terça-feira, 30 de março de 2021

LIVRE-PENSAMENTO E LIVRE-CONSCIÊNCIA[1]

 

O PENSADOR - Rodin

Allan Kardec

 

Num artigo do nosso último número, intitulado: Olhar retrospectivo sobre o Movimento Espírita, apresentamos duas classes distintas de livres-pensadores: os incrédulos e os crentes, e dissemos que, para os primeiros, ser livre-pensador não é apenas crer no que se quer, mas não crer em nada; é libertar-se de todo freio, mesmo do temor de Deus e do futuro; para os segundos, é subordinar a crença à razão e libertar-se do jugo da fé cega. Estes últimos têm por órgão de publicidade a Livre-consciência, título significativo; os outros, o jornal Livre-pensamento, qualificação mais vaga, mas que se especializa pelas opiniões formuladas e que vem em todos os pontos corroborar a distinção que fizemos. Aí lemos no 2, de 28 de outubro de 1866:

 

As questões de origem e de fim até aqui têm preocupado a Humanidade a ponto de, por vezes, lhe perturbar a razão. Esses problemas, que foram qualificados de temíveis, e que julgamos de importância secundária, não são do domínio imediato da Ciência. Sua solução científica não pode oferecer senão uma semicerteza. Tal qual é, entretanto, ela nos basta, e não tentaremos completá-la por argúcias metafísicas. Aliás, nosso objetivo é só nos ocuparmos de assuntos abordáveis pela observação. Pretendemos ficar na terra. Se, por vezes, dela nos afastamos para responder aos ataques dos que não pensam como nós, a incursão fora do real será de curta duração. Teremos sempre presente à lembrança este sábio conselho de Helvécio: ‘É preciso ter coragem de ignorar o que não se pode saber’.

Um novo jornal, a Livre-consciência, nosso irmão mais velho, como faz notar, deseja-nos boas-vindas em seu primeiro número. Nós lhe agradecemos pela maneira cortês por que usou o seu direito de progenitura. Nosso confrade pensa que, malgrado a analogia dos títulos, nem sempre estaremos em ‘completa afinidade de ideias’. Após a leitura de seu primeiro número estamos certos disso; também não compreendemos a livre-consciência senão como o livre-pensamento com um limite dogmático previamente assinalado. Quando se declara claramente discípulo da Ciência e campeão da livre-consciência, é irracional, em nossa opinião, estabelecer como dogma uma crença qualquer, impossível de provar cientificamente. A liberdade assim limitada não é liberdade. Por nossa vez, damos as boas-vindas à Livre-consciência e estamos dispostos a ver nela uma aliada, pois declara querer combater por todas as liberdades... Menos uma.

 

É estranho que considerem a origem e o fim da Humanidade como questões secundárias, próprias para perturbar a razão. Que diriam de um homem que, vivendo apenas o dia de hoje, não se inquietasse como viverá amanhã? Passaria por um homem sensato? Que pensariam daquele que, tendo uma mulher, filhos, amigos, dissesse: Que me importa que amanhã estejam vivos ou mortos? Ora, o amanhã da morte é longo; não é, pois, de admirar que tanta gente se preocupe com ele.

Se se fizer a estatística de todos os que perdem a razão, ver-se-á que o maior número está precisamente do lado dos que não creem nesse amanhã, ou que dele duvidam, e isto pela razão muito simples: a maioria dos casos de loucura é produzida pelo desespero e pela falta de coragem moral, que faz suportar as misérias da vida, ao passo que a certeza desse amanhã torna menos amargas as vicissitudes do presente, e os faz considerar como incidentes passageiros, cujo moral não se afeta ou só mediocremente se afeta. Sua confiança no futuro lhe dá uma força, que jamais terá aquele que só tem o nada como perspectiva. Está na posição de um homem que, arruinado hoje, tem a certeza de ter amanhã uma fortuna superior à que acaba de perder. Neste caso, facilmente toma seu partido e fica calmo; se, ao contrário, nada espera, entra em desespero e sua razão pode sofrer com isto.

