segunda-feira, 8 de junho de 2020

ABIBE ISFER[1]


            

Nasceu em 10 de fevereiro de 1896, na antiga capital federal – Rio de Janeiro. Seus pais Jorge Antonio Isfer e Shaid (Rosa) Antonio Isfer transferiram-se para a terra dos pinheirais, instalando-se, inicialmente, na Rua das Flores, onde hoje funciona a Casa Pernambucana. Por força das circunstâncias, mudaram para o Tietê, interior do Estado, mandando o filho para casa de parente, em Rio Negro (PR), onde fez seus estudos.
Mais tarde, seus pais instalaram-se com casa de comércio em geral, no bairro do Portão (em Curitiba), quando então, servindo o exército, com 20 anos consorciou-se com Dona Ana Elvira Moletta, de cuja união advieram os filhos: Leony Isfer, Lizette Isfer, Alice Isfer, Jorge Laerte Isfer, Lysis Isfer (desencarnado), Luyr Isfer e Lício Isfer. Guarda-livros formado dedicou-se, profissionalmente ao comércio, trabalhando, anteriormente (5 anos) como guarda-livros da Cerâmica Klentz, na Fazendinha e, posteriormente, com seu irmão Manoel Antonio Isfer (Marum) organizou uma cerâmica, na Vila Guaíra, que não obteve sucesso pela má qualidade do barro. Em 1938, então na Rua Voluntários da Pátria, 112, instalou-se com escritório no ramo securitário, atividade que exerceu até seus últimos dias. Foi representante de nove seguradoras, entre as quais a Home Insurance Company, na qual granjeou muita confiança e simpatia. Com membros da família pertenceu a Piratininga Cia. de Seguros Gerais e Cia. de Seguros Aliança Brasileira, com escritório na Praça Zacarias, em Curitiba.
No campo espírita, pode-se afirmar que a curiosidade pelas chamadas, na época, “experiências do corpo”, produzidas por sua esposa e amigas, aproximaram-no do Espiritismo.
Sua amantíssima esposa faleceu em 3 de dezembro de 1936, quando a primogênita completava 18 anos e a caçula contava com 3 anos apenas. Esposo dedicado (40 anos apenas, somava de idade) manteria a fidelidade esponsalícia assumida até o fim da existência terrena, dedicando-se, com extremado carinho e amor, aos filhos queridos, responsabilidades profissionais e à maravilhosa doutrina que abraçou.
Ligou-se à Casa Máter do Espiritismo em terras paranaenses, à qual durante mais de 4 decênios dedicou expressiva parcela de sua laboriosa vida, tendo sido um dos mais entusiastas e assíduos integrantes de seus órgãos diretivos. Companheiro de João Ghignone, Arthur Lins de Vasconcellos, Honório Melo e tantos outros, esteve presente com os mesmos à frente de todas as iniciativas pertinentes no campo doutrinário, em sua extensa rede de sociedades espíritas que lhe são adesas e, principalmente, ligado estreitamente a todas as obras sociais de natureza variada, como albergues noturnos, hospital pisiquiátrico, colégio, creches-lares etc. Foi, praticamente, membro permanente do Conselho Federativo da F.E.P.
Como vice-presidente, companheiro inseparável de João Ghignone em seus 45 anos de presidência, assumiu o primeiro posto em razão do desencarne do velho companheiro, em 8 de junho de 1978, sendo eleito em seguida para o período de fevereiro de 1979 a janeiro de 1981 para a presidência. Findo o mandato passa a integrar o quadro de Presidentes Honorários, ao lado de Arthur Lins de Vasconcellos.
Entretanto, a sua atividade pontificava no campo da mediunidade, mercê do coração totalmente voltado à caridade. Durante mais de 40 anos compareceu, diariamente, a sessões de receituário, passes e curas no velho casarão da F.E.P., hoje tombado como patrimônio histórico e transformado no centro espírita que leva o seu nome, num preito de justíssima gratidão, graças a iniciativa de seus antigos companheiros. Paralelamente, dava assistência mediúnica aos internos do Hospital Psiquiátrico “Bom Retiro”, que a solicitavam; pessoalmente, dirigia e dava assistência paternal com carinho e dedicação inexcedível às meninas do Lar Icléia (aos domingos levava as órfãs a passeio), da mesma forma acompanhava atentamente as creches-lares, orientando as responsáveis pelas mesmas e doando-se às criancinhas. Sua residência estava sempre de portas abertas aos necessitados, não regateava às solicitações de atendimento. Assim como Minas Gerais teve o querido Eurípedes Barsanulfo, o Paraná, o inesquecível Abibe Isfer.
Desencarnou em 9 de abril de 1986.

