Allan Kardec
(Vide
o artigo do mês anterior sobre o zuavo curador)
Antes de mais, devemos fazer
algumas retificações em nosso relatório das curas do Sr. Jacob. Sabemos por
este último que a cura da menina, chegada a Ferté-sous-Jouarre, não se deu em
praça pública; é certo que foi lá que o Sr. Jacob a viu, mas a cura ocorreu em
casa de seus pais, onde ele a fez entrar. Isto em nada altera o resultado; mas
esta circunstância dá à ação um caráter menos excêntrico.
Por seu lado, o Sr. Boivinet nos
escreve:
A respeito da
proporção dos doentes curados, eu quis dizer que sobre 4.000, um quarto não
experimentou resultados, e que do resto, ou 3.000, um quarto foi curado e três
quartos aliviados. De uma outra passagem do artigo poder-se-ia pensar que eu
tenha atestado a cura de membros anquilosados; eu quis dizer que o Sr. Jacob
tinha endireitado membros enrijecidos, rígidos como se estivessem anquilosados,
nada mais, o que não quer dizer que ele não tenha curado anquiloses; apenas o
ignoro. Quanto aos membros enrijecidos por dores, paralisando em parte a
faculdade do movimento, constatei em último lugar três casos de cura
instantânea; no dia seguinte um dos doentes estava completamente curado; o
outro tinha liberdade de movimento, persistindo uma dor residual com a qual,
dizia-me ele, acomodar-se-ia para sempre de boa vontade. Não revi o terceiro doente.
Teria sido deveras surpreendente
que o diabo não tivesse vindo meter-se neste negócio. Outra pessoa nos escreve
de uma das localidades onde se espalhou o ruído das curas do Sr.Jacob:
Aqui, grande emoção
na comuna e no presbitério. A serva do Sr.cura, tendo encontrado duas vezes o
Sr. Jacob na única rua da região, está convicta de que ele é o diabo e que a
persegue. A pobre mulher refugiou-se numa casa onde quase teve um ataque de
nervos. É verdade que o traje vermelho do zuavo pode tê-la feito crer que ele
saía do inferno. Parece que se prepara aqui uma cruzada contra o diabo, para
dissuadir os doentes de se fazerem curar por ele.
Quem pôde meter na cabeça dessa
mulher que o Sr.Jacob é o diabo em pessoa e que as curas são uma velhacaria de
sua parte? Não disseram aos pobres de certa cidade que não deviam receber o pão
e as esmolas dos espíritas, porque era uma sedução de Satã? E, alhures, que
mais valia ser ateu do que voltar a Deus pela influência do Espiritismo, porque
ainda aí era uma astúcia do demônio? Em todo o caso, atribuindo tantas coisas
boas ao diabo, fazem tudo o que é necessário para reabilitá-lo na opinião. O
que é mais estranho é que de semelhantes ideias ainda se alimentem populações a
algumas léguas de Paris. Assim, que reação quando a luz se fizer nos cérebros
fanatizados! É preciso convir que há gente muito desajeitada.
Voltemos ao nosso assunto: as
considerações gerais sobre a mediunidade curadora.
Dissemos, e nunca seria demais
repetir, que há uma diferença radical entre os médiuns curadores e os que obtêm
prescrições médicas da parte dos Espíritos. Estes não diferem em nada dos
médiuns escreventes ordinários, a não ser pela especialidade das comunicações.
Os primeiros curam só pela ação fluídica, em mais ou menos tempo, às vezes
instantaneamente, sem o emprego de qualquer remédio. O poder curativo está todo
inteiro no fluido depurado a que servem de condutores. A teoria deste fenômeno
foi suficientemente explicada para provar que entra na ordem das leis naturais,
e que nada tem de miraculoso. É o produto de uma aptidão especial, tão
independente da vontade quanto todas as outras faculdades mediúnicas; não é um
talento que se possa adquirir; não se faz um médium curador como se faz um
médico.
A aptidão para curar é inerente
ao médium, mas o exercício da faculdade não tem lugar senão com o concurso dos
Espíritos; donde se segue que se os Espíritos não querem, ou não querem mais se
servir dele, é como um instrumento sem músico, e nada obtém.
Pode, pois, perder
instantaneamente a sua faculdade, o que exclui a possibilidade de dela fazer
uma profissão.
