quinta-feira, 16 de abril de 2020

UNIÃO COM O CORPO[1]



Miramez

As faculdades do Espírito se exercem com toda a liberdade, após a sua união com o corpo?
‒ O exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumentos; elas são enfraquecidas pela grosseria da matéria.
a. De acordo com isso, o envoltório material seria um obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro opaco se opõe à livre emissão da luz?
‒ Sim, e bastante opaco.
Pode-se ainda comparar a ação da matéria grosseira do corpo sobre o Espírito à de uma água lodosa, que tira a liberdade de movimentos do corpo nela mergulhado. (Allan Kardec)
Questão 0368/O Livro dos Espíritos

Após a união com o corpo, o Espírito sente enfraquecidas suas faculdades mais nobres, principalmente quando os órgãos não correspondem às suas necessidades de exercitá-las no cômputo das suas obrigações.
Eis porque a variedade de dons é enorme. Os homens ignoram os valores que possuem no coração, que devem ser despertados paulatinamente pela força do tempo, em conjunção ao progresso. Cada corpo com o qual o Espírito se reveste é certo entrave para a alma, mas, é nessas prisões necessárias que ela desenvolve suas faculdades espirituais. As vestes dos Espíritos são muitas e elas igualmente despertam seus valores, porque nada fica inerte na criação de Deus. Tudo cresce para frente e para o alto.
É lógico que o Espírito livre do fardo físico se encontra mais desembaraçado, de modo que sua inteligência expande com seus recursos espirituais, e o corpo filtra esse impulso divino para que haja esforço mais intenso no desabrochamento dos dons espirituais. O homem ainda é ignorante acerca das funções dos variados corpos que o Espírito possui. O “vós sois deuses” é motivo de esperança para todos nós. Estamos sempre alcançando mais além, e com a certeza de alcançar mais, até o infinito.
O Espírito é comandante da organização fisiológica, quando encarnado, no entanto, é submetido aos diversos impedimentos, como o homem dentro de um escafandro no seio das águas, cheias de perigos e, por vezes, agitadas. É como querer ter a mesma liberdade de correr na floresta como na campina.
O ar é leve e pode se movimentar nele com agilidade, mas, no lodaçal as dificuldades são bem maiores.
Assim é o corpo de carne. Não podemos esquecer que, em raros casos, há Espíritos que dominam mais as dificuldades da matéria e expressam com mais liberdade o que são. O primeiro sinal é o seu esforço gigantesco no sentido de libertar-se e o outro é a assistência dos Espíritos superiores, usando as suas faculdades para tal desempenho.
A matéria é sempre um empecilho para a alma, mas, a essas dificuldades somam muitas oportunidades para que o trabalhador avance lutando para vencê-las. Não se pode esquecer os grandes vultos da humanidade; eles usaram muitos meios para se libertarem da opressão da matéria a fim de manifestarem, mesmo dentro dela, suas qualidades espirituais, servindo de exemplos para que outros de menor expressão copiassem seus valores. É para que devemos nos esforçar onde quer que estejamos: observar os valores morais dos que os possuem, e os meios de adquiri-los, lutando para essa libertação na conjuntura da nossa intimidade. O preço certamente é alto, mas, devemos pagá-los sem reclamar: as rejeições que devem surgir nos caminhos.
Desde quando se encontra reencarnado, o homem deve assumir o que vier ao seu encontro, visto que tem em Deus a suprema justiça, e nada se encontra fora do lugar. São lições para o seu próprio bem.




[1] Filosofia Espírita – Volume 8 – João Nunes Maia

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