Abibe Isfer - O Médium da Caridade
No relicário das condições atingidas, de modo meticuloso, pelo espírito, através das tempestades ou das primaveras do seu trânsito pelos ciclos da vida total, deparamos uma a ser considerada sublime.
O desgaste sofrido por esse termo, nos aferimentos nem sempre de escrupulosa dosagem, leva-nos a advertir, de imediato, estar, ele, aplicado sob auréola de emoção toda especial, de convicção reconfortante e de justiça que transcende quaisquer dentre os apanágios a fascinarem as migalhas constitutivas da compleição deste articulista. É, na verdade, condição de tal magnitude a de ser intermediário, intérprete, recorporificação, de quantos ex-viventes já usufruindo o mundo mais além da delimitação tida como a morte.
Ter o Dom da sintonização mediúnica, conseguir funcionar como médium – tal a qualificação espírita – não é, todavia, a gratuidade de uma “graça” advinda de mandão antropomórfico aquinhoando a ou b, num bocejante insuflar recreativo. É conquista do espírito, é fruto de sensibilização alcançada nas trajetórias desta e de outras vidas. Nada tem a ver com os recursos materiais, e é, muito ao contrário, expressão de sutileza, de predisposição, enfim de vitórias imarcescíveis. Surge, persiste, se aprimora, no volume de existirem imanências da própria perfeição maior, ‒ que é a de atributos acima das enganosas características terrenas.
Aliás, a mediunidade é, desde há muitíssimo, um fato respeitável primordial, dentre as inumeráveis outras evidências da verdade espírita. Serve-a toda uma torrente de milhares de obras idôneas, e confirmam-na diuturnas e exuberantes demonstrações. Destas se prevalecem, até em casos de curas importantíssimas, os mesmos que não podem proclamá-la real e benemérita, pois estão ameaçados pela intolerância do fanatismo religioso. Não mais se necessita de doutrinações doutas nem de testemunhos colhidos em variadas origens. É o nítido que se nos apresenta, invulnerável e eficaz. São comuns os impactos comprobatórios e a crônica dos feitos mediúnicos extravasa-se como um dos capítulos mais impressionantes da história da evolução espiritual e científica.
Ocorre, nos nossos tempos, um ajuste de contas, um esplêndido resultado daquelas dúvidas e interrogações surgidas desde quando Kardec, nos meados do século XIX, realizou a codificação das centenas de “mensagens” exaradas por inteligências sediadas no incognoscível. O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho segundo o Espiritismo (1864) e toda uma literatura séria e fundamentada, dele e de outros notáveis autores, são monumentos de sabedoria, desafiando as aragens, os sofismas, as deturpações impelidas inutilmente contra os seus paredões gloriosos. Brilhantes e insuperáveis detentores da cultura perfeita vieram estruturando a chamada III Revelação.
Não deixemos, também, de apurar sentido a respeito das circunstâncias a envolverem o funcionamento da mediunidade, e entre essas, como essenciais desde os primórdios das explanações kardecistas e de todos os outros experimentadores, está indicado o rigoroso cultivo da virtude, da triagem de pensamentos puros, do desapego a vanglorias ou autovalorizações, da total negativa a retribuições pecuniários ou outras, enfim está o calor da misericórdia, baseado com extremos irreversíveis na culminância mais viva do amor, que é a caridade. Essas as linhas mestras da imponderável, mas estupenda sintonia. Falhadas as mesmas, rompe-se a potência do merecimento, impossibilita-se o apoio buscado pelos comunicantes ou guias.
