Allan Kardec
Num artigo do nosso último
número, intitulado: Olhar
retrospectivo sobre o Movimento Espírita, apresentamos duas classes
distintas de livres-pensadores: os incrédulos e os crentes, e dissemos que,
para os primeiros, ser livre-pensador não é apenas crer no que se quer, mas não
crer em nada; é libertar-se de todo freio, mesmo do temor de Deus e do futuro;
para os segundos, é subordinar a crença à razão e libertar-se do jugo da fé
cega. Estes últimos têm por órgão de publicidade a Livre-consciência, título significativo; os outros, o jornal Livre-pensamento, qualificação mais
vaga, mas que se especializa pelas opiniões formuladas e que vem em todos os
pontos corroborar a distinção que fizemos. Aí lemos no 2, de 28 de outubro de
1866:
As questões de
origem e de fim até aqui têm preocupado a Humanidade a ponto de, por vezes, lhe
perturbar a razão. Esses problemas, que foram qualificados de temíveis, e que
julgamos de importância secundária, não são do domínio imediato da Ciência. Sua
solução científica não pode oferecer senão uma semicerteza. Tal qual é,
entretanto, ela nos basta, e não tentaremos completá-la por argúcias
metafísicas. Aliás, nosso objetivo é só nos ocuparmos de assuntos abordáveis
pela observação. Pretendemos ficar na terra. Se, por vezes, dela nos afastamos
para responder aos ataques dos que não pensam como nós, a incursão fora do real
será de curta duração. Teremos sempre presente à lembrança este sábio conselho
de Helvécio: ‘É preciso ter coragem de ignorar o que não se pode saber’.
Um novo jornal, a
Livre-consciência, nosso irmão mais velho, como faz notar, deseja-nos
boas-vindas em seu primeiro número. Nós lhe agradecemos pela maneira cortês por
que usou o seu direito de progenitura. Nosso confrade pensa que, malgrado a
analogia dos títulos, nem sempre estaremos em ‘completa afinidade de ideias’.
Após a leitura de seu primeiro número estamos certos disso; também não
compreendemos a livre-consciência senão como o livre-pensamento com um limite dogmático
previamente assinalado. Quando se declara claramente discípulo da Ciência e
campeão da livre-consciência, é irracional, em nossa opinião, estabelecer como
dogma uma crença qualquer, impossível de provar cientificamente. A liberdade
assim limitada não é liberdade. Por nossa vez, damos as boas-vindas à
Livre-consciência e estamos dispostos a ver nela uma aliada, pois declara
querer combater por todas as liberdades... Menos uma.
É estranho que considerem a
origem e o fim da Humanidade como questões secundárias, próprias para perturbar
a razão. Que diriam de um homem que, vivendo apenas o dia de hoje, não se
inquietasse como viverá amanhã? Passaria por um homem sensato? Que pensariam
daquele que, tendo uma mulher, filhos, amigos, dissesse: Que me importa que
amanhã estejam vivos ou mortos? Ora, o amanhã da morte é longo; não é, pois, de
admirar que tanta gente se preocupe com ele.
Se se fizer a estatística de
todos os que perdem a razão, ver-se-á que o maior número está precisamente do
lado dos que não creem nesse amanhã, ou que dele duvidam, e isto pela razão
muito simples: a maioria dos casos de loucura é produzida pelo desespero e pela
falta de coragem moral, que faz suportar as misérias da vida, ao passo que a
certeza desse amanhã torna menos amargas as vicissitudes do presente, e os faz
considerar como incidentes passageiros, cujo moral não se afeta ou só
mediocremente se afeta. Sua confiança no futuro lhe dá uma força, que jamais
terá aquele que só tem o nada como perspectiva. Está na posição de um homem
que, arruinado hoje, tem a certeza de ter amanhã uma fortuna superior à que
acaba de perder. Neste caso, facilmente toma seu partido e fica calmo; se, ao
contrário, nada espera, entra em desespero e sua razão pode sofrer com isto.