Ninguém contestará que saber de onde se vem e para onde se vai, o que se fez na véspera e o que se fará amanhã, não seja uma coisa necessária para regular os negócios diários da vida, e que esse princípio não influa na conduta pessoal. Certamente o soldado que sabe para onde o conduzem, que vê o seu objetivo, marcha com mais firmeza, mais disposição, mais entusiasmo do que se o conduzissem às cegas. Dá-se o mesmo do pequeno ao grande, da individualidade ao conjunto. Saber de onde se vem e para onde se vai não é menos necessário para regular os negócios da vida coletiva da Humanidade. No dia em que a Humanidade inteira tivesse certeza de que a morte não tem saída, veria uma confusão geral e os homens se atirando uns contra os outros, dizendo: se não devemos viver senão um dia, vivamos o melhor possível, não importa à custa de quem!

O jornal Livre-pensamento declara que entende ficar na terra, e se dela sai por vezes, será para refutar os que não pensam como ele, mas que suas incursões fora do real serão de curta duração. Compreenderíamos que assim fosse com um jornal exclusivamente científico, tratando de matérias especiais. É evidente que seria intempestivo falar de Espiritualidade, de Psicologia ou de Teologia a propósito de Mecânica, de Química, de Física, de cálculos matemáticos, de comércio ou de indústria; mas, desde que se faz entrar a filosofia em seu programa, não poderia executá-lo sem abordar questões metafísicas. Embora a palavra filosofia seja muito elástica, e tenha sido singularmente desviada de sua acepção etimológica, implica, por sua própria essência, pesquisas e estudos que não são exclusivamente materiais.

O conselho de Helvécio: “É preciso ter a coragem de ignorar o que não se pode saber” é muito sábio e se dirige, sobretudo, aos sábios presunçosos, que pensam que nada pode ser oculto ao homem, e que o que eles não sabem ou não compreendem não deve existir. Entretanto, seria mais justo dizer: É preciso ter a coragem de confessar sua ignorância sobre aquilo que não se sabe. Tal qual está formulado, poder-se-ia traduzi-lo assim:

 

É preciso ter a coragem de conservar a sua ignorância, donde esta consequência: “É inútil procurar saber o que não se sabe”. Sem dúvida há coisas que o homem jamais saberá enquanto estiver na Terra, porque, seja qual for a sua presunção, a Humanidade aqui ainda se acha em estado de adolescência. Mas quem ousaria estabelecer limites absolutos àquilo que pode saber? Já que hoje sabe infinitamente mais que os homens dos tempos primitivos, por que, mais tarde, não saberia mais do que sabe agora? É o que não podem compreender os que não admitem a perpetuidade e a perfectibilidade do ser espiritual. Muitos pensam: Estou no topo da escada intelectual; o que não vejo e não compreendo, ninguém pode ver nem compreender.

No parágrafo narrado acima e relativo ao jornal Livre-consciência, está dito: Também não compreendemos a livre-consciência senão como o livre-pensamento com um limite dogmático previamente assinalado. Quando se declara discípulo da Ciência, é irracional estabelecer como dogma uma crença qualquer, impossível de provar cientificamente. A liberdade assim limitada não é liberdade.

 

Toda a doutrina está nestas palavras: a profissão de fé é clara e categórica. Assim, porque Deus não pode ser demonstrado por uma equação algébrica e a alma não é perceptível com o auxílio de um reativo, é absurdo crer em Deus e na alma. Em consequência, todo discípulo da Ciência deve ser ateu e materialista. Mas, para não sair da materialidade, a Ciência é sempre infalível em suas demonstrações? Não se viu tantas vezes dar como verdades o que mais tarde se reconheceu serem erros e vice-versa? Não foi em nome da Ciência que o sistema de Fulton foi declarado uma quimera? Antes de conhecer a lei da gravitação, não a demonstrou cientificamente que não podia haver antípodas[2]?

Antes de conhecer a da eletricidade, não demonstrou por a + b que não existia velocidade capaz de transmitir um despacho a quinhentas léguas em alguns minutos?

