Cezar Braga Said - Maio/2020
No novo tempo
Apesar dos perigos
Da força mais bruta
Da noite que assusta
Estamos na luta
Pra sobreviver
(Ivan Lins e Vitor
Martins)
Todos os dias a vida se renova
na Terra, em particularidades que, via de regra, ignoramos.
O sol nasce e se põe sem que
vejamos nisso alguma magia ou beleza.
Flores fenecem e botões se
entreabrem sem nenhum aplauso da nossa parte.
Frutos chegam à nossa mesa sem
nos darmos conta do cheiro, sabor, cor e texturas que possuem. O ar que
inalamos em casa, nas ruas, num bosque, em todos os lugares, entra e sai de
nossos pulmões sem qualquer movimento de gratidão ou louvor ao Criador. Água
que chega em nossas torneiras abastecendo o lar e saciando a nossa sede, é
sorvida com automatismo, e não vemos nisso nenhum encanto no céu, cores se
revezam desde a aurora até o arrebol!
Pássaros cantam nos diversos
caminhos por onde transitamos! Os mares beijam as praias, o planeta abraça os
oceanos e estes abraçam com carinho os continentes! Lagos espelham o céu azul!
Cachoeiras cantam melodias inigualáveis, sonoras e belas! Pequenos córregos e
riachos declamam versos em delicadas poesias. Fontes cristalinas solfejam
acordes! Chuvas amenas ou torrenciais surgem para promover a renovação dos
solos, das plantas, além de operarem modificações positivas nas energias que se
concentram em certos lugares e regiões.
Ventos e tempestades tentam
estabelecer algum diálogo conosco e não vemos nem ouvimos nada… Animais nos
fazem companhia, dotados de sensibilidade e também de uma centelha espiritual,
ajudam a dar sentido aos nossos dias e quando não somos indiferentes a eles,
enxergamos apenas uma iguaria para satisfazer o nosso insaciável apetite.
Seguimos surdos e cegos para
essa linguagem divina, inarticulada e estranha para nós… (assim como pode
parecer este texto também!).
Famílias inteiras fogem de
guerras e regiões áridas, morrem na travessia de oceanos ou mesmo no trajeto de
caminhos difíceis. Muitas sobrevivem em campos para refugiados ou são impedidas
de encontrar acolhimento e vida nova em países fechados em si mesmos. Governos
autocráticos e corruptos locupletam-se com poder, fama e dinheiro, enquanto
milhões morrem sem ter um teto, saneamento básico, escolaridade e um pedaço de
pão. Pessoas são discriminadas por questões sexuais, religiosas, cor da pele,
ideologia, etnia…
Educadores sofridos empreendem
esforços colossais para informar, sensibilizar, conscientizar, educar toda uma
leva de crianças e adolescentes abandonados por políticas públicas sérias e
contínuas. Há uma necessidade de renovação em toda a Humanidade!
A mensagem neste momento é
clara, mas requer sensibilidade, olhos de ver, ouvidos de ouvir, coração para
sentir além de mãos para agir. Temos sido cristãos sem Cristo e esse paradoxo
precisa ser resolvido para que tenhamos uma nova família, uma nova sociedade,
um novo governo, uma nova Humanidade. Mas nada disso será possível sem a
gestação e o parto de um novo ser humano: fraterno, solidário, amoroso, gentil
e educado com os demais seres vegetais, animais e humanos. Um ser que saiba
respeitar, conviver e aprender com as diferenças, sem aceitar injustiças e
indiferenças.
Que a parada desses dias nos
remeta a reflexões mais profundas que aquelas rasas do cotidiano, onde agimos
apenas como consumidores atendendo a necessidades meramente fisiológicas,
importantes e necessárias, mas não suficientes para a construção de um mundo
com mais compartilhamento e menos acumulação, mais cooperação e menos
competição, com mais NÓS e menos EU.
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