Ninguém contestará que saber de
onde se vem e para onde se vai, o que se fez na véspera e o que se fará amanhã,
não seja uma coisa necessária para regular os negócios diários da vida, e que
esse princípio não influa na conduta pessoal. Certamente o soldado que sabe
para onde o conduzem, que vê o seu objetivo, marcha com mais firmeza, mais
disposição, mais entusiasmo do que se o conduzissem às cegas. Dá-se o mesmo do
pequeno ao grande, da individualidade ao conjunto. Saber de onde se vem e para
onde se vai não é menos necessário para regular os negócios da vida coletiva da
Humanidade. No dia em que a Humanidade inteira tivesse certeza de que a morte
não tem saída, veria uma confusão geral e os homens se atirando uns contra os
outros, dizendo: se não devemos viver senão um dia, vivamos o melhor possível,
não importa à custa de quem!
O jornal Livre-pensamento declara que entende ficar na terra, e se dela sai
por vezes, será para refutar os que não pensam como ele, mas que suas incursões
fora do real serão de curta duração. Compreenderíamos que assim fosse com um
jornal exclusivamente científico, tratando de matérias especiais. É evidente
que seria intempestivo falar de Espiritualidade, de Psicologia ou de Teologia a
propósito de Mecânica, de Química, de Física, de cálculos matemáticos, de
comércio ou de indústria; mas, desde que se faz entrar a filosofia em seu programa, não poderia executá-lo sem abordar
questões metafísicas. Embora a palavra filosofia
seja muito elástica, e tenha sido singularmente desviada de sua acepção etimológica,
implica, por sua própria essência, pesquisas e estudos que não são
exclusivamente materiais.
O conselho de Helvécio: “É
preciso ter a coragem de ignorar o que não se pode saber” é muito sábio e se
dirige, sobretudo, aos sábios presunçosos, que pensam que nada pode ser oculto
ao homem, e que o que eles não sabem ou não compreendem não deve existir.
Entretanto, seria mais justo dizer: É preciso ter a coragem de confessar sua
ignorância sobre aquilo que não se sabe. Tal qual está formulado, poder-se-ia
traduzi-lo assim:
É preciso ter a
coragem de conservar a sua ignorância,
donde esta consequência: “É inútil procurar saber o que não se sabe”. Sem
dúvida há coisas que o homem jamais saberá enquanto estiver na Terra, porque,
seja qual for a sua presunção, a Humanidade aqui ainda se acha em estado de
adolescência. Mas quem ousaria estabelecer limites absolutos àquilo que pode
saber? Já que hoje sabe infinitamente mais que os homens dos tempos primitivos,
por que, mais tarde, não saberia mais do que sabe agora? É o que não podem
compreender os que não admitem a perpetuidade e a perfectibilidade do ser espiritual. Muitos pensam: Estou no
topo da escada intelectual; o que não vejo e não compreendo, ninguém pode ver
nem compreender.
No parágrafo narrado
acima e relativo ao jornal Livre-consciência,
está dito: Também não compreendemos a livre-consciência senão como o
livre-pensamento com um limite dogmático previamente assinalado. Quando se
declara discípulo da Ciência, é irracional estabelecer como dogma uma crença qualquer, impossível de provar
cientificamente. A liberdade assim limitada não é liberdade.
Toda a doutrina está nestas
palavras: a profissão de fé é clara e categórica. Assim, porque Deus não pode
ser demonstrado por uma equação algébrica e a alma não é perceptível com o
auxílio de um reativo, é absurdo crer em Deus e na alma. Em consequência, todo
discípulo da Ciência deve ser ateu e materialista. Mas, para não sair da
materialidade, a Ciência é sempre infalível em suas demonstrações? Não se viu tantas
vezes dar como verdades o que mais tarde se reconheceu serem erros e vice-versa? Não foi em nome da Ciência
que o sistema de Fulton foi declarado uma quimera? Antes de conhecer a lei da
gravitação, não a demonstrou cientificamente que não podia haver antípodas[2]?
Antes de conhecer a da
eletricidade, não demonstrou por a + b que
não existia velocidade capaz de transmitir um despacho a quinhentas léguas em
alguns minutos?