Tinha-se experimentado muito a luz e, no entanto, há poucos anos ainda, quem teria suspeitado os prodígios da fotografia? Contudo, não foram os cientistas oficiais que fizeram essa prodigiosa descoberta, como não fizeram as do telégrafo elétrico, nem das máquinas a vapor. Ainda hoje conhece a Ciência todas as leis da Natureza? Sabe todos os recursos que podem ser tirados das leis conhecidas? Quem ousaria dizê-lo? Não é possível que um dia o conhecimento de novas leis torne a vida extracorpórea tão evidente, tão racional, tão inteligível quanto a dos antípodas? Um tal resultado, pondo termo a todas as incertezas, seria então para desdenhar? Seria menos importante para a Humanidade do que a descoberta de um novo continente, de um novo planeta, de um novo engenho de destruição? Pois bem! Esta hipótese tornou-se realidade; é ao Espiritismo que a devemos, e é graças a ele que tanta gente, que acreditava morrer para sempre, agora está certa de viver sempre.

Falamos da força de gravitação, desta força que rege o Universo, desde o grão de areia até os mundos. Mas, quem a viu? Quem a pôde seguir e analisar? Em que consiste? Qual a sua natureza, sua causa primeira? Ninguém o sabe e, contudo, ninguém hoje dela duvida. Como reconheceram? Por seus efeitos; dos efeitos concluíram a causa. Fez-se mais: calculando a força dos efeitos, calculou-se a força da causa, que jamais foi vista. Dá-se o mesmo com Deus e a vida espiritual, que também se julga por seus efeitos, conforme o axioma:

 

Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa inteligente está na razão da grandeza do efeito.

 

Crer em Deus e na vida espiritual não é, pois, uma crença puramente gratuita, mas o resultado de observações, tão positivas quanto as que fizeram crer na força da gravitação.

Depois, em falta de provas materiais, ou concorrentes a estas, não admite a filosofia as provas morais que, por vezes, têm tanto ou mais valor que as outras? Vós, que não tomais por verdade senão o que está provado materialmente, que diríeis se, sendo injustamente acusado de um crime, cujas aparências fossem todas contra vós, como se vê com frequência na justiça, os juízes não levassem em nenhuma conta as provas morais que vos fossem favoráveis? Não seríeis os primeiros a invocá-las? A fazer valer sua preponderância sobre efeitos puramente materiais, que podem criar uma ilusão? A provar que os sentidos podem iludir o mais clarividente? Se, pois, admitis que as provas morais devem pesar na balança de um julgamento, não seríeis consequentes convosco mesmo negando seu valor quando se trata de formar uma opinião sobre as coisas que, por sua natureza, escapam à materialidade.

Que de mais livre, de mais independente, de menos perceptível por sua própria essência, do que o pensamento? E, contudo, eis uma escola que pretende emancipá-lo, subjugando-o à matéria; que avança, em nome da razão, que o pensamento circunscrito sobre as coisas terrenas é mais livre que a que se atira no infinito e quer ver além do horizonte material! Tanto valeria dizer que o prisioneiro, que só pode dar alguns passos em sua cela, é mais livre que o que corre os campos. Se não sois livre para crer nas coisas do mundo espiritual, que é infinito, o sois cem vezes menos, vós que vos circunscreveis no estreito limite do tangível, que dizeis ao pensamento: Não sairás do círculo que te traçamos; e se dele saíres, declaramos que não és mais pensamento são, mas a loucura, a tolice, o contrassenso, porque só a nós cabe discernir o falso do verdadeiro.

A isto responde o espiritualismo: Nós formamos a imensa maioria dos homens, dos quais sois apenas a milionésima parte. Com que direito vos atribuís o monopólio da razão? Dizeis que quereis emancipar nossas ideias impondo-nos as vossas? Mas não nos ensinais nada; sabemos o que sabeis; cremos sem restrição em tudo que credes: na matéria e no valor das provas tangíveis, e mais que vós: em algo fora da matéria; numa força inteligente, superior à Humanidade; em causas inapreciáveis pelos sentidos, mas perceptíveis pelo pensamento; na perpetuidade da vida espiritual, que limitais à duração da vida do corpo. Nossas ideias são, pois, infinitamente mais largas que as vossas; enquanto circunscreveis vosso ponto de vista, o nosso abarca horizontes sem limites. Como aquele que concentra o pensamento sobre uma determinada ordem de fatos, que põe um ponto de parada em seus movimentos intelectuais, em suas investigações, pode pretender emancipar aquele que se move sem entraves, e cujo pensamento sonda as profundezas do infinito? Restringir o campo de exploração do pensamento é restringir a liberdade, e é o que fazeis.

