quinta-feira, 26 de março de 2020

INFÂNCIA DA VIDA[1]


Miramez

Ficou dito que a alma do homem, em sua origem, assemelha-se ao estado de infância da vida corpórea, que a sua inteligência apenas desponta e que ela ensaia para a vida. Onde cumpre o Espírito essa primeira fase?
‒ Numa série de existências que precedem o período que chamais de Humanidade.
a - Parece, assim, que a alma teria sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação?
‒ Não dissemos que tudo se encadeia na Natureza e tende à unidade? É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco, e ensaia para a vida, como dissemos. É, de certa maneira, um trabalho preparatório, como o da germinação, em seguida ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. É então que começa para ele o período de humanidade, e com este a consciência do seu futuro, a distinção do bem e do mal e a responsabilidade dos seus atos. Como depois do período da infância vem o da adolescência, depois a juventude, e por fim a idade madura. Nada há, de resto, nessa origem, que deva humilhar o homem. Os grandes gênios sentem-se humilhados por terem sido fetos informes no ventre materno? Se alguma coisa deve humilhá-los, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para sondar a profundeza de seus desígnios e a sabedoria das leis que regulam a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia que faz a solidariedade de todas as coisas na Natureza. Crer que Deus pudesse ter feito qualquer coisa sem objetivo e criar seres inteligentes sem futuro, seria blasfemar contra a sua bondade, que se estende sobre todas as suas criaturas.
b - Esse período de humanidade começa na Terra?
‒ A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanidade começa, em geral, nos mundos ainda mais inferiores. Essa, entretanto, não é uma regra absoluta e poderia acontecer que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Esse caso não é frequente, e seria antes uma exceção.
Questão 607/O Livro dos Espíritos

O Espírito, quando se humaniza, não fica necessariamente no mundo onde começou a dar seus primeiros passos no reino vegetal e animal. Os mundos que circulam no universo são casas do mesmo Deus, capazes de abrigar multidões de seres que correspondem às suas necessidades espirituais. Troca-se de casas planetárias, como se troca de escolas, quando preciso. Entretanto, muitos ficam onde começaram a despertar.
Nada na vida é estático; as leis têm aberturas diversas para mostrar aos homens estudiosos a grandeza de Deus. Os homens, na sua primeira infância, são como crianças ou talvez piores que muitas dessas, que já carregam bagagem de outras vidas. Deus não tem pressa, mas não pára de operar. Assim deves fazer igualmente: deixar, por onde passares, o traço das coisas boas que já aprendeste.
O animal que rasteja no chão com o perpassar dos milênios, ouvirá dentro de si, quando já preparado, as palavras anotadas por Lucas, no capítulo onze, versículo dez:

Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra e a quem bate abrir-se-á.

A extensão do tempo a que se submete é o pedido de melhoria; os seus movimentos, a busca no silêncio, e as lutas que tem no seu reino, são as batidas nas portas do progresso, para achar a sua melhoria, que vem na mudança de reinos.
Na humanização do animal, ele vai tendo o princípio de consciência do seu futuro. Alguma luz brilha na sua mente, a lhe dizer da esperança em uma vida melhor e a face da infância vai se transformando, qual a da criança do mundo para a adolescência e depois para alcançar a madureza. São processos que regulam todos os reinos da natureza, mas, o grandioso é que todas as coisas caminham para essa vida livre e grandiosa. Assim Deus o quer.
Como já dissemos, a Terra não é o ponto de partida de todas as reencarnações, nem o fim.
Nos mundos onde existem humanidades reencarnadas, processam-se neles as trocas.
Avalanches de entidades periodicamente saem e entram, para engrandecimento das criaturas de Deus. Muitos Espíritos querem descobrir a sua gênese, mas nem sempre lhes é permitido.
Essas verdades vêm com lentidão, de acordo com as necessidades espirituais e a vontade de Deus. Sem a permissão de Deus, nada será feito. Compreende-se, pois, que existe um comando central, nas mãos d'Aquele que tudo criou por amor.
Assim como há Espíritos de alta hierarquia comunicando-se na Terra, há os que ainda não sabem o que fazem; são alunos nos primeiros anos de escola, a quem por vezes, é permitido o intercâmbio, como exercício de aprendizado.
Os Espíritos não devem se sentir humilhados por saberem que vieram do reino animal, pois tal se deu por vontade do Criador, e todos passam pelo mesmo processo para alcançar a inteligência.




[1] Filosofia Espírita – Volume 12 – João Nunes Maia

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