sábado, 7 de março de 2020

ESPIRITISMO NÃO PODE TER ÍDOLOS[1]




De vez em quando surgem questionamentos nos grupos espiritualistas sobre tal ou tal médium, sobre esse ou aquele “grande” palestrante espírita. Quando alguém faz uma crítica a um palestrante ou médium, algumas pessoas ficam melindradas e já reagem com ataques e críticas. Essas pessoas defendem um palestrante ou um médium com unhas e dentes, às vezes de forma incondicional e não permitem que seu ídolo seja objeto de uma análise crítica, seja de sua obra, seja de suas ideias, seja de sua postura etc. Eu me pergunto se não acabamos criando certos “ídolos” no Espiritismo, pessoas que não podem ser criticadas, que não podem ser objeto de debate, que estão acima de qualquer suspeita, que não podem ter sua obra e suas qualificações analisadas e questionadas com nosso direito à liberdade de expressão.
Precisamos tomar muito cuidado com esse personalismo no espiritismo. Não pode existir uma pessoa intocável, que não pode ser criticada. Ninguém pode jamais estar acima do bem e do mal. Obviamente precisamos tomar todo o cuidado para não julgar, para não sermos levianos e rotularmos uma pessoa. Todo rótulo é um limite, todo julgamento é uma distorção da realidade. Por outro lado, não podemos alimentar em hipótese alguma a existência de ídolos, alguém do qual ninguém pode tecer comentários, e caso o faça, surgem dezenas de fãs desse “ídolo” para atacar quem teceu comentários sobre uma pessoa e sua obra.
Em O Livro dos Espíritos é abordado várias vezes a respeito do valor da abnegação como ferramenta imprescindível de evolução. Jesus falou muito sobre a importância da renúncia de si mesmo e da humildade: “Os humildes serão exaltados”. O próprio Chico Xavier disse que ele não passava de um pezinho de grama… um cisco… e que as pessoas sempre o elevavam a um patamar que ele mesmo não julgava merecer. Chico foi muito humilde, foi atacado durante toda a sua vida e nunca reclamou disso… Jamais pediu aos seus seguidores que o defendessem desses ataques. Ele nunca pediu, por exemplo, que os espíritas fossem a sede da revista “O Cruzeiro” para ataca-la pelas reportagens críticas que foram publicadas contra ele. Não… Chico sempre aceitou todas as críticas e nunca estimulou o personalismo no Espiritismo. Ele sempre deixou claro que nosso mestre é Jesus e é ele quem devemos louvar e seguir. No fundo, as pessoas querem um guru, alguém para seguir, alguém que lhes dê segurança… querem alguém para se apoiar. No entanto, para a decepção dessas pessoas, não existem gurus no Espiritismo.
Podemos sim falar da obra de qualquer palestrante ou escritor espírita de modo crítico, com análises minuciosas de suas ideias. Não há nenhum problema nisso. É saudável e positivo que haja debates e troca de ideias, de forma crítica, sobre a obra dos expoentes do Espiritismo. Espiritismo não tem ídolos, mas tem servidores… tem obreiros que jamais devem colocar sua própria persona em destaque, ou acima de outras, como sendo a “mais conhecedora”, a “mais capaz”, a “mais caridosa”. Vaidade e Espiritismo são duas coisas opostas… O palestrante vaidoso, que se jacta de suas grandes performances como expositor ou como médium, está em desalinho com a proposta de humildade que o Espiritismo ensinou desde a sua origem.
Ninguém pode ser acima de qualquer suspeita… ninguém está acima do bem e do mal. Por outro lado, vamos lembrar que julgar positivamente também é julgar. Sim… tanto julgar negativamente quanto positivamente são julgamentos da mesma forma. Se você diz que uma pessoa é picareta, você a está julgando… e se você diz que uma pessoa é honesta, íntegra, maravilhosa e iluminada, você também a está julgando, está julgando positivamente. Tanto o julgamento negativo quanto o julgamento positivo devem ser evitados. Jesus disse “Não julgueis”. Ele não disse não julgueis negativamente… ele disse apenas “não julgueis”, isso implica em não julgar nem negativamente e nem positivamente.
Por isso reafirmamos e isso é muito importante… Não existe e nem pode existir ninguém que é inquestionável no espiritismo. Inquestionabilidade existe apenas nas religiões ortodoxas, nas religiões que são conhecidas por seu dogmatismo ou fundamentalismo… não existe o dogma da infalibilidade de nenhum autor ou médium espírita. Ninguém deve ser endeusado jamais. Ninguém deve ser colocado na posição do arauto da fé, do “mestre do Espiritismo”, do maior divulgador e do maior médium. Todos podem e devem ser questionados. O Espiritismo não combina com criação de ídolos intocáveis.
Estamos falando do Espiritismo, mas isso também serve para o Espiritualismo e para qualquer outra forma de conhecimento e prática. Eu também não estou, em hipótese alguma, acima de críticas, ao contrário… faço questão de, todos os dias, postar nas redes sociais a minha obra para ser analisada e criticada por todos. Sempre procuro perguntar se as pessoas concordam ou não com as mensagens expostas. As críticas nos ajudam a fazer revisões dos nossos escritos, de nossas ideias e aperfeiçoá-las, posto que nada está pronto, nada está fechado, nada jamais está completo… tudo está em constante progresso. Não existe nenhum espírito evoluído aqui entre nós… existem apenas espíritos em evolução. Todos nós estamos no mesmo barco, sofrendo com os mesmos espinhos.
Estamos todos praticamente no mesmo grau de elevação, e por isso mesmo, ninguém deve ser considerado infalível, intocável, inquestionável, indispensável, insubstituível etc.

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