Hugo Lapa - portaldoespiritualismo@gmail.com
De vez em quando surgem
questionamentos nos grupos espiritualistas sobre tal ou tal médium, sobre esse
ou aquele “grande” palestrante espírita. Quando alguém faz uma crítica a um
palestrante ou médium, algumas pessoas ficam melindradas e já reagem com
ataques e críticas. Essas pessoas defendem um palestrante ou um médium com
unhas e dentes, às vezes de forma incondicional e não permitem que seu ídolo
seja objeto de uma análise crítica, seja de sua obra, seja de suas ideias, seja
de sua postura etc. Eu me pergunto se não acabamos criando certos “ídolos” no
Espiritismo, pessoas que não podem ser criticadas, que não podem ser objeto de
debate, que estão acima de qualquer suspeita, que não podem ter sua obra e suas
qualificações analisadas e questionadas com nosso direito à liberdade de
expressão.
Precisamos tomar muito cuidado
com esse personalismo no espiritismo. Não pode existir uma pessoa intocável,
que não pode ser criticada. Ninguém pode jamais estar acima do bem e do mal.
Obviamente precisamos tomar todo o cuidado para não julgar, para não sermos
levianos e rotularmos uma pessoa. Todo rótulo é um limite, todo julgamento é
uma distorção da realidade. Por outro lado, não podemos alimentar em hipótese alguma
a existência de ídolos, alguém do qual ninguém pode tecer comentários, e caso o
faça, surgem dezenas de fãs desse “ídolo” para atacar quem teceu comentários
sobre uma pessoa e sua obra.
Em O Livro dos Espíritos é abordado várias vezes a respeito do valor
da abnegação como ferramenta imprescindível de evolução. Jesus falou muito
sobre a importância da renúncia de si mesmo e da humildade: “Os humildes serão
exaltados”. O próprio Chico Xavier disse que ele não passava de um pezinho de
grama… um cisco… e que as pessoas sempre o elevavam a um patamar que ele mesmo
não julgava merecer. Chico foi muito humilde, foi atacado durante toda a sua
vida e nunca reclamou disso… Jamais pediu aos seus seguidores que o defendessem
desses ataques. Ele nunca pediu, por exemplo, que os espíritas fossem a sede da
revista “O Cruzeiro” para ataca-la pelas reportagens críticas que foram
publicadas contra ele. Não… Chico sempre aceitou todas as críticas e nunca
estimulou o personalismo no Espiritismo. Ele sempre deixou claro que nosso
mestre é Jesus e é ele quem devemos louvar e seguir. No fundo, as pessoas
querem um guru, alguém para seguir, alguém que lhes dê segurança… querem alguém
para se apoiar. No entanto, para a decepção dessas pessoas, não existem gurus
no Espiritismo.
Podemos sim falar da obra de
qualquer palestrante ou escritor espírita de modo crítico, com análises
minuciosas de suas ideias. Não há nenhum problema nisso. É saudável e positivo
que haja debates e troca de ideias, de forma crítica, sobre a obra dos expoentes
do Espiritismo. Espiritismo não tem ídolos, mas tem servidores… tem obreiros
que jamais devem colocar sua própria persona em destaque, ou acima de outras,
como sendo a “mais conhecedora”, a “mais capaz”, a “mais caridosa”. Vaidade e
Espiritismo são duas coisas opostas… O palestrante vaidoso, que se jacta de
suas grandes performances como expositor ou como médium, está em desalinho com
a proposta de humildade que o Espiritismo ensinou desde a sua origem.
Ninguém pode ser acima de
qualquer suspeita… ninguém está acima do bem e do mal. Por outro lado, vamos
lembrar que julgar positivamente também é julgar. Sim… tanto julgar
negativamente quanto positivamente são julgamentos da mesma forma. Se você diz
que uma pessoa é picareta, você a está julgando… e se você diz que uma pessoa é
honesta, íntegra, maravilhosa e iluminada, você também a está julgando, está
julgando positivamente. Tanto o julgamento negativo quanto o julgamento
positivo devem ser evitados. Jesus disse “Não julgueis”. Ele não disse não
julgueis negativamente… ele disse apenas “não julgueis”, isso implica em não
julgar nem negativamente e nem positivamente.
Por isso reafirmamos e isso é
muito importante… Não existe e nem pode existir ninguém que é inquestionável no
espiritismo. Inquestionabilidade existe apenas nas religiões ortodoxas, nas
religiões que são conhecidas por seu dogmatismo ou fundamentalismo… não existe
o dogma da infalibilidade de nenhum autor ou médium espírita. Ninguém deve ser
endeusado jamais. Ninguém deve ser colocado na posição do arauto da fé, do
“mestre do Espiritismo”, do maior divulgador e do maior médium. Todos podem e
devem ser questionados. O Espiritismo não combina com criação de ídolos
intocáveis.
Estamos falando do Espiritismo,
mas isso também serve para o Espiritualismo e para qualquer outra forma de
conhecimento e prática. Eu também não estou, em hipótese alguma, acima de
críticas, ao contrário… faço questão de, todos os dias, postar nas redes
sociais a minha obra para ser analisada e criticada por todos. Sempre procuro
perguntar se as pessoas concordam ou não com as mensagens expostas. As críticas
nos ajudam a fazer revisões dos nossos escritos, de nossas ideias e
aperfeiçoá-las, posto que nada está pronto, nada está fechado, nada jamais está
completo… tudo está em constante progresso. Não existe nenhum espírito evoluído
aqui entre nós… existem apenas espíritos em evolução. Todos nós estamos no
mesmo barco, sofrendo com os mesmos espinhos.
Estamos todos praticamente no
mesmo grau de elevação, e por isso mesmo, ninguém deve ser considerado
infalível, intocável, inquestionável, indispensável, insubstituível etc.
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