Outro ponto a considerar, é que
sendo esta faculdade fundada em leis naturais, tem limites traçados por essas
mesmas leis. Compreende-se que a ação fluídica possa dar sensibilidade a um órgão
existente, fazer dissolver e desaparecer um obstáculo ao movimento e à
percepção, cicatrizar uma ferida, porque, então, o fluido se torna um
verdadeiro agente terapêutico; mas é evidente que não pode remediar a ausência
ou a destruição de um órgão, o que seria verdadeiro milagre. Assim, a vista
poderá ser restituída a um cego por amaurose[2],
oftalmia[3],
belida[4]
ou catarata, mas não aos que tiverem os olhos furados. Há, pois, doenças
incuráveis por natureza, e seria ilusão crer que a mediunidade curadora fosse
livrar a Humanidade de todas as suas enfermidades.
Além disso, é preciso levar em
conta a variedade de nuanças apresentada por esta faculdade, que está longe de
ser uniforme em todos que a possuem. Ela se apresenta sob aspectos muito
diversos. Em razão do grau de desenvolvimento do poder, a ação é mais ou menos
rápida, extensa ou circunscrita. Em dadas circunstâncias, tal médium triunfa
sobre determinadas doenças em certas pessoas, mas falha por completo em casos
aparentemente idênticos. Parece mesmo que nalguns a faculdade curadora se estende
aos animais.
Neste fenômeno se opera uma
verdadeira reação química, análoga à produzida pelos medicamentos. Atuando o fluido
como agente terapêutico, sua ação varia segundo as propriedades que recebe das qualidades
do fluido pessoal do médium. Ora, em razão do temperamento e da constituição
deste último, o fluido está impregnado de elementos diversos, que lhe dão
propriedades especiais. Pode ser, para nos servirmos de comparações materiais,
mais ou menos carregado de eletricidade animal, de princípios ácidos ou
alcalinos, ferruginosos, sulfurosos, dissolventes, adstringentes, cáusticos,
etc. Daí resulta uma ação diferente, conforme a natureza da desordem orgânica;
esta ação pode, pois, ser enérgica, muito poderosa em certos casos e nula em outros.
É assim que os médiuns curadores podem ter especialidades: este curará as dores
ou endireitará um membro, mas não dará a vista a um cego, e reciprocamente. Só
a experiência pode dar a conhecer a especialidade e a extensão da aptidão; mas,
em princípio, pode-se dizer que não há médiuns curadores universais, em virtude
de não haver homens perfeitos na Terra, e cujo poder seja ilimitado.
A ação é completamente diferente
na obsessão, e a faculdade de curar não implica na de libertar os obsidiados. O
fluido curador age, de certo modo, materialmente sobre os órgãos afetados, ao
passo que, na obsessão, é preciso agir moralmente sobre o Espírito obsessor; há
que se ter autoridade sobre ele, para fazê-lo largar a presa. São, pois, duas
aptidões distintas, que nem sempre se encontram na mesma pessoa. O concurso do
fluido curador torna-se necessário quando, o que é bastante frequente, a obsessão
se complica com afecções orgânicas. Pode, pois, haver médiuns curadores
impotentes para a obsessão, e reciprocamente.
A mediunidade curadora não vem
suplantar a Medicina e os médicos; vem, simplesmente, provar a estes últimos
que há coisas que eles não sabem e os convidar a estudá-las; que a Natureza tem
leis e recursos que eles ignoram; que o elemento espiritual, que eles
desconhecem, não é uma quimera e que, quando o levarem em conta, abrirão novos
horizontes à Ciência e triunfarão mais amiúde do que agora. Se esta faculdade
fosse privilégio de um indivíduo, passaria despercebida; considerá-la-iam como
uma exceção, um efeito do acaso, esta suprema explicação que nada explica, e a
má vontade poderia facilmente abafar a verdade. Mas quando virem os fatos se
multiplicando, serão forçados a reconhecer que não se podem produzir senão em virtude
de uma lei; que se homens ignorantes levam a melhor onde os sábios fracassam, é
que estes não sabem tudo. Isto em nada prejudica a Ciência, que será sempre a
alavanca e a resultante do progresso intelectual. Só o amor-próprio dos que a
circunscrevem nos limites de seu saber e da materialidade pode sofrer com isto.