Tinha-se experimentado muito a
luz e, no entanto, há poucos anos ainda, quem teria suspeitado os prodígios da
fotografia? Contudo, não foram os cientistas oficiais que fizeram essa
prodigiosa descoberta, como não fizeram as do telégrafo elétrico, nem das
máquinas a vapor. Ainda hoje conhece a Ciência todas as leis da Natureza? Sabe
todos os recursos que podem ser tirados das leis conhecidas? Quem ousaria
dizê-lo? Não é possível que um dia o conhecimento de novas leis torne a vida extracorpórea tão evidente, tão
racional, tão inteligível quanto a dos antípodas? Um tal resultado, pondo termo
a todas as incertezas, seria então para desdenhar? Seria menos importante para
a Humanidade do que a descoberta de um novo continente, de um novo planeta, de
um novo engenho de destruição? Pois bem! Esta hipótese tornou-se realidade; é
ao Espiritismo que a devemos, e é graças a ele que tanta gente, que acreditava
morrer para sempre, agora está certa de viver sempre.
Falamos da força de gravitação,
desta força que rege o Universo, desde o grão de areia até os mundos. Mas, quem
a viu? Quem a pôde seguir e analisar? Em que consiste? Qual a sua natureza, sua
causa primeira? Ninguém o sabe e, contudo, ninguém hoje dela duvida. Como
reconheceram? Por seus efeitos; dos efeitos concluíram a causa. Fez-se mais:
calculando a força dos efeitos, calculou-se a força da causa, que jamais foi
vista. Dá-se o mesmo com Deus e a vida espiritual, que também se julga por seus
efeitos, conforme o axioma:
Todo efeito tem uma
causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa
inteligente está na razão da grandeza do efeito.
Crer em Deus e na vida
espiritual não é, pois, uma crença puramente gratuita, mas o resultado de
observações, tão positivas quanto as que fizeram crer na força da gravitação.
Depois, em falta de provas
materiais, ou concorrentes a estas, não admite a filosofia as provas morais
que, por vezes, têm tanto ou mais valor que as outras? Vós, que não tomais por
verdade senão o que está provado materialmente, que diríeis se, sendo
injustamente acusado de um crime, cujas aparências fossem todas contra vós,
como se vê com frequência na justiça, os juízes não levassem em nenhuma conta
as provas morais que vos fossem favoráveis? Não seríeis os primeiros a
invocá-las? A fazer valer sua preponderância sobre efeitos puramente materiais,
que podem criar uma ilusão? A provar que os sentidos podem iludir o mais
clarividente? Se, pois, admitis que as provas morais devem pesar na balança de
um julgamento, não seríeis consequentes convosco mesmo negando seu valor quando
se trata de formar uma opinião sobre as coisas que, por sua natureza, escapam à
materialidade.
Que de mais livre, de mais
independente, de menos perceptível por sua própria essência, do que o
pensamento? E, contudo, eis uma escola que pretende emancipá-lo, subjugando-o à
matéria; que avança, em nome da razão, que o pensamento circunscrito sobre as
coisas terrenas é mais livre que a que se atira no infinito e quer ver além do
horizonte material! Tanto valeria dizer que o prisioneiro, que só pode dar
alguns passos em sua cela, é mais livre que o que corre os campos. Se não sois
livre para crer nas coisas do mundo espiritual, que é infinito, o sois cem
vezes menos, vós que vos circunscreveis no estreito limite do tangível, que
dizeis ao pensamento: Não sairás do
círculo que te traçamos; e se dele saíres, declaramos que não és mais
pensamento são, mas a loucura, a tolice, o contrassenso, porque só a nós cabe
discernir o falso do verdadeiro.
A isto responde o
espiritualismo: Nós formamos a imensa maioria dos homens, dos quais sois apenas
a milionésima parte. Com que direito vos atribuís o monopólio da razão? Dizeis
que quereis emancipar nossas ideias impondo-nos as vossas? Mas não nos ensinais
nada; sabemos o que sabeis; cremos sem restrição em tudo que credes: na matéria
e no valor das provas tangíveis, e mais que vós: em algo fora da matéria; numa
força inteligente, superior à Humanidade; em causas inapreciáveis pelos
sentidos, mas perceptíveis pelo pensamento; na perpetuidade da vida espiritual,
que limitais à duração da vida do corpo. Nossas ideias são, pois, infinitamente
mais largas que as vossas; enquanto circunscreveis vosso ponto de vista, o
nosso abarca horizontes sem limites. Como aquele que concentra o pensamento
sobre uma determinada ordem de fatos, que põe um ponto de parada em seus movimentos
intelectuais, em suas investigações,
pode pretender emancipar aquele que se move sem entraves, e cujo pensamento sonda
as profundezas do infinito? Restringir o campo de exploração do pensamento é
restringir a liberdade, e é o que fazeis.
