quinta-feira, 16 de julho de 2020

POSSESSÃO[1]



Miramez

Pode um Espírito, momentaneamente, revestir-se do invólucro de uma pessoa viva, quer dizer, introduzir-se num corpo animado e agir em substituição ao Espírito que nele se encontra encarnado?
‒ O Espírito não entra num corpo como entras numa casa; ele se assimila a um Espírito encarnado que tem os seus mesmos defeitos e as suas mesmas qualidades, para agir conjuntamente; mas é sempre o Espírito encarnado que age como quer sobre a matéria de que está revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que se acha encarnado, porque o Espírito e o corpo estão ligados até o tempo marcado para o termo da existência material.
Questão 473 – O Livro dos Espíritos

Quando julgamos que uma pessoa se encontra possessa é devido a uma junção das almas em torno do corpo físico, pela força do mau entendimento das leis espirituais, que regem e sustentam a própria vida. Entende-se a extensão da ignorância do desencarnado, que pretende ‒ e muitas vezes o consegue ‒ subjugar o encarnado aos seus caprichos, pela sua presença irradiando ódio, pretendendo, na maioria dos casos, fazer justiça.
Foi para resolver este e outros problemas que o Mestre deu grande ênfase ao perdão e estimulou o esquecimento das faltas, procurando abrir caminho para o amor, dentro da mais pura fraternidade. O conceito de amor com o Cristo cresce na vertical para Deus, desfaz todas as barreiras que a violência edificou, faz desaparecer o orgulho e o egoísmo.
A Doutrina dos Espíritos surgiu por misericórdia de Deus, pelos canais de Nosso Senhor Jesus Cristo, objetivando levar o homem a entender o Evangelho na sua pureza primitiva, facilitando a sua vivência pelos homens que desejam conhecer a verdade e ser por ela libertados.
A possessão é trabalho de muito tempo que os Espíritos das trevas armam contra quem se encontra nas suas faixas de paixões inferiores. Para se livrar desse turvamento mental, de quase inconsciência, o homem deve trabalhar na pureza de seus sentimentos, para clarear as suas ideias, e modificar a sua vida, copiando, diariamente, a vida de Jesus. Ele é nosso roteiro, é a nossa vida, é a nossa verdade. Se não passarmos pelos Seus conceitos de vida, se não respirarmos seu clima de amor, se não passarmos a amar, dificilmente encontraremos o reino de Deus dentro de nós.
A possessão se dá quando os Espíritos malfazejos se identificam com outros, sejam encarnados ou desencarnados, na altura de suas vivências, criando uma verdadeira calamidade no nosso mundo interno. Por isso, embora seja muito válido “doutrinar” certas entidades pela palavra e pelos exemplos, somente nos livraremos de certas companhias espirituais, consideradas por nós indesejadas, se mudarmos o nosso modo de pensar e de viver. Se se retirar um Espírito da companhia de alguém, e esse alguém continuar nos seus trajetos incompatíveis ao amor, a entidade pode voltar, trazendo consigo outros Espíritos do mesmo naipe espiritual, piorando a situação do encarnado. Somente se livra de entidades malfeitoras o homem que sai de suas faixas, pois a lei nos diz com propriedade que os semelhantes atraem os semelhantes.
A possessão não acontece “de um dia para o outro”; quando se faz notar, já faz tempo que os Espíritos alimentam as mesmas ideias. Notamos, diariamente, milhares de criaturas em perfeita simbiose de trevas com trevas, numa troca permanente de magnetismo inferior, daí surgindo, muitas vezes, variadas enfermidades tanto no corpo físico quanto nos corpos espirituais que vibram com mais intensidade.
Os nossos pensamentos buscam os seus iguais onde quer que seja, enviados pela nossa vontade; é o “Batei e abrir-se-vos-á”, é o “Buscai e achareis”. Certamente que já nascemos no mundo dos encarnados com certas deficiências psicossomáticas, como é o caso do sistema nervoso, que nos dias atuais, se mostra, em quase todas as pessoas, susceptível às alterações; e é por ele que geralmente os Espíritos inimigos se aproximam, dada a sua sensibilidade, passando a perturbar o encarnado.
O Evangelho Segundo o Espiritismo nos dá o ponto de equilibro espiritual, através de límpida mensagem do apóstolo Paulo ‒ “Fora da caridade não há salvação”. É preciso, entretanto, que se entenda o que é caridade, para consigo e para com o próximo. Devemos cuidar mais de nós mesmos, sem deixar esses cuidados se cristalizarem em egoísmo ou exaltação da nossa própria personalidade.
Os possessos são egoístas, por lei universal, que dá a cada um o que procura. E nós procuramos a possessão pelos pensamentos, pelas ideias, pelas palavras e certamente, pela vida que levamos. Se mudarmos por dentro, a vida, por fora, copiará os nossos impulsos íntimos. O céu e o inferno estão dentro do nosso coração. Acharemos o que procuramos, é a afirmativa de Jesus. Despertemos para o amor, que esse amor passará a morar em nós, para a nossa felicidade.




[1] Filosofia Espírita – Volume 10 – João Nunes Maia

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