Miramez
As faculdades do Espírito se exercem com toda a liberdade,
após a sua união com o corpo?
‒ O exercício das
faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumentos; elas são enfraquecidas
pela grosseria da matéria.
a. De acordo com isso, o envoltório material seria um
obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro opaco
se opõe à livre emissão da luz?
‒ Sim, e bastante
opaco.
Pode-se ainda comparar a
ação da matéria grosseira do corpo sobre o Espírito à de uma água lodosa, que
tira a liberdade de movimentos do corpo nela mergulhado. (Allan Kardec)
Questão 0368/O Livro dos Espíritos
Após a união com o corpo, o
Espírito sente enfraquecidas suas faculdades mais nobres, principalmente quando
os órgãos não correspondem às suas necessidades de exercitá-las no cômputo das
suas obrigações.
Eis porque a variedade de dons é
enorme. Os homens ignoram os valores que possuem no coração, que devem ser
despertados paulatinamente pela força do tempo, em conjunção ao progresso. Cada
corpo com o qual o Espírito se reveste é certo entrave para a alma, mas, é nessas
prisões necessárias que ela desenvolve suas faculdades espirituais. As vestes
dos Espíritos são muitas e elas igualmente despertam seus valores, porque nada
fica inerte na criação de Deus. Tudo cresce para frente e para o alto.
É lógico que o Espírito livre do
fardo físico se encontra mais desembaraçado, de modo que sua inteligência
expande com seus recursos espirituais, e o corpo filtra esse impulso divino
para que haja esforço mais intenso no desabrochamento dos dons espirituais. O
homem ainda é ignorante acerca das funções dos variados corpos que o Espírito
possui. O “vós sois deuses” é motivo de esperança para todos nós. Estamos
sempre alcançando mais além, e com a certeza de alcançar mais, até o infinito.
O Espírito é comandante da
organização fisiológica, quando encarnado, no entanto, é submetido aos diversos
impedimentos, como o homem dentro de um escafandro no seio das águas, cheias de
perigos e, por vezes, agitadas. É como querer ter a mesma liberdade de correr
na floresta como na campina.
O ar é leve e pode se movimentar
nele com agilidade, mas, no lodaçal as dificuldades são bem maiores.
Assim é o corpo de carne. Não podemos
esquecer que, em raros casos, há Espíritos que dominam mais as dificuldades da
matéria e expressam com mais liberdade o que são. O primeiro sinal é o seu
esforço gigantesco no sentido de libertar-se e o outro é a assistência dos Espíritos
superiores, usando as suas faculdades para tal desempenho.
A matéria é sempre um empecilho
para a alma, mas, a essas dificuldades somam muitas oportunidades para que o
trabalhador avance lutando para vencê-las. Não se pode esquecer os grandes
vultos da humanidade; eles usaram muitos meios para se libertarem da opressão da
matéria a fim de manifestarem, mesmo dentro dela, suas qualidades espirituais,
servindo de exemplos para que outros de menor expressão copiassem seus valores.
É para que devemos nos esforçar onde quer que estejamos: observar os valores
morais dos que os possuem, e os meios de adquiri-los, lutando para essa
libertação na conjuntura da nossa intimidade. O preço certamente é alto, mas,
devemos pagá-los sem reclamar: as rejeições que devem surgir nos caminhos.
Desde quando se encontra
reencarnado, o homem deve assumir o que vier ao seu encontro, visto que tem em
Deus a suprema justiça, e nada se encontra fora do lugar. São lições para o seu
próprio bem.
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