Dizeis ainda que quereis
arrancar o mundo ao jugo das crenças dogmáticas. Fazeis, ao menos, uma
distinção entre suas crenças? Não, porque confundis na mesma reprovação tudo
quanto não é do domínio exclusivo da Ciência, tudo quanto não se vê pelos olhos
do corpo, numa palavra, tudo que é de essência espiritual, por conseguinte
Deus, a alma e a vida futura. Mas se toda crença espiritual é um entrave à
liberdade de pensar, dá-se o mesmo com toda crença material; aquele que crê que
uma coisa é vermelha, porque a vê vermelha, não é livre de julgá-la verde.
Desde que o pensamento é detido por uma convicção qualquer, já não é livre. Para
ser consequente com a vossa teoria, a liberdade absoluta consistiria em nada
crer, nem mesmo em sua própria existência, porque isto seria ainda uma
restrição. Mas, então, em que se tornaria o pensamento?
Encarado deste ponto de vista, o
livre-pensamento seria um contrassenso. Ele deve ser entendido num sentido mais
largo e mais verdadeiro, isto é, do livre uso que se faz da faculdade de
pensar, e não de sua aplicação a uma ordem qualquer de ideias. Consiste não em
crer numa coisa, em vez de outra, nem em excluir tal ou qual crença, mas na liberdade absoluta da escolha das crenças.
É, pois, abusivamente que alguns deles fazem aplicação exclusiva às ideias
antiespiritualistas. Toda opinião racional, que não é imposta nem subjugada
cegamente à de outrem, mas que é voluntariamente adotada em virtude do
exercício do raciocínio pessoal, é um pensamento livre, quer seja religioso,
político ou filosófico.
Em sua acepção mais vasta, o
livre-pensamento significa: livre-exame, liberdade de consciência, fé
raciocinada; simboliza a emancipação intelectual, a independência moral, complemento
da independência física; não quer mais escravos do pensamento, pois o que caracteriza
o livre-pensador é que este pensa por si mesmo, e não pelos outros; em outros
termos, sua opinião lhe é própria. Assim, pode haver livres-pensadores em todas
as opiniões e em todas as crenças. Neste sentido, o livre-pensamento eleva a
dignidade do homem, dele fazendo um ser ativo, inteligente, em vez de uma máquina de crer.
No sentido exclusivo que alguns
lhe dão, em vez de emancipar o espírito, restringe a sua atividade, fazendo-o
escravo da matéria. Os fanáticos da incredulidade fazem num sentido o que os
fanáticos da fé cega fazem em outro. Então estes dizem: Para ser segundo Deus é
preciso crer em tudo o que cremos; fora de nossa fé não há salvação. Os outros
dizem: Para ser segundo a razão, é preciso pensar como nós, não crer senão no
que cremos; fora dos limites que traçamos à crença, não há liberdade, nem
bom-senso, doutrina que se formula por este paradoxo: Vosso espírito só é livre
com a condição de não crer no que quer, o que significa para o indivíduo: Tu és
o mais livre de todos os homens, desde que não vás mais longe do que a ponta da
corda à qual te amarramos.
Certamente não contestamos aos
incrédulos o direito de não crer em coisa alguma além da matéria; mas hão de
convir que há singulares contradições na sua pretensão em se atribuir o monopólio
da liberdade de pensar.
Dissemos que pela qualidade do
livre-pensador, certas pessoas procuram atenuar o que a incredulidade absoluta
tem de repulsivo para a opinião das massas. Com efeito, suponhamos que um
jornal se intitule abertamente: O Ateu, O
Incrédulo, O Materialista; pode-se julgar da impressão que este título
deixaria no público. Mas se abrigar as mesmas doutrinas sob a capa de Livre-pensador, dirão a esta insígnia: É
a bandeira da emancipação moral; deve ser a da liberdade de consciência e,
sobretudo, da tolerância. Vejamos. Vê-se que nem sempre é preciso reportar-se à
etiqueta.