Dizeis ainda que quereis arrancar o mundo ao jugo das crenças dogmáticas. Fazeis, ao menos, uma distinção entre suas crenças? Não, porque confundis na mesma reprovação tudo quanto não é do domínio exclusivo da Ciência, tudo quanto não se vê pelos olhos do corpo, numa palavra, tudo que é de essência espiritual, por conseguinte Deus, a alma e a vida futura. Mas se toda crença espiritual é um entrave à liberdade de pensar, dá-se o mesmo com toda crença material; aquele que crê que uma coisa é vermelha, porque a vê vermelha, não é livre de julgá-la verde. Desde que o pensamento é detido por uma convicção qualquer, já não é livre. Para ser consequente com a vossa teoria, a liberdade absoluta consistiria em nada crer, nem mesmo em sua própria existência, porque isto seria ainda uma restrição. Mas, então, em que se tornaria o pensamento?

Encarado deste ponto de vista, o livre-pensamento seria um contrassenso. Ele deve ser entendido num sentido mais largo e mais verdadeiro, isto é, do livre uso que se faz da faculdade de pensar, e não de sua aplicação a uma ordem qualquer de ideias. Consiste não em crer numa coisa, em vez de outra, nem em excluir tal ou qual crença, mas na liberdade absoluta da escolha das crenças. É, pois, abusivamente que alguns deles fazem aplicação exclusiva às ideias antiespiritualistas. Toda opinião racional, que não é imposta nem subjugada cegamente à de outrem, mas que é voluntariamente adotada em virtude do exercício do raciocínio pessoal, é um pensamento livre, quer seja religioso, político ou filosófico.

Em sua acepção mais vasta, o livre-pensamento significa: livre-exame, liberdade de consciência, fé raciocinada; simboliza a emancipação intelectual, a independência moral, complemento da independência física; não quer mais escravos do pensamento, pois o que caracteriza o livre-pensador é que este pensa por si mesmo, e não pelos outros; em outros termos, sua opinião lhe é própria. Assim, pode haver livres-pensadores em todas as opiniões e em todas as crenças. Neste sentido, o livre-pensamento eleva a dignidade do homem, dele fazendo um ser ativo, inteligente, em vez de uma máquina de crer.

No sentido exclusivo que alguns lhe dão, em vez de emancipar o espírito, restringe a sua atividade, fazendo-o escravo da matéria. Os fanáticos da incredulidade fazem num sentido o que os fanáticos da fé cega fazem em outro. Então estes dizem: Para ser segundo Deus é preciso crer em tudo o que cremos; fora de nossa fé não há salvação. Os outros dizem: Para ser segundo a razão, é preciso pensar como nós, não crer senão no que cremos; fora dos limites que traçamos à crença, não há liberdade, nem bom-senso, doutrina que se formula por este paradoxo: Vosso espírito só é livre com a condição de não crer no que quer, o que significa para o indivíduo: Tu és o mais livre de todos os homens, desde que não vás mais longe do que a ponta da corda à qual te amarramos.

Certamente não contestamos aos incrédulos o direito de não crer em coisa alguma além da matéria; mas hão de convir que há singulares contradições na sua pretensão em se atribuir o monopólio da liberdade de pensar.

Dissemos que pela qualidade do livre-pensador, certas pessoas procuram atenuar o que a incredulidade absoluta tem de repulsivo para a opinião das massas. Com efeito, suponhamos que um jornal se intitule abertamente: O Ateu, O Incrédulo, O Materialista; pode-se julgar da impressão que este título deixaria no público. Mas se abrigar as mesmas doutrinas sob a capa de Livre-pensador, dirão a esta insígnia: É a bandeira da emancipação moral; deve ser a da liberdade de consciência e, sobretudo, da tolerância. Vejamos. Vê-se que nem sempre é preciso reportar-se à etiqueta.