De todas as faculdades
mediúnicas, a mediunidade curadora vulgarizada é a que está chamada a produzir
mais sensações, porque em toda parte há doentes, e em grande número, e não é a
curiosidade que os atrai, mas a necessidade imperiosa de alívio. Mais que
qualquer outra, ela triunfará sobre a incredulidade, tanto quanto sobre o
fanatismo, que vê em toda parte a intervenção do diabo. A multiplicidade dos
fatos forçosamente conduzirá ao estudo da causa natural e, daí, à destruição
das ideias supersticiosas de feitiçaria, de poder oculto, de amuletos, etc. Se
se considerar o efeito produzido nos arredores do campo de Châlons por um só indivíduo,
a multidão de pessoas sofredoras vindas num raio de dez léguas, pode julgar-se
o que isto seria se dez, vinte, cem indivíduos aparecessem nas mesmas
condições, quer na França, quer em países estrangeiros. Se disserdes a esses
doentes que são joguete de uma ilusão, eles vos responderão mostrando a perna
endireitada; que são vítimas de charlatães? Dirão que nada pagaram e que não lhe
venderam nenhuma droga; que abusaram de sua confiança? Dirão que nada lhe
prometeram.
É também a faculdade que mais
escapa à acusação de charlatanice e de fraude; afronta a zombaria, porque nada
há de risível num doente curado que a Ciência havia abandonado. O charlatanismo
pode simular mais ou menos grosseiramente a maioria dos efeitos mediúnicos, e a
incredulidade nele sempre procura os seus cordões[5].24
Mas onde encontrará os cordões da mediunidade curadora? Podem ser dados golpes
de habilidade para os efeitos mediúnicos, e os efeitos mais reais, aos olhos de
certa gente, podem passar por golpes de mestre, mas que daria quem tomasse
indevidamente a qualidade de médium curador? De duas, uma: cura ou não cura.
Não há simulacro que possa suprir uma cura.
Ademais, a mediunidade curadora
escapa completamente à lei sobre o exercício ilegal da Medicina, visto não
prescrever nenhum tratamento. Com que penalidade se poderia atingir aquele que
cura somente pela sua influência, secundada pela prece que, além disso, nada
pede como preço de seus serviços? Ora, a prece não é uma substância
farmacêutica. Em vossa opinião é uma parvoíce; seja. Mas se a cura está no fim
dessa tolice, que direis vós?
Uma tolice que cura vale bem os
remédios que não curam.
Puderam proibir o Sr. Jacob de
receber doentes no campo e de ir à casa deles, e ele se submeteu dizendo que só
retomaria o exercício de sua faculdade quando a interdição fosse levantada
oficialmente, porque, sendo militar, quis mostrar-se escrupuloso observador da disciplina,
por mais dura que fosse. Nisto agiu sabiamente, pois provou que o Espiritismo
não leva à insubordinação; mas aqui é um caso excepcional. Desde que esta
faculdade não é privilégio de um indivíduo, por que meio poderiam impedi-la de
propagar-se? Se ela se propaga, queiram ou não, terão de aceitá-la com todas as
suas consequências.
Como a mediunidade curadora
depende de uma disposição orgânica, muitas pessoas a possuem, ao menos em germe,
mas fica em estado latente por falta de exercício e de desenvolvimento. É uma
faculdade que muitos ambicionam, e com razão. Se todos os que desejam possuí-la
a pedissem com fervor e perseverança pela prece, e com fim exclusivamente
humanitário, é provável que, desse concurso, saísse mais de um verdadeiro médium
curador.
Não é de admirar ver pessoas
favorecidas com esse dom precioso e que, à primeira vista, não parecem dignas
desse favor. É que a assistência dos Espíritos bons é dispensada a todo o mundo,
para abrir a todos a via do bem; mas cessa se não se souber tornar-se digno
dela, melhorando-se. O mesmo se dá com os dons da fortuna, que nem sempre vem
ao mais merecedor; é, então, uma prova para o uso que dela se faz: felizes os
que saírem vitoriosos.
Pela natureza de seus efeitos, a
mediunidade curadora exige imperiosamente o concurso de Espíritos depurados,
que não poderiam ser substituídos por Espíritos inferiores, enquanto há efeitos
mediúnicos para a produção dos quais a elevação dos Espíritos não é uma
condição necessária e que, por esta razão, são obtidos mais ou menos em
qualquer circunstância. Certos Espíritos até, menos escrupulosos que outros
quanto a estas condições, preferem os médiuns em que encontram simpatia. Mas
pela obra se reconhece o obreiro.