Aliás, seria erro aterrorizar-se
além da medida com as consequências de certas doutrinas; momentaneamente podem seduzir
certos indivíduos, mas jamais seduzirão as massas, que a elas se opõem por
instinto e por necessidade. É útil que todos os sistemas venham à luz, a fim de
que cada um possa julgar o lado forte e o fraco e, em virtude do direito de
livre-exame, possa adotá-los ou rejeitá-los com conhecimento de causa. Quando
as utopias tiverem sido vistas em ação e quando tiverem provado a sua impotência,
cairão para não mais se erguer. Por seu próprio exagero, agitam a sociedade e
preparam a renovação. Ainda nisto está o sinal dos tempos.
O Espiritismo é, como pensam
alguns, uma nova fé cega, que substituiu outra fé cega? Em outras palavras, uma
nova escravidão do pensamento sob nova forma? Para crê-lo, é preciso ignorar os
seus primeiros elementos. Com efeito, o Espiritismo estabelece como princípio
que antes de crer é preciso compreender. Ora, para compreender é necessário que
se faça uso do raciocínio; eis por que ele procura dar-se conta de tudo antes
de admitir alguma coisa, a saber, o porquê e o como de cada coisa. É por isso que
os espíritas são mais cépticos do que muitos outros, em relação aos fenômenos
que escapam do círculo das observações habituais. Não se baseia em nenhuma
teoria preconcebida ou hipotética, mas na experiência e na observação dos
fatos; em vez de dizer: “Crede primeiro, e depois compreendereis, se puderdes”,
diz: “Compreendei primeiro, e depois acreditareis, se quiserdes”. Não se impõe
a ninguém; diz a todos: “Vede, observai, comparai e vinde a nós livremente, se
isto vos convém”. Falando assim, ele entra com grande chance no número dos
concorrentes. Se muitos vão a ele, é porque satisfaz a muitos, mas ninguém o
aceita de olhos fechados. Aos que não o aceitam, ele diz: “Sois livres e não
vos quero; tudo o que vos peço é que me deixeis minha liberdade, como vos deixo
a vossa. Se procurais me excluir, temendo que vos suplante, é que não estais
muito seguros de vós”.
Não procurando o Espiritismo
afastar nenhum dos concorrentes na liça aberta às ideias que devem prevalecer
no mundo regenerado, está nas condições do verdadeiro livre-pensamento; não
admitindo nenhuma teoria que não seja fundada na observação, está, ao mesmo
tempo, nas do mais rigoroso positivismo; enfim, tem sobre seus adversários das
duas extremadas opiniões contrárias, a vantagem da tolerância.
Nota – Algumas
pessoas nos censuraram as explicações teóricas que, desde o princípio, temos
procurado dar dos fenômenos espíritas. Essas explicações, baseadas numa
observação atenta, remontando dos efeitos à causa, provavam, por um lado, que
queríamos nos dar conta, e não crer cegamente; por outro lado, que queríamos
fazer do Espiritismo uma ciência de raciocínio,
e não de credulidade. Por estas
explicações, que o tempo desenvolveu, mas que consagrou em princípio, porque
nenhuma foi contraditada pela experiência, os espíritas creram porque compreenderam,
e não há dúvida de que é a isto que se deve atribuir o aumento rápido do número
de adeptos sérios. É a estas explicações que o Espiritismo deve o ter saído do
domínio do maravilhoso, e de se ter ligado às ciências positivas; por elas demonstrou
aos incrédulos que não é uma obra da imaginação; sem elas ainda estaríamos por
compreender os fenômenos que surgem diariamente. Era urgente estabelecer o
Espiritismo, desde o começo, no seu verdadeiro terreno. A teoria fundada sobre
a experiência foi o freio que impediu a incredulidade supersticiosa, tanto
quanto a malevolência, de desviá-lo de sua rota. Por que os que nos censuram por
havermos tomado esta iniciativa, não a tomaram eles mesmos?
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