Aliás, seria erro aterrorizar-se além da medida com as consequências de certas doutrinas; momentaneamente podem seduzir certos indivíduos, mas jamais seduzirão as massas, que a elas se opõem por instinto e por necessidade. É útil que todos os sistemas venham à luz, a fim de que cada um possa julgar o lado forte e o fraco e, em virtude do direito de livre-exame, possa adotá-los ou rejeitá-los com conhecimento de causa. Quando as utopias tiverem sido vistas em ação e quando tiverem provado a sua impotência, cairão para não mais se erguer. Por seu próprio exagero, agitam a sociedade e preparam a renovação. Ainda nisto está o sinal dos tempos.

O Espiritismo é, como pensam alguns, uma nova fé cega, que substituiu outra fé cega? Em outras palavras, uma nova escravidão do pensamento sob nova forma? Para crê-lo, é preciso ignorar os seus primeiros elementos. Com efeito, o Espiritismo estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender. Ora, para compreender é necessário que se faça uso do raciocínio; eis por que ele procura dar-se conta de tudo antes de admitir alguma coisa, a saber, o porquê e o como de cada coisa. É por isso que os espíritas são mais cépticos do que muitos outros, em relação aos fenômenos que escapam do círculo das observações habituais. Não se baseia em nenhuma teoria preconcebida ou hipotética, mas na experiência e na observação dos fatos; em vez de dizer: “Crede primeiro, e depois compreendereis, se puderdes”, diz: “Compreendei primeiro, e depois acreditareis, se quiserdes”. Não se impõe a ninguém; diz a todos: “Vede, observai, comparai e vinde a nós livremente, se isto vos convém”. Falando assim, ele entra com grande chance no número dos concorrentes. Se muitos vão a ele, é porque satisfaz a muitos, mas ninguém o aceita de olhos fechados. Aos que não o aceitam, ele diz: “Sois livres e não vos quero; tudo o que vos peço é que me deixeis minha liberdade, como vos deixo a vossa. Se procurais me excluir, temendo que vos suplante, é que não estais muito seguros de vós”.

Não procurando o Espiritismo afastar nenhum dos concorrentes na liça aberta às ideias que devem prevalecer no mundo regenerado, está nas condições do verdadeiro livre-pensamento; não admitindo nenhuma teoria que não seja fundada na observação, está, ao mesmo tempo, nas do mais rigoroso positivismo; enfim, tem sobre seus adversários das duas extremadas opiniões contrárias, a vantagem da tolerância.

Nota – Algumas pessoas nos censuraram as explicações teóricas que, desde o princípio, temos procurado dar dos fenômenos espíritas. Essas explicações, baseadas numa observação atenta, remontando dos efeitos à causa, provavam, por um lado, que queríamos nos dar conta, e não crer cegamente; por outro lado, que queríamos fazer do Espiritismo uma ciência de raciocínio, e não de credulidade. Por estas explicações, que o tempo desenvolveu, mas que consagrou em princípio, porque nenhuma foi contraditada pela experiência, os espíritas creram porque compreenderam, e não há dúvida de que é a isto que se deve atribuir o aumento rápido do número de adeptos sérios. É a estas explicações que o Espiritismo deve o ter saído do domínio do maravilhoso, e de se ter ligado às ciências positivas; por elas demonstrou aos incrédulos que não é uma obra da imaginação; sem elas ainda estaríamos por compreender os fenômenos que surgem diariamente. Era urgente estabelecer o Espiritismo, desde o começo, no seu verdadeiro terreno. A teoria fundada sobre a experiência foi o freio que impediu a incredulidade supersticiosa, tanto quanto a malevolência, de desviá-lo de sua rota. Por que os que nos censuram por havermos tomado esta iniciativa, não a tomaram eles mesmos?



[1] Revista Espírita – Fevereiro/1867 – Allan Kardec

[2] Que ou o que constitui o oposto de algo. Contrário.

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