Miramez
No caso em que a vida da mãe estivesse em perigo pelo
nascimento da criança, haveria crime em sacrificar
a criança para salvar a mãe?
‒ É preferível
sacrificar o ser que não existe a sacrificar o que existe.
Questão 359/O Livro dos Espíritos
Quando a criança em gestação põe
em perigo a vida da mãe, é preferível que se sacrifique a vida do nascituro,
mesmo que o coração dos pais entre em estado de depressão. A mãe quase sempre
tem mais filhos, que estão sob sua tutela e que precisam da sua assistência com
exemplos de crescimento e de confiança.
Certamente que existem inúmeros
filhos órfãos que não o são da bondade de Deus, que sobrevivem e, em muitos
casos, atingem certa projeção em variadas atividades. No entanto, não seja por
isso que vamos sacrificar a mãe para que nasça uma criança já órfã. O livro dos Espíritos nos recomenda,
quando os Espíritos respondem a pergunta do codificador, de modo claro e sem
retoques:
Preferível é que se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se
o que já existe.
Não é taxativa a resposta;
atentemos para a palavra “preferível”. Essa resposta nos mostra muitos ângulos
da atividade humana, e mesmo espiritual. É preferível um mal menor quando não
se pode livrar dos dois, mas, a Doutrina dos Espíritos nos ajuda na autoeducação,
de modo a nos livrarmos de todo mal, procurando, por todos os meios,
desconhecer os caminhos que possam nos levar à desarmonia da vida. E para
tanto, devemos ser conscientes de todas as leis de Deus que nos cercam e
assistem.
Um dos modos pelo qual dá para
percebermos alguns vínculos de lei conosco é a meditação, que não deve faltar
na nossa vida. Conhecemos seres altamente iluminados que ainda se entregam a
meditação todos os dias. Com esse ato divino, flui para o seu coração, sede dos
sentimentos, a claridade da certeza do que deve ser feito. É o “buscai e
achareis”; é o “batei a abrir-se-vos-á” de Jesus. Nada conquistamos sem o nosso
esforço próprio, como parte de nós, para a paz de consciência.
Irmão em Jesus, quando não
puderes manter a paz plena em teu lar, é preferível a discussão equilibrada do
que desfazer o ninho familiar. Entretanto, esforça-se todos os dias para harmonizar
a casa.
Quando o casal não consegue
viver junto, havendo o risco de uma tragédia no seio sagrado da família, é
melhor apartar-se, porém, nunca deixes de te esforçar para manter a paz no lar.
A preferência, no nosso modo de
entender, ocupa muitos lugares, como os que mencionamos, mas, não guardemos no
coração as preferências, deixando que elas condicionem a nossa vida.
Preferível mesmo é viver no
amor, aquele onde a fraternidade cria o céu interior onde Deus e Cristo possam
habitar, e a consciência nada tenha a dizer ao contrário.
Façamos tudo para não
alimentarmos na nossa vida as ideias de acaulosia[2]
porque é um crime querer desfazer o que Deus fez com amor. A vida pertence ao
Senhor, e Ele colocou Jesus como
vigilante daquilo que é o mais sagrado de todos os dons: a vida.
Quem anda com o Cristo no coração não sacrifica vidas porque desaparece
o preferível.
[1]
Filosofia Espírita – Volume 8 – João Nunes Maia
[2] Acaulosia:
aborto (do talo ou tronco da planta).
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