José Carlos Leal
“A necessidade do
trabalho é uma lei natural?” (OLE 674)
Questão 674 /O Livro dos Espíritos
Com esta
pergunta, Allan Kardec abre, em O Livro
dos Espíritos, a discussão sobre trabalho. O espírito responde a esta
questão do seguinte modo:
O
trabalho é uma lei natural, por isso mesmo é uma necessidade e a civilização
obriga o homem a trabalhar mais, porque aumentam as suas necessidades e seus
prazeres.
Examinemos
com mais cuidado esta resposta. Em primeiro lugar, ela diz que, de fato, o
trabalho é uma lei natural. Esta colocação nos causa espécie porque, de um modo
geral, encaramos o trabalho como uma atividade cultural realizada em certos
locais, certas horas e subordinadas a determinadas leis. Entretanto, esta
concepção de trabalho nos parece demasiadamente estreita.
Para se dizer
que o trabalho é uma lei natural, temos que provar que ela pertence à natureza
e não nos parece difícil demonstrar tal coisa. Se não, vejamos: as formigas
trabalham incansavelmente (são inclusive, símbolos do trabalho) para manter os
seus formigueiros organizados; as abelhas, em suas colmeias, fazem o mesmo;
outros insetos trabalham fertilizando as flores; os castores constroem nos
rios, diques de madeira; os pássaros fazem seus ninhos; os grandes predadores
exercem a atividade da caça e assim por diante.
O homem, por
sua vez, muito antes que houvesse a civilização, soube o acicate[2]
da sobrevivência; aprendeu a trabalhar. Foi, em verdade, o trabalho, que tornou
o homem verdadeiramente humano.
Prestemos
atenção, porém, à última parte da resposta onde o espírito fala das relações
entre o trabalho e a civilização. Ali se diz que a civilização, aumentando as
nossas necessidades e ampliando a nossa capacidade de desejar, aumentou também
a nossa necessidade de trabalhar.
Esta é uma
questão muito interessante e rica em ensinamentos. O animal trabalha para
satisfazer as suas necessidades naturais de alimentar-se, agregar-se ou
reproduzir-se; mas o homem cria necessidades artificiais e, por isso, aumenta a
sua força de trabalho para produzir cada vez mais e adquirir coisas
incessantemente.
Com isto, ele
se reduz significativamente, trabalhando para ganhar dinheiro e com o dinheiro,
conseguir coisas que nem sempre lhe são essenciais. Alguns homens mais espertos
ou mais ativos, levam centenas ou mesmo milhares de outros homens a trabalharem
para eles, tornando-se cada vez mais ricos materialmente, enquanto seus
empregados ficam cada vez mais pobres.
Essa é uma
distorção da ideia de trabalho, uma vez em que o ato de trabalhar transforma-se
em suplício para o trabalhador e o faz uma pessoa negativista, que vê o
trabalho como uma maldição e não como uma benção. Os exploradores se esquecem
de que, ao explorarem o trabalho dos outros, perdem o melhor de si mesmos,
chegando ao fim de suas vidas com sólidas contas bancárias, mas inteiramente
vazios e com incrível débito ante a lei de Deus.
Quando o
Espiritismo nos diz que o trabalho é uma lei natural, não está se referindo ao
trabalho alienado ou ao trabalho escravo, mas a uma atividade profundamente
útil ao progresso dos espíritos.
Se não
houvesse o trabalho, mesmo no modelo negativo que ainda o conhecemos, em razão
da pouca evolução do planeta, a vida humana seria demasiadamente pobre. O
trabalho torna o homem ousado e criativo e, quando feito com prazer, é uma
atividade capaz de nos dar felicidade.
Fonte: Correio Espírita
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