Orson Peter Carrara
Sabemos bem o que é o
Espiritismo?
Embora lamentável o que se vem
assistindo no movimento espírita – igualmente contagiado por fatores estranhos
à sua genuína proposta, como acontece em tantos segmentos –, é natural que
aconteça, face à imaturidade que ainda nos caracteriza. Muitos já reconhecemos
sua real natureza e seus objetivos, mas seduzidos por interesses e paixões
variadas, ainda nos mostramos incapazes de viver o que sabemos. A essência do
Espiritismo está na caridade em sua ampla configuração, não restrita – é claro
– à doação de bens materiais passageiros, mas sim e especialmente na atenção,
na gentileza, no acolhimento (presente no abraço, no aperto de mão, no estímulo
sincero em favor da felicidade alheia por exemplo), e também na fé e na
esperança que se materializam na postura de retidão, na solidariedade e no
respeito que nos devemos mutuamente, de vez que todos precisamos uns dos
outros. E conforme encontramos no item 292 de O Livro dos Médiuns, o objetivo principal, prioritário, do
Espiritismo está na nossa melhora moral, ou, em outras palavras, nos esforços
que possamos desenvolver na aquisição de virtudes e na superação das más
tendências.
Infelizmente, porém, nos
dividimos, levados por fanatismos momentâneos ou visões distorcidas da
realidade que conseguimos assimilar, iludidos que ainda estamos por posições,
imposições, por ideias ou posturas dispensáveis, pois que incompatíveis com a
moral de Jesus. Será uma ilusão de domínio de consciências alheias, será fruto
do orgulho que ainda nos caracteriza ou da vaidade que se permite cultivar? Não
sei exatamente, cada um descobrirá dentro de si mesmo tais razões, já que só o
tempo nos levará ao amadurecimento que se busca.
Felizmente, porém, por outro
lado, tudo isso é ação humana, bem própria de nossa mediocridade moral, e que
nada tem a ver com a grandeza da Doutrina Espírita. Esta sim, impecável,
inatacável e que recebe os impactos ingratos de todos nós, os espíritas, que
embora reconheçamos devidamente sua grandeza e benefícios em favor da
humanidade, que poderíamos multiplicar continuamente, permitimo-nos contagiar
pela vaidade, pelo egoísmo ou pelo ciúme, e simplesmente iludidos por tolas e
dispensáveis pretensões para quem pretende afirmar-se discípulo de Jesus.
Isso é pessimismo? Não!
Absolutamente! É até um processo natural, bem próprio de aprendizados que nos
amadureçam. Mas grita dentro de nós um apelo ao bom senso, ao discernimento,
virtudes que tão bem caracterizaram a inigualável personalidade de Allan
Kardec. Seja por gratidão à própria vida, ou aos exemplos marcantes de nomes
veneráveis (e quantos não são?!) que abriram os primeiros caminhos e os
mantiveram íntegros. Vamos, pois, rever os caminhos? Já não é hora de nos
mostrarmos coerentes, agindo dentro da ética que aprendemos com o Espiritismo?
Sei que essa reflexão será
ignorada ou desprezada pela maioria – somos assim mesmo, é de nossa natureza,
nunca achar que somos nós os protagonistas de ações em desserviço do
Espiritismo e que isso é culpa dos outros, nunca somos os responsáveis –,
apreciada por outros com reserva e assimilada por minoria muito significativa,
mas isso é secundário. O que é preciso é que se fale. Quem sabe um mínimo
trovão consiga despertar alguns, até o próprio autor, sujeito também a
equívocos de todo tipo, como criatura humana também em lutas.
O lamento, porém, é pela
supervalorização de ações (e aqui é um universo delas) sempre em detrimento do
estudo e da consciência doutrinária – que esclarecem e orientam –, substituindo
prioridades por interesses que estimulam vaidades e supremacias, criando exércitos
que seguem pessoas e não o Espiritismo, quando deveria ser o contrário, face à
nossa condição de criaturas falíveis.
Mas a Lei do Progresso é
determinante. Não há como impedi-la. A vida nos colocará devidamente no lugar
no tempo certo, quando então deveremos rever posturas e reparar os estragos que
causamos com nossas vãs e tolas pretensões. Felizmente, porque nos levará à
maturidade de consciência que estamos tentando construir.
Mas a história pode ser
diferente desde já. Basta o olhar da humildade e da constatação de nossa
própria fragilidade, aprendizes ainda incapazes de domar a si próprios.
Fonte: Centro Espírita Irmão Agostinho
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