Com informações da Universidade do Colorado - 09/03/2020
Planeta água
Os humanos ainda não estavam lá,
como no filme “Waterworld”, mas, 3,2 bilhões de anos atrás, a Terra pode ter
sido um "mundo da água", com tudo o que formou seus atuais
continentes submerso sob um oceano global.
É o que defendem dois geólogos
depois de analisarem dados de isótopos de oxigênio da antiga crosta oceânica
que ficou exposta em terra na Austrália.
E isso pode ter grandes
implicações sobre o estudo da origem da vida no nosso planeta, uma vez que as
datações indicam que a vida pode ter-se originado antes dessa época, logo,
antes da emergência dos continentes. Conforme escreveram Benjamin Johnson
(Universidade Estadual de Iowa) e Boswell Wing (Universidade do Colorado
Boulder):
Uma Terra primitiva
sem continentes protuberantes pode ter-se assemelhado a um “mundo de águas”,
fornecendo uma restrição ambiental importante sobre a origem e evolução da vida
na Terra, bem como sua possível existência em outros lugares.
Isótopos de oxigênio
O trabalho começou com uma
amostra de crosta oceânica bem preservada, de 3,2 bilhões de anos ‒ do éon
arqueano, que vai de 4 bilhões a 2,5 bilhões de anos atrás ‒ encontrada em uma
parte remota do estado da Austrália Ocidental. Estudos anteriores já feitos no
mesmo local ajudaram porque isso significa que já havia uma grande biblioteca
de dados geoquímicos da localidade.
Depois de coletar suas próprias
amostras de rochas e compará-las com a biblioteca de dados existentes, a dupla
criou uma grade de seção transversal dos isótopos de oxigênio e dos valores de
temperatura registrados nas rochas.
Isótopos são átomos de um
elemento químico com o mesmo número de prótons dentro do núcleo, mas números
diferentes de nêutrons. Neste caso, as diferenças nos isótopos de oxigênio
preservados com as rochas antigas fornecem pistas sobre a interação das rochas
e da água bilhões de anos atrás.
De posse das grades
bidimensionais baseadas em dados de rochas inteiras, os geólogos criaram um
modelo inverso para chegar a estimativas dos isótopos de oxigênio nos oceanos
antigos.
O resultado indica que a água do
mar naquela época era enriquecida com cerca de 4 partes por mil a mais de um
isótopo pesado de oxigênio (O18, um oxigênio com oito prótons e 10 nêutrons) do
que um oceano sem gelo de hoje.
Ciclo da água na
Terra
Johnson e Wing sugerem duas
maneiras possíveis de explicar essa diminuição de isótopos pesados ao longo do
tempo: o ciclo da água através da antiga crosta oceânica era diferente da água
do mar de hoje, com muito mais interações de alta temperatura que poderiam
enriquecer o oceano com os isótopos pesados de oxigênio; ou, o processo cíclico
da água a partir de rochas continentais poderia ter reduzido a porcentagem de
isótopos pesados na água do oceano.
A ideia de que a água circulando
pela crosta oceânica de uma maneira distinta de como acontece hoje, causando a
diferença na composição isotópica "não é sustentada pelas rochas. A seção
de crosta oceânica de 3,2 bilhões de anos que estudamos se parece exatamente
com uma crosta oceânica muito mais jovem", disse Johnson.
"Nossa hipótese preferida ‒
e de certa forma a mais simples ‒ é que o intemperismo continental da Terra
começou em algum momento depois de 3,2 bilhões de anos atrás e começou a
reduzir a quantidade de isótopos pesados no oceano", acrescentou o
geólogo.
Modelos como esse, que terão que
ser validados por amostras coletadas em outros locais, são importantes para
descrever o ambiente em que a vida se originou e evoluiu na Terra: "Sem
continentes e terras acima do nível do mar, o único local para os primeiros
ecossistemas evoluírem seria no oceano," finalizou Johnson.
Bibliografia:
Artigo: Limited Archaean
continental emergence reflected in an early Archaean O-enriched ocean
Autores: Benjamin W.
Johnson, Boswell A. Wing
Revista:
Nature Geoscience
Vol.: 13,
pages 243-248
DOI:
10.1038/s41561-020-0538-9
Nenhum comentário:
Postar um comentário