Miramez
Pode um Espírito, momentaneamente, revestir-se do
invólucro de uma pessoa viva, quer dizer, introduzir-se num corpo animado e
agir em substituição ao Espírito que nele se encontra encarnado?
‒ O Espírito não
entra num corpo como entras numa casa; ele se assimila a um Espírito encarnado
que tem os seus mesmos defeitos e as suas mesmas qualidades, para agir conjuntamente;
mas é sempre o Espírito encarnado que age como quer sobre a matéria de que está
revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que se acha encarnado, porque
o Espírito e o corpo estão ligados até o tempo marcado para o termo da
existência material.
Questão 473 – O Livro dos Espíritos
Quando julgamos que uma pessoa
se encontra possessa é devido a uma junção das almas em torno do corpo físico,
pela força do mau entendimento das leis espirituais, que regem e sustentam a
própria vida. Entende-se a extensão da ignorância do desencarnado, que pretende
‒ e muitas vezes o consegue ‒ subjugar o encarnado aos seus caprichos, pela sua
presença irradiando ódio, pretendendo, na maioria dos casos, fazer justiça.
Foi para resolver este e outros
problemas que o Mestre deu grande ênfase ao perdão e estimulou o esquecimento
das faltas, procurando abrir caminho para o amor, dentro da mais pura
fraternidade. O conceito de amor com o Cristo cresce na vertical para Deus,
desfaz todas as barreiras que a violência edificou, faz desaparecer o orgulho e
o egoísmo.
A Doutrina dos Espíritos surgiu
por misericórdia de Deus, pelos canais de Nosso Senhor Jesus Cristo,
objetivando levar o homem a entender o Evangelho na sua pureza primitiva,
facilitando a sua vivência pelos homens que desejam conhecer a verdade e ser por
ela libertados.
A possessão é trabalho de muito
tempo que os Espíritos das trevas armam contra quem se encontra nas suas faixas
de paixões inferiores. Para se livrar desse turvamento mental, de quase
inconsciência, o homem deve trabalhar na pureza de seus sentimentos, para
clarear as suas ideias, e modificar a sua vida, copiando, diariamente, a vida
de Jesus. Ele é nosso roteiro, é a nossa vida, é a nossa verdade. Se não
passarmos pelos Seus conceitos de vida, se não respirarmos seu clima de amor,
se não passarmos a amar, dificilmente encontraremos o reino de Deus dentro de
nós.
A possessão se dá quando os
Espíritos malfazejos se identificam com outros, sejam encarnados ou
desencarnados, na altura de suas vivências, criando uma verdadeira calamidade
no nosso mundo interno. Por isso, embora seja muito válido “doutrinar” certas entidades
pela palavra e pelos exemplos, somente nos livraremos de certas companhias espirituais,
consideradas por nós indesejadas, se mudarmos o nosso modo de pensar e de viver.
Se se retirar um Espírito da companhia de alguém, e esse alguém continuar nos
seus trajetos incompatíveis ao amor, a entidade pode voltar, trazendo consigo
outros Espíritos do mesmo naipe espiritual, piorando a situação do encarnado.
Somente se livra de entidades malfeitoras o homem que sai de suas faixas, pois
a lei nos diz com propriedade que os semelhantes atraem os semelhantes.
A possessão não acontece “de um
dia para o outro”; quando se faz notar, já faz tempo que os Espíritos alimentam
as mesmas ideias. Notamos, diariamente, milhares de criaturas em perfeita simbiose
de trevas com trevas, numa troca permanente de magnetismo inferior, daí
surgindo, muitas vezes, variadas enfermidades tanto no corpo físico quanto nos
corpos espirituais que vibram com mais intensidade.
Os nossos pensamentos buscam os
seus iguais onde quer que seja, enviados pela nossa vontade; é o “Batei e
abrir-se-vos-á”, é o “Buscai e achareis”. Certamente que já nascemos no mundo
dos encarnados com certas deficiências psicossomáticas, como é o caso do
sistema nervoso, que nos dias atuais, se mostra, em quase todas as pessoas,
susceptível às alterações; e é por ele que geralmente os Espíritos inimigos se
aproximam, dada a sua sensibilidade, passando a perturbar o encarnado.
O Evangelho Segundo o Espiritismo nos dá o ponto de equilibro
espiritual, através de límpida mensagem do apóstolo Paulo ‒ “Fora da caridade
não há salvação”. É preciso, entretanto, que se entenda o que é caridade, para
consigo e para com o próximo. Devemos cuidar mais de nós mesmos, sem deixar
esses cuidados se cristalizarem em egoísmo ou exaltação da nossa própria
personalidade.
Os possessos são egoístas, por
lei universal, que dá a cada um o que procura. E nós procuramos a possessão
pelos pensamentos, pelas ideias, pelas palavras e certamente, pela vida que
levamos. Se mudarmos por dentro, a vida, por fora, copiará os nossos impulsos íntimos.
O céu e o inferno estão dentro do nosso coração. Acharemos o que procuramos, é
a afirmativa de Jesus. Despertemos para o amor, que esse amor passará a morar
em nós, para a nossa felicidade.
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