Simoni Privato Goidanich
1) A mediunidade faz
parte da vida
Médiuns somos todos, em maior ou em menor medida [1].
Inclusive as pessoas que não acreditam na existência dos Espíritos podem ser
influenciadas por eles [2]. Estudar seriamente a mediunidade é, pois, de
fundamental importância.
É particularmente evidente a importância do estudo sério da
mediunidade por parte dos adeptos do espiritismo, já que este é uma ciência
prática que consiste nas relações que se pode estabelecer com os Espíritos e
uma filosofia que compreende todas as consequências morais que dimanam dessas relações
[3]. Mesmo que o espírita não possua faculdades mediúnicas que hajam produzido,
até o momento, efeitos notórios ou ainda que ele não participe nem venha a
participar de reuniões mediúnicas, é recomendável que estude a mediunidade a
fim de que esteja preparado para lidar com ela em si mesmo, especialmente se
alguma faculdade mediúnica vier a aflorar de maneira ostensiva, e nos demais,
inclusive em situações inesperadas, dentro e fora do centro espírita. De fato,
a mediunidade não se limita às reuniões mediúnicas: faz parte da vida.
2) O necessário alicerce
As obras fundamentais do espiritismo, indicadas no Catálogo
racional das obras que podem servir para fundar uma biblioteca espírita,
resultam dos sérios, prolongados e laboriosos estudos realizados por Allan
Kardec, que compreenderam milhares de observações [4]. Na composição dessas
obras, Allan Kardec contou com elevada assistência espiritual, mas sem qualquer
sinal exterior de mediunidade.
Ao invés de prejudicar, a ausência de mediunidade ostensiva
em Allan Kardec foi altamente benéfica para a composição das obras fundamentais
do espiritismo, conforme ele mesmo explicou:
“Com uma mediunidade
efetiva, eu somente teria escrito sob uma mesma influência. Teria sido levado a
aceitar como verdadeiro apenas o que me tivesse sido comunicado, e isso talvez
sem razão; ao passo que, em minha posição, convinha que eu tivesse liberdade
absoluta para obter o que é bom onde quer que se encontrasse e de onde viesse.
Portanto, tenho podido fazer uma seleção dos diversos ensinamentos, sem
prevenção e com total imparcialidade. Tenho visto muito, estudado muito,
observado muito, mas sempre com um olhar impassível, e nada mais ambiciono
senão ver a experiência que tenho adquirido colocada a benefício de outros, e
estou feliz de poder evitar para eles os escolhos inseparáveis de todo
noviciado” [5].
Sendo assim, em lugar de compor suas obras com parcialidade,
sob uma mesma influência espiritual, Allan Kardec valeu-se de dois critérios: a
lógica e o ensino geral e concordante dos Espíritos.
Tendo em vista a elevada assistência espiritual, bem como a
utilização dos critérios seguros da lógica e da generalidade e concordância no
ensino dos Espíritos no processo de elaboração, as obras fundamentais do
espiritismo, publicadas por Allan Kardec, constituem o necessário alicerce para
a sólida formação doutrinária, inclusive no campo da mediunidade.
3) A diretriz segura
Entre as obras fundamentais do espiritismo, destaca-se, em
matéria de mediunidade, O Livro dos Médiuns
ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores.
Destina-se especialmente não apenas aos médiuns ostensivos, mas a todos que
lidam com os fenômenos mediúnicos.
Já na Introdução, Allan Kardec esclarece que a prática
mediúnica está rodeada de muitas dificuldades e que nem sempre está livre de
inconvenientes, o que somente um estudo sério e completo pode prevenir. Por
conseguinte, o Mestre de Lyon ressalta que não é suficiente um manual prático
sucinto para o estudo e a prática da mediunidade.
O Livro dos Médiuns,
que contém ensinamentos indispensáveis para evitar os escolhos na prática
mediúnica, é a diretriz segura no campo da mediunidade. Tamanha é sua
excelência que substituiu outra obra de Allan Kardec ‒ a Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, um livro sério,
mas que não trata, de maneira completa, das dificuldades na prática mediúnica [6].
4) Não basta receber
a comunicação mediúnica: é indispensável analisá-la
O estudo de O Livro
dos Médiuns esclarece que não é suficiente a facilidade na recepção das
comunicações mediúnicas, o que pode ser obtido em pouco tempo, apenas pelo
hábito. É necessário adquirir experiência, que resulta do estudo sério das
dificuldades que se apresentam na prática mediúnica. A experiência confere ao
médium o tato necessário para apreciar a natureza dos Espíritos que se
manifestam, avaliar as qualidades boas ou más deles mediante os indícios mais
sutis e descobrir o engano dos Espíritos mistificadores que se cobrem com as
aparências da verdade. Sem a experiência, todas as demais qualidades do médium
perdem sua verdadeira utilidade [7].
Não basta receber a comunicação mediúnica: é necessário,
portanto, analisá-la. As obras de Allan Kardec, especialmente O Livro dos Médiuns, contêm o
conhecimento imprescindível para analisar as comunicações mediúnicas segundo os
critérios espíritas. De fato, entre outros temas de máxima importância, O Livro dos Médiuns trata, com maestria,
da identidade dos Espíritos que se comunicam, das mistificações, das obsessões,
da influência do médium e do meio, do charlatanismo e das contradições.
A análise das comunicações mediúnicas é necessária também no
tocante à divulgação do espiritismo. Nem tudo o que comunicam os Espíritos
deveria ser publicado. Existem, entre os Espíritos, diversos graus de saber e
de ignorância, de moralidade e de imoralidade. Há comunicações mediúnicas que
produzem impressões equivocadas sobre o espiritismo; inclusive existem aquelas
que podem induzir a erro as pessoas que não têm o necessário conhecimento doutrinário
[8].
5) Mediunidade e
progresso da humanidade
Quanto mais nos dedicamos a assimilar os ensinamentos
contidos em O Livro dos Médiuns,
melhor compreendemos a fundamental importância do estudo sério da mediunidade,
bem como o papel e a responsabilidade que todos temos, sejamos ou não médiuns
ostensivos, como promotores do progresso espiritual não apenas em nós, mas
também no meio em que vivemos. De fato, a mediunidade não é uma faculdade que
deva servir para o aperfeiçoamento de apenas uma ou duas pessoas. Seu objetivo
é maior: abrange toda a humanidade [9].
Referências:
[1] KARDEC, Allan. Le
livre des médiums, n. 159.
[2] KARDEC,
Allan. Le livre des Esprits, questão 459.
[3] KARDEC,
Allan. Qu-est-ce que le spiritisme? Preambule.
[4] KARDEC,
Allan. Le livre des médiums, n. 34.
[5] KARDEC,
Allan. Revue Spirite - Journal d´Études Psychologiques, nov. de 1861, Réunion
générale des Spirites bordelais - Discours de M. Allan Kardec.
[6] KARDEC,
Allan. Le livre des médiums, Introduction.
[7] KARDEC,
Allan. Le livre des médiums, n. 192.
[8] KARDEC,
Allan. Revue Spirite - Journal d´Études Psychologiques, nov. de 1859, Doit-on
publier tout ce que disent les Esprits?
[9] KARDEC, Allan. Le livre des médiums, n. 226-5.
[2] Artigo publicado na Revista A senda (nov-dez 2019), da
Federação Espírita do Estado do Espírito Santo
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