quinta-feira, 11 de março de 2021

DESEJOS ALHEIOS[1]

 

Miramez

 

Há culpa em estudar os defeitos alheios?

‒ Se é com o fito de criticar e divulgar há muita culpa, porque isso é faltar com a caridade. Se é com intenção de proveito pessoal, evitando-se aqueles defeitos, pode ser útil. Mas não se deve esquecer que a indulgência para com os defeitos alheios é uma das virtudes compreendidas na caridade. Antes de censurar as imperfeições dos outros, vede se não podem fazer o mesmo a vosso respeito. Tratai, pois, de possuir as qualidades contrárias aos defeitos que criticais nos outros. Esse é um meio de vos tornardes superior. Se os censurais por serem avarentos, sede generosos; por serem orgulhosos, sede humildes e modestos; por serem duros, sede dóceis; por agirem com mesquinhez, sede grandes em todas as vossas ações. Em uma palavra, fazei de maneira que não vos possam aplicar aquelas palavras de Jesus:

“Vedes um argueiro no olho do vizinho e não vedes uma trave no vosso”.

Questão 903/O Livro dos Espíritos

 

Não é justo nos preocuparmos com os defeitos alheios no sentido vulgar, procurando menosprezar os valores de outrem. Somente nascem essas ideias na mente incapaz de experimentar o amor, de quem não se lembra dos ensinamentos de Jesus a nos ensinar a benevolência.

Cada criatura é um mundo em particular; toda alma é um campo de plantio, onde o que se semeia, germina, onde o cuidado multiplica, onde o que se abençoa, aumenta. Quando procuramos nos interessar em divulgar os erros dos outros, os nossos se escondem, prejudicando muito nossa ascensão espiritual.

Incorreremos em grande falta, se colocarmos à vista as falhas alheias, como críticos. As leis nos cedem esse exame nos outros, se a intenção for de aprendermos, sem que outros participem, por simples prazer, da nossa especulação. Em cada alma, na faixa em que se encontra na Terra, existem muitas arestas a serem aparadas, e isso somente os seus portadores podem fazê-lo.

Não deves criar problemas para os teus irmãos; cuida de ti mesmo. Assim fazendo, a tua vida será melhor. Deves desentulhar gradativamente tua consciência das chamas que o passado concentrou, que em todos esses esforços aparecerão mãos invisíveis para te ajudar em nome de Deus, pelos canais do Cristo.

Estudando os outros com a finalidade de melhorar, serás bem aventurado, desde quando o silêncio seja teu companheiro em todos os aspectos das observações. O mais difícil de ser conhecido no mundo é a própria alma; o obstáculo mais difícil de vencer é educar a si mesmo, em todas as suas etapas evolutivas. O nosso maior dever é fortalecer em nós a indulgência para com os outros. Esse é o ponto alto de um coração iluminado. Os nossos irmãos são filhos de Deus, com os mesmos direitos e deveres no certame da vida.

A indulgência é a caridade em brilho maior, que abre os melhores caminhos para quem a possui. Ajusta a tua mente na mente de Jesus, que a verdade aproximar-se-á com mais evidência dos teus caminhos. Antes de censurares as imperfeições dos outros, olha o que estás fazendo da vida, que a tua consciência em Cristo responderá, na luz do Seu amor.

Geralmente os defeitos que criticas, tu os possuis com fartura. Se a honestidade clarear a tua mente, notarás a justiça te indicando outros caminhos a serem percorridos, de maneira que a luz te leve à paz.

Se queres ser superior, não exponhas as faltas alheias; eleva-te pelo amor, engrandece-te pela fraternidade e a gratidão aos que te rodeiam. Somente Jesus veio nos trazer e mostrar pelos exemplos o que devemos fazer com mais acerto, para nos tornarmos livres.

A vida, em muitos aspectos, e os meios que te encontram na estadia passageira, te incentivam para o orgulho, para a vaidade e o egoísmo. Mas, se o Cristo já nasceu em teu coração, faze a tua parte na corrigenda de ti mesmo, acendendo a luz das virtudes, para que sejas teu próprio sol, em toda a extensão da vida.

Quando estamos fora da lei de Deus e queremos modificar nossas vidas, encontramos tropeços em todos os passos. É Marcos que nos diz, anotado no capítulo quatorze, versículo setenta e um:

Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais!

Mesmo sendo o discípulo da confiança do Mestre, a natureza interna de Pedro rejeitou a firmeza em entregar de imediato a sua vida em favor da verdade. Assim somos todos nós; quando abraçamos a verdade internamente, por vezes inconscientemente rejeitamos a luz que iria nos tornar livres.

Ser grande em toda as nossas ações, não é pelas ações grandes; é pelo amor que nos move no bem que estamos fazendo. Seja apenas uma palavra, que ela esteja imantada de amor ao ser pronunciada em favor dos outros. Respeitar os direitos alheios é ter consciência dos nossos, e compreender que saímos todos da mesma fonte de vida.



[1] Filosofia Espírita – Volume 18 – João Nunes Maia

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