Com essa impoluta moldura, poderão ser insculpidos no geral, os abnegados da comunicabilidade espírita. Em nosso meio, temo-los do mais seguro procedimento. Alcançamos deslumbrar-nos de como se sobrepõem a todas as tragédias desta crosta de expiações. E é de retaliar-nos a afetividade e de alvoroçar o nosso senso de justiça, quando algum desses médiuns é colhido pela fatalidade do desaparecimento físico.
Um deles, tão autêntico e prodigioso como os que mais o sejam ou hajam sido em todo o mundo, deixou-nos a 9 de abril: Abibe Isfer. Dos seus noventa anos completados em fevereiro, durante muito mais de meio século ele os encheu com a prática perfeitíssima, indormida, surpreendente, de uma fé enflorescida do mais irrestrito amor ao próximo. A caridade era a sua flama. Sua naturalidade era a reta em que a exercia. Jamais o viram em posturas de blasonamento, jamais contava dos impossíveis perpetrados. No decorrer de quarenta anos compareceu diariamente a sessões de receituários, passes e curas na Federação Espírita do Paraná, instituição onde foi o irrepreensível companheiro de João Ghignone e de tantos outros líderes. Em sua residência, estava sempre pronto a atender, a qualquer hora do dia ou da noite.
No excelente “Ensaio Histórico da Federação Espírita do Paraná”, concebido em 1982 pelo ex-presidente e jornalista Honório Melo para comemorar o 80º aniversário da entidade, encontramos Abibe Isfer como um dos mais entusiastas e assíduos integrantes dos órgãos diretivos. Desde a década de 40, quando ainda restrita a F.E.P., foi sempre um dos primeiros escolhidos. Com referência ao ano de 1972, assim já podia expressar-se Honório Melo, pois nos últimos vinte anos graças, principalmente, aos legados daquele primoroso cristão, que foi Lins de Vasconcellos (1981-1952), tudo pudera ser feito com maior amplitude:
A administração da F.E.P. com sua grande rede de sociedades espíritas que lhe são federadas e de obras sociais de várias naturezas, como albergue, hospital psiquiátrico, colégio, creches-lares etc., continuou tendo à frente de sua Diretoria o confrade João Ghignone, e como companheiro imediato o confrade Abibe Isfer. Mais além: “com a desencarnação de João Ghignone (1889-1978), presidente durante 45 anos. Abibe Isfer, o infatigável batalhador nos campos administrativos e mediúnicos, passa a ocupar a presidência e, após um período eletivo de fevereiro de 1979 a janeiro de 1981, deixa o comando e passa a integrar o quadro de presidentes honorários, ao lado de Arthur Lins de Vasconcellos.
Cite-se, mais, haver Abibe Isfer sido um fervoroso aficcionado da obra assistencial e educacional do “Lar Icléa” (Depto. da F.E.P.), onde gerações de meninas órfãs tem recebido todos os atendimentos de um verdadeiro ninho doméstico. A elas proporcionava paternais atenções, inclusive no ensino das artes, tendo tido a satisfação de ver uma das ex-alunas fundar uma Academia Musical. Os domingos, Abibe Isfer os dedicava a levar as órfãzinhas a passeio, e todos os intervalos das suas ocupações de agente-de-seguro, ‒ exercidas até o fim da vida – pertenciam a quantos necessitassem dos seus socorros de médium ultrassensível, pois a grandeza moral e a sua inflexível aplicação da doutrina espírita o categorizavam como excelso realizador do Cristianismo.

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