quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

PREFERÊNCIA[1]



Miramez

No caso em que a vida da mãe estivesse em perigo pelo nascimento da criança, haveria crime em sacrificar a criança para salvar a mãe?
‒ É preferível sacrificar o ser que não existe a sacrificar o que existe.
Questão 359/O Livro dos Espíritos

Quando a criança em gestação põe em perigo a vida da mãe, é preferível que se sacrifique a vida do nascituro, mesmo que o coração dos pais entre em estado de depressão. A mãe quase sempre tem mais filhos, que estão sob sua tutela e que precisam da sua assistência com exemplos de crescimento e de confiança.
Certamente que existem inúmeros filhos órfãos que não o são da bondade de Deus, que sobrevivem e, em muitos casos, atingem certa projeção em variadas atividades. No entanto, não seja por isso que vamos sacrificar a mãe para que nasça uma criança já órfã. O livro dos Espíritos nos recomenda, quando os Espíritos respondem a pergunta do codificador, de modo claro e sem retoques:
Preferível é que se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe.
Não é taxativa a resposta; atentemos para a palavra “preferível”. Essa resposta nos mostra muitos ângulos da atividade humana, e mesmo espiritual. É preferível um mal menor quando não se pode livrar dos dois, mas, a Doutrina dos Espíritos nos ajuda na autoeducação, de modo a nos livrarmos de todo mal, procurando, por todos os meios, desconhecer os caminhos que possam nos levar à desarmonia da vida. E para tanto, devemos ser conscientes de todas as leis de Deus que nos cercam e assistem.
Um dos modos pelo qual dá para percebermos alguns vínculos de lei conosco é a meditação, que não deve faltar na nossa vida. Conhecemos seres altamente iluminados que ainda se entregam a meditação todos os dias. Com esse ato divino, flui para o seu coração, sede dos sentimentos, a claridade da certeza do que deve ser feito. É o “buscai e achareis”; é o “batei a abrir-se-vos-á” de Jesus. Nada conquistamos sem o nosso esforço próprio, como parte de nós, para a paz de consciência.
Irmão em Jesus, quando não puderes manter a paz plena em teu lar, é preferível a discussão equilibrada do que desfazer o ninho familiar. Entretanto, esforça-se todos os dias para harmonizar a casa.
Quando o casal não consegue viver junto, havendo o risco de uma tragédia no seio sagrado da família, é melhor apartar-se, porém, nunca deixes de te esforçar para manter a paz no lar.
A preferência, no nosso modo de entender, ocupa muitos lugares, como os que mencionamos, mas, não guardemos no coração as preferências, deixando que elas condicionem a nossa vida.
Preferível mesmo é viver no amor, aquele onde a fraternidade cria o céu interior onde Deus e Cristo possam habitar, e a consciência nada tenha a dizer ao contrário.
Façamos tudo para não alimentarmos na nossa vida as ideias de acaulosia[2] porque é um crime querer desfazer o que Deus fez com amor. A vida pertence ao Senhor, e Ele colocou Jesus  como vigilante daquilo que é o mais sagrado de todos os dons: a vida.
Quem anda com o Cristo no coração não sacrifica vidas porque desaparece o preferível.




[1] Filosofia Espírita – Volume 8 – João Nunes Maia
[2] Acaulosia: aborto (do talo ou tronco da planta).

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