Há, pois, para o médium curador
necessidade absoluta de atrair o concurso dos Espíritos superiores, se quiser
conservar e desenvolver sua faculdade, senão, em vez de crescer, ela declina e desaparece
pelo afastamento dos Espíritos bons. A primeira condição para isto é trabalhar
em sua própria depuração, a fim de não alterar os fluidos salutares que está
encarregado de transmitir.
Esta condição não poderia ser
preenchida sem o mais completo desinteresse material e moral. O primeiro é mais
fácil; o segundo é mais raro, porque o orgulho e o egoísmo são os sentimentos
mais difíceis de extirpar e porque várias causas contribuem para os superexcitar
nos médiuns. Desde que um deles se revele com faculdades um pouco
transcendentes – falamos aqui dos médiuns em geral, escreventes, videntes e
outros – é procurado, adulado e alguns sucumbem à tentação da vaidade. Sem
tardança, esquecendo que sem os Espíritos nada seria, considera-se como
indispensável e o único intérprete da verdade; denigre os outros médiuns e se
julga acima de conselhos. O médium que assim se encontra está perdido, porque
os Espíritos se encarregam de lhe provar que podem passar sem ele, fazendo
surgir outros médiuns mais bem assistidos.
Comparando a série das
comunicações de um mesmo médium, pode-se julgar facilmente se ele cresce ou
degenera. Quantos vimos, oh! De todos os gêneros, cair triste e deploravelmente
no terreno escorregadio do orgulho e da vaidade! Pode-se, pois, esperar ver
surgir uma multidão de médiuns curadores. Nesse número, vários deles
permanecerão como frutos secos e se eclipsarão, depois de terem brilhado
passageiramente, enquanto outros continuarão a elevar-se.
Eis um exemplo disto, que há
seis meses nos assinalava um de nossos correspondentes. Num Departamento do
Sul, um médium que se tinha revelado como curador, havia operado várias curas
notáveis e sobre ele repousavam grandes esperanças. Sua faculdade apresentava
particularidades que deram, num grupo, a ideia de fazer um estudo a respeito.
Eis a resposta que obtiveram dos Espíritos, e que nos foi transmitida na
ocasião. Ela pode servir de instrução a todos.
X... realmente
possui a faculdade de médium curador notavelmente desenvolvida. Infelizmente,
como muitos outros, ele exagera muito o seu alcance. É um excelente rapaz,
cheio de boas intenções, mas que um orgulho desmesurado e uma visão extremamente
curta dos homens e das coisas farão periclitar prontamente. Seu poder fluídico,
que é considerável, bem utilizado e secundado pela influência moral, poderia produzir
excelentes resultados. Sabeis por que muitos de seus doentes só experimentam um
bem-estar momentâneo, que desaparece quando ele não mais está lá? É que ele age
somente por sua presença, mas nada deixa ao Espírito para triunfar dos
sofrimentos do corpo.
Quando parte, nada
resta dele, nem mesmo o pensamento que segue o doente, no qual não pensa mais,
ao passo que a ação mental poderia, em sua ausência, continuar a ação direta. Ele
acredita em seu poder fluídico, que é real, mas cuja ação não é persistente,
porque não é corroborada pela influência moral. Quando tem sucesso, fica mais
satisfeito por ser notado do que por ter curado; e, contudo, é sinceramente
desinteressado, pois coraria se recebesse a menor remuneração. Embora não seja
rico, jamais pensou em fazer disto um recurso. O que deseja é que falem dele. Falta-lhe
também a afabilidade de coração, que atrai. Os que vêm a ele ficam chocados por
suas maneiras, que não geram simpatia, resultando uma falta de harmonia que
prejudica a assimilação dos fluidos. Longe de acalmar e apaziguar as más
paixões, ele as excita, crendo fazer o que é preciso para destruí-las, e isto
pela falta de raciocínio. É um instrumento desafinado; por vezes dá sons harmoniosos
e bons, mas o conjunto só pode ser mau, ou, pelo menos, improdutivo. Também não
é útil à causa quanto o poderia; a maior parte das vezes a prejudica, porque,
por seu caráter, faz apreciar muito mal os resultados. É desses que pregam com violência
uma doutrina de doçura e de paz.
– Então pensais que ele perderá o seu poder curador?
– Estou persuadido
disto, a menos que ele entrasse no bom caminho, o que, infelizmente, não o
creio capaz. Os conselhos seriam supérfluos, porque está convicto de saber mais
que todo o mundo. Talvez parecesse escutá-los, mas não os seguiria. Assim,
perde duplamente o benefício de uma excelente faculdade.
O acontecimento justificou a
previsão. Mais tarde soubemos que esse médium, depois de uma série de
insucessos que seu amor-próprio teve de sofrer, tinha renunciado a novas tentativas
de curas.
O poder de curar é independente
da vontade do médium; é um fato constatado pela experiência. O que depende dele
são as qualidades que podem tornar esse poder frutuoso e durável. Essas
qualidades são, sobretudo, o devotamento, a abnegação e a humildade. O egoísmo,
o orgulho e a cupidez são pontos de parada, contra os quais se quebra a mais
bela faculdade.
O verdadeiro médium curador, o
que compreende a santidade de sua missão, é movido pelo único desejo do bem;
não vê no dom que possui senão um meio de tornar-se útil aos semelhantes, e não
um degrau para elevar-se acima dos outros e pôr-se em evidência. É humilde de
coração, isto é, nele a humildade e a modéstia são sinceras, reais, sem
pensamento dissimulado, e não em palavras, que muitas vezes desmentem os atos.
A humildade por vezes é um manto, sob o qual se abriga o orgulho, mas que não poderia
iludir ninguém. Não procura o brilho, nem a fama, nem o ruído de seu nome, nem
a satisfação de sua vaidade; não há, em suas maneiras, nem jactância, nem
bazófia; não exibe as curas que realiza, ao passo que o orgulhoso as enumera
com complacência, muitas vezes as amplifica, e acaba por se convencer de que
fez tudo o que diz.
Feliz pelo bem que faz, não o é
menos pelo que outros podem fazer; não se julgando o primeiro nem o último
capaz, não inveja nem denigre nenhum médium. Para ele, os que possuem a mesma
faculdade são irmãos que concorrem para o mesmo objetivo: ele diz que quanto
mais os houver, maior será o bem.
Sua confiança em suas próprias forças
não vai até a presunção de se julgar infalível e, ainda menos, universal; sabe
que outros podem tanto ou mais que ele; sua fé é mais em Deus do que em si
mesmo, pois sabe que tudo pode por ele, e nada sem ele. Eis por que nada
promete, a não ser sob a reserva da permissão de Deus.
À influência material, junta a
influência moral, auxiliar poderoso que dobra sua força. Por sua palavra
benevolente, encoraja, levanta o moral, faz nascer a esperança e a confiança em
Deus. Já é uma parte da cura, porque é uma consolação que predispõe a receber o
eflúvio benéfico ou, melhor dizendo, o pensamento benevolente que é, por si só,
um eflúvio salutar. Sem a influência moral, o médium só tem em si a ação
fluídica, material e, de certo modo, brutal, insuficiente em muitos casos.
Enfim, para aqueles que possuem
as qualidades do coração, o doente é atraído por uma simpatia que predispõe à assimilação
dos fluidos, enquanto o orgulho e a falta de benevolência chocam e fazem
experimentar um sentimento de repulsa, que paralisa essa assimilação.
Tal é o médium curador estimado
pelos Espíritos bons.
Tal é, também, a medida que pode
servir para julgar o valor intrínseco dos que se revelarem e a extensão dos
serviços que poderão prestar à causa do Espiritismo. Isto não significa que não
se encontrem médiuns senão nestas condições, e que aquele que não reunisse
todas as qualidades não possa momentaneamente prestar serviços parciais, sendo,
pois, um erro o repelir. O mal é para ele, porque, quanto mais se afasta do
modelo, menos pode esperar ver sua faculdade desenvolver-se e mais perto se
acha de seu declínio. Os Espíritos bons só se ligam aos que se mostram dignos
de sua proteção, e a queda do orgulhoso, mais cedo ou mais tarde, é a sua
punição. O desinteresse é incompleto sem o desinteresse moral.
[1] Revista Espírita
– Novembro/1866 – Allan Kardec
[2] Cegueira mais ou menos completa causada pela atrofia
do nervo óptico. = GOTA-SERENA.
[3] Inflamação dos olhos.
[4] Mancha semitransparente ou opaca na córnea, que pode
ser classificada como nefélio (ou nubécula), albugem (ou albugo) ou leucoma,
consoante a espessura e opacidade, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
[em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/belida [consultado em 14-02-2021].
[5] N. do T.: Grifo nosso. Alusão aos cordões “invisíveis”
manipulados pelos irmãos Davenport em suas mágicas, com vistas a simular alguns
fenômenos mediúnicos em suas apresentações teatrais.
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