quinta-feira, 18 de março de 2021

DEIXANDO A MATÉRIA[1]

 

Miramez

 

O Espírito se lembra de todas as existências que precederam a que acabou de deixar?

‒ Todo o seu passado se desenrola diante dele, como as etapas de um caminho que o viajante percorreu. Mas, como já dissemos, ele não se lembra de maneira absoluta, de todos os atos, recordando-os apenas na razão da influência que tenham sobre o seu estado presente. Quanto às primeiras existências, as que se podem considerar como a infância do Espírito, perdem-se no vazio e desaparecem na noite do esquecimento.

Questão 308/O Livro dos Espíritos

 

Ao deixar a veste de carne, o Espírito se recorda de alguns fatos do passado ou, por vezes, de outras reencarnações, porém, não são todos os Espíritos que podem recordar: isso acontece somente quando tem utilidade para o seu esclarecimento espiritual.

A reencarnação, tanto quanto a desencarnação, são assistidas por benfeitores espirituais, com capacidade assegurada no amor, para saberem do que precisa o desencarnante, e quais as experiências que deve ter como lições proveitosas para a sua paz.

O Espírito evoluído, como dissemos, aciona a sua vontade, quando necessário, vai ao passado, quando esse lhe é útil, e recorda vida e vidas, no afã de buscar o que deve ser feito no porvir.

A reencarnação é uma lei natural em todos os mundos habitados, como sendo trocas de ambientes, no sentido de o Espírito renovar-se, aceitando e vivendo os preceitos de Jesus Cristo.

Mesmo aqueles que precisam recordar o passado não o fazem de maneira absoluta. Para exemplo, vamos lembrar um ditado popular que assim diz: “Para quem sabe ler, um pingo é letra”.  Para que um Espírito evoluído vai gastar tempo em se lembrar de todas as particularidades de vidas passadas? Somente os principais fatos lhe interessam. Há muitas e muitas existências que deve elidir[2], por não haver necessidade de tais lembranças e ele deixa que elas se percam nas noites do esquecimento, como relata O Livro dos Espíritos.

O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é uma universidade no presente. Conhecendo-o e praticando as suas lições de luz, pouco vale a recordação do passado; interessa andar para frente, sob a inspiração do Mestre. Existe nos conceitos de Jesus uma fonte eterna, que cura todos os males, que ensina todas as ciências, que se chama Amor.

Procuremos pensar no amor e descobrir aquele que o Cristo ensinou e viveu que nele e por ele os dons desabrocharão como flor de luz, a nos mostrar todos os caminhos para a felicidade. A Doutrina Espírita vem fazer o homem se lembrar da necessidade de descobrir a si mesmo, e procurar viver na cidade do coração.

O que devemos fazer é não nos perturbarmos no momento de deixar as vestes carnais, porque é realmente uma troca de vestes, qual se faz quando encarnado, com as vestes de tecido. Mas, verdadeiramente, somente o amor pode nos dar segurança nos momentos de trocar essas vestes pelas vestes espirituais.

Entreguemos a Deus o que deve vir em nosso socorro. Ele sabe se precisamos de recordações do passado, e como nos entregá-las com docilidade, como sendo lições de luz para os nossos caminhos de trevas. Forçar a natureza que desconhecemos é impulso da ignorância. Devemos postergar tais atitudes, favorecendo, assim, as mãos divinas para nos guiar com segurança. A curiosidade de recordações pode nos vedar a esperança do porvir. Deixemos nascer o Cristo em nós pelo amor, que seremos salvos de todas as investidas dos desacertos.

 

Vide: A Morte de Dimas



[1] Filosofia Espírita – Volume 7 – João Nunes Maia

[2] Omitir, suprimir.

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