, jurídicos e
criminais do satanismo e da possessão demoníaca.
Segundo a opinião dos coordenadores
do curso, “não há dúvida de que hoje o diabo está se intrometendo mais na vida
do homem”. A maioria dos alunos é de padres interessados em saber como lidar
com o demônio no caso de topar com ele algum dia.
Um dos alunos disse que decidiu
fazer o curso após viver a “experiência perturbadora” de ouvir a confissão de
uma jovem da sua paróquia. “Sua voz mudou, seu rosto se transformou e ela
começou a falar em uma língua que não conhecia”, afirmou.
Um dos professores do curso é
bastante conhecido na área do exorcismo. O Pe. Gabriele Nanni relacionou quatro
sinais definitivos de que se trata de uma possessão demoníaca, e não de
problemas psicológicos:
“Quando alguém fala
ou entende línguas que normalmente não conhece; quando sua força física é
desproporcional ao tamanho do seu corpo ou à idade; quando se torna
repentinamente conhecedor de práticas ocultas; quando tem uma aversão física a
coisas sagradas, como a hóstia ou as orações”.
O desafio para os futuros
“exorcistas” da Europa é grande.
Estima-se que só na Itália, há até
5.000 membros de seitas satânicas. E jovens de 17 a 25 anos seriam até três
quartos desse total.
O exorcismo foi assunto de várias
reflexões e artigos por parte de Allan Kardec em diversos trechos da
Codificação e da Revista Espírita. O Codificador deixou claro que seria
necessário compreender a questão sob a nova roupagem conceitual da visão
espírita.
No novo contexto, Kardec esclarece
que o espírito das trevas, adversário de Deus na Terra, na verdade é um inimigo
de si mesmo, trabalhando contra a própria paz.
Acrescenta também que no trato com
as entidades ainda vinculadas ao mal, de pouco adiantam fórmulas e rituais
externos, mas sim a autoridade moral do interlocutor, porque o Espírito tem a
possibilidade de perceber a sinceridade de propósitos do esclarecedor e pode
aferir sua honestidade pela qualidade das vibrações e pela elevação de sua
congruência, no sentido de só propor aquilo que tem possibilidade de sentir com
grandeza e humildade.
Nesse sentido, a técnica do diálogo
com os elementos das sombras constitui uma das valiosas contribuições do Espiritismo
para a melhora das relações entre as realidades material e espiritual. Conversa
franca, aberta, centrada na honestidade de propósitos e no desejo de melhoria
de todos os envolvidos – vítimas, algozes e interlocutores chamados ao serviço
no bem.
No lugar do ritual externo, uma atitude
interna de respeito e afeto sincero pelo comunicante. O que ele precisa é de
amor, como conclui com sabedoria Hermínio Miranda na obra Diálogo com as
Sombras.
A ação comunitária dos espíritas no
que diz respeito às reuniões de desobsessão é, a meu ver, de grandiosa força
revolucionária, por disseminar por milhares de sessões mediúnicas o convite
amorável do Mestre, de servir incansavelmente para colaborar com a iluminação
da Humanidade, a partir da transformação de um coração ferido e disposto a tudo
por fazer o mal e vingar-se.
No lugar do “príncipe das trevas”,
colocamos a figura do irmão enfermo que, tanto quanto nós é necessitado de
amparo e amor sublimes.
O diferencial do espírita é este:
ao contrário de expulsar o chamado demônio da presença dos seres que ele deseja
possuir, devolvendo-o aos ambientes infernais, oferece-lhe o oposto, em forma
de um suave chamado a que venha fazer parte do rebanho do Senhor, já que ele também
é filho de Deus e herdeiro dos tesouros do Pai...
Por aí trabalhamos, a fim de
mostrar à Humanidade que todos podemos herdar a terra dos mansos de coração...
Fonte: Revista Reformador.
Abo 124, 2.125, abril